Hugo Navarro da Silva |
Lamenta, o jornalista Dimas Oliveira, que o blog do Parque
da Cidade esteja esquecido há doze meses (sem renovar a programação), lamentando,
também, que o Parque tenha sido abandonado pelo governo que no primeiro dia do Ano Novo
terá o mandato encerrado.
O abandono do Parque, que leva o nome de Frei Monteiro, tem
sido, encorreado a outros de igual tamanho, apontado como um dos maiores
pecados da administração que chega ao
fim, com julgamento de poucos gabos e muitas arguições, como alguém que deixa
avenidas de “esperanças fechadas e escuras”
a que a desgraça insistiu em acrescentar
obséquios.
O Parque da Cidade é velha reivindicação defendida por nós,
que pregamos, como Santo Antônio aos peixes, durante anos, a necessidade de se
criar, nesta cidade, parque com oxigênio, vida natural, lazer e alguma
tranquilidade para uso da população. Feira, a partir dos anos cinquenta, passou
a crescer sem muito controle, transformando-se em forno crematório de cimento,
tijolo, pedra, asfalto e cal, a todos torrar, impiedosamente, suprimindo o
verde e a ventilação, quase a inviabilizar a existência humana, assumindo, ferrenhamente, a postura dos
negócios e dos ganhos. Transformou-se, rapidamente, em espécie de fábrica de
dinheiro em que todo metro de terreno é ferozmente disputado em sistema de capitalismo
selvagem e o lucro é perseguido e disputado muito mais do que a salvação da
alma eterna.
Prefeitos dos anos vinte, quando a cidade era acanhada,
entalada em suas dificuldades, criaram espaços, verdadeiros respiradouros
necessários à vida sadia da população. O progresso os destruiu. Exemplo é o
antigo Parque Bernardino Bahia, que durante anos vicejou, resplandecente,
ubérrimo, onde, no começo da primavera crianças das escolas e autoridades
costumavam plantar árvores em solenidades a que não faltavam bandas de música e
discursos. Hoje, vítima de comércio implacável em seus desígnios, está
pavimentada a pedra, único recurso de que o poder público se valeu para
livrá-la da ação predatória da vadiagem muitas vezes opulenta, mas sempre
irresponsável e danosa.
José Ronaldo viu o estrangulamento da cidade, que vai
crescendo e se tornando cada vez mais inóspita, principalmente com a febre do
carro, fenômeno que já vitimou outros povos e que agora ataca a nossa
população, dando, como resultado, que todo mundo tem carro mas praticamente
não pode ir, de carro, a lugar algum,
porque o trânsito se tornou extremamente moroso, não há espaços para estacionamento
e os assaltantes agem como se estivessem na casa da sogra, e criou o Parque da
Cidade, amplo espaço verde e tranquilo, com espelho d’água, palco para
espetáculos e muitas árvores, lugar ideal para lazeres e reuniões de família,
mas que entrou em decadência e caiu, por fim, no abandono.
O Parque, que chegou a funcionar tranquilamente durante
algum tempo, devido ao grande número de frequentadores foi cercado de barracas.
É incrível, e deveria chamar a atenção de psicólogos, sociólogos e outros
estudiosos a vocação de Feira de Santana para a barraca de cachaça (mas,
provavelmente, também de outras mercadorias igualmente procuradas), cobertas de
lonas imundas, cheias de buracos, a anunciar vícios e contaminações de todos os
quilates, mas que hoje dominam até o centro da cidade. Afastaram frequentadores
do Parque, fugitivos, também, do grande número de ladrões que passaram a atacar
pessoas até às portas daquele próprio do Município, que lavou as mãos, como
Pilatos, só que o governador romano fez questão de dizer que lavava as mãos
entre inocentes. Nem todos podem dizer a mesma coisa.
Hugo Navarro
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Nenhum comentário:
Postar um comentário