Hugo Navarro Silva |
É uma velha história, a de que o mundo vai acabar. Vem da
antiguidade, provavelmente dos primeiros profetas tocados de algum tipo de
alucinação mística ou de sabidórios que pensavam aterrorizar o povo com castigos
divinos para melhor meter a mão no bolso alheio. O sistema parece ter dado
ótimos resultados porque as notícias de próximo e inexorável fim do mundo voltam
aos noticiários, não com a força de vezes anteriores, mas como algo
interessante, que merece registro, o que não tem impedido que malucões e
espertos do mundo inteiro estejam a procurar lugares privilegiados para se
defender dos desastres que deverão ocorrer e darão fim ao planeta Terra e a
tudo o que nele existe: bens móveis e imóveis, crenças e deuses, ricos e
pobres, tudo transformado em fumaça ou desimportante pó sideral. Há até pessoas
que construíram verdadeiros bunkers, como os dos tempos da guerra fria contra o
perigo atômico, onde armazenaram víveres, água, remédios, armas e coragem para
enfrentar o fogo que os céus vão tomar do inferno, naturalmente por empréstimo,
para pulverizar a Terra em cataclismo
que não poupará nem baratas, nem o vírus da AIDS, por sinal, experimentado, com
êxito, virulência amenizada, como
remédio para certo tipo de doença havida, até agora, por incurável. Nada se
cria e nada se perde, já dizia um sábio.
O mundo, em nossa época, já foi ameaçado por “tempestade magnética”
que desabaria sobre o Planeta para acabar com tudo, verdadeira versão do Armagedom
que São João anunciou, com muitos detalhes, no Apocalipse, fruto da iras
divinas contra os pobres mortais, mesmo aqueles que não têm culpa, como as
crianças, as árvores e os mosquitos. Sobre o assunto há enorme literatura,
preocupações e teorias, tudo resultando quase sempre no velho chavão do castigo,
como os que alcançaram os egípcios, o filho menor do faraó, o único culpado,
que no entanto escapou fagueiro e poderoso.
Da “tempestade magnética” resta-nos a lembrança de Oscar
Erudilho, autoridade do governo municipal, a descrever as agruras diante do
“fim dos séculos”, com as mesmas palavras com que dramatizava as enchentes da
Cachoeira inundada pelas águas do Paraguassu: “as famílias corriam
espavoridas”.
Na época, antes de Pedra do Cavalo, nas enchentes, o povo
desta cidade organizava visitas à Cachoeira e São Felix, onde passava o dia a
se divertir, andar de canoa, rever amigos e a comer moquecas de peixe, muito
boas por sinal.
Poucos anos depois surgiu outra notícia alarmante sobre o
fim do mundo. Era inapelável e certa. Não havia possibilidade de escapatória.
Não foram poucos os que pagaram dívidas. Outros caíram de joelhos pedindo
misericórdia. Inimigos de reconciliaram, mas houve pessoas que ingressaram no
terreno das dívidas e do desprezo pelas virtudes e conveniências. O mundo,
entretanto, continuou vivo com os defeitos e dificuldades de sempre. Para
muitos, desastre de apocalípticas proporções.
Assis Valente, compositor santamarense, criou o samba “E o
Mundo não se Acabou”, defendido por Marlene, que narrava o sofrimento de mulher
que acreditou e teve do que se arrepender. Começava assim: “Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar./Por causa disso minha gente lá de casa começou a
rezar./ Até disseram que o sol ia nascer antes madrugada./ Por causa disso
nessa noite lá no morro não se tem batucada.”
É claro que o Planeta
um dia vai se acabar, porque tudo acaba. Até grandes, fortes e estruturadas
quadrilhas de bandidos encontram o fim.
Al Capone caiu pela inconfidência de um contador em busca de delação
premiada. Fato semelhante está prestes a
acontecer no Brasil.
Hugo Navarro
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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