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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 12 de junho de 2022

A PRIMEIRA VEZ - III (FINAL)

RAYMUNDO ANTÔNIO CARNEIRO PINTO

A PRIMEIRA VEZ - II

   Por causa da timidez, o currículo amoroso de Perna simplesmente estava em branco. Admitia que sua aparência de um típico "nerd" não ajudava. Somente com Maristela veio a experimentar o gosto de uma ardente paixão. Nunca entrava no carro da namorada. Achava feio ir ao lado de uma mulher ao volante. A princípio, Maristela disse que era besteira e ficou zangada. Depois, para não perder a companhia tão agradável, passou a achar divertido andar a pé ou de ônibus. Um dia até brincou com ele:

- Sabe, benzinho, eu estava muito acostumada à minha vidinha burguesa. É bom a gente ficar de vez em quando junto do povão; não é, querido?

A resposta, entre sorrisos:

- Juro que ainda lhe faço uma mulher politizada, sua burguesinha.

- Meu comunistazinho...

- Aprenda logo uma lição: ser de esquerda não significa ser comunista. E eu, meu bem, não sou comunista. Tá ouvindo?-concluiu sério.

- Deixe esse negócio de política pra lá. Depois você me explica a diferença; tá? Olha ali aquele barquinho lá longe no mar tendo por cenário o pôr-do-sol. Não está lindo!?

Como não poderia deixar de ser, finalmente um dia a conversa terminou chegando ao assunto inevitável: sexo. Coube ao Perna dar início:

- Pra mim, esse negócio de virgindade é frescura.

- Pra mim também - acrescentou Maristela, sem pestanejar.

Calaram-se. Um mesmo pensamento assaltou a mente dos dois: "Que diabo! Se nós não temos esses preconceitos, por que nunca fomos pra cama?"

Um pouco encabulado, Josiel perguntou:

- Você é virgem?

- Claro que não.

Só Maristela poderia avaliar quanto lhe custou soltar aquela mentira. Desde que ficara íntima de Perna, ouviu várias vezes ele afirmar que gostava muito de pessoas "autênticas". Por causa disso, procurava ao máximo se esforçar para não mentir diante dele. Nessa circunstância, porém, não havia jeito...

- Então, já está em tempo de a gente aprofundar nosso namoro. Não acha? - voltou Josiel, fazendo grande esforço para superar sua habitual timidez quando falava de tais assuntos.

- Mas Josiel — disse Maristela procurando desesperadamente uma escapatória - eu sou de opinião que é vulgar a mulher que vai pra cama logo no início do namoro. Primeiro precisamos ter certeza de que realmente nós nos amamos. Nós nos gostamos muito, é evidente, porém entendo que o tempo de namoro ainda não é suficiente para sabermos se existe entre nós um verdadeiro amor. Não tenho preconceitos contra o sexo, mas só admito que seja praticado entre pessoas que se amam. E eu tenho medo que você me ache vulgar. Ainda está cedo. Concorda?

- De minha parte garanto que existe amor. Se você quer esperar mais um pouco, eu protesto, mas concordo. Volto a dizer: prefiro a autenticidade. As pessoas devem ser livres para decidir.

As palavras de Josiel encantaram a jovem. Naquele momento ela percebeu que, ao dizer que não o amava ainda, apegava-se a uma mera desculpa. Sua cabecinha se enchia novamente de belos sonhos. Era inacreditável. Ela agora se sentia a mesma adolescente apaixonada da noite dos 15 anos. Sem o dia seguinte, é claro.

Um mês havia passado, desde o início do namoro, quando finalmente Maristela convenceu o Perna a entrar no seu carro. Foi num domingo à tarde. Combinaram que ela iria ensiná-lo dirigir. Rumaram para o Horto Florestal, onde as ruas eram normalmente quase desertas. As aulas de direção se repetiram em outras oportunidades, sempre nos fins de semana. O Perna vivia felicíssimo. Em pouco tempo, não só já dominava o volante, como vibrava com o final das aulas, seguidas religiosamente de um apimentado troca-troca de carícias. Foi após um prolongado beijo na boca que Josiel, vencendo sua insistente timidez, lançou a indagação:

 - Então, querida, já estamos maduros para uma experiência sexual?

- Parece, né? - disse Maristela, procurando esconder o nervosismo.

E acrescentou, ainda um tanto perturbada:

- Mas nada de ser aqui no carro. Que tal um motel? É mais tranquilo e mais seguro. E tem de ser com data marcada para eu poder me preparar psicologicamente. Tá, queridinho?

- Próximo sábado, às quatro da tarde. Combinado?

É difícil descrever o que se passou nas mentes dos dois jovens enquanto aguardavam, bastante ansiosos, o tão esperado dia. Quem já viveu - ou vive - um grande amor pode muito bem imaginar.

Eles jamais tinham sentido uma semana se arrastar com tamanha lentidão. O sábado afinal chegou. Sob o pretexto de mais uma aula de direção, os amantes saíram no carro branco. Perna tinha ouvido falar que havia um motel perto da lagoa do Abaeté. Tocaram para lá. Próximo ao motel, Maristela colocou óculos escuros, abaixou- se no banco e pôs uma revista na frente do rosto. Uma coroa, parecendo lésbica, atendeu no portão de entrada e secamente disse:

- Apartamento doze. Vire à esquerda.

Na frente de cada apartamento existia uma garagem. Com dificuldade, Josiel fez a manobra do carro e entrou na que ostentava o número indicado. Imediatamente um portão se fechou atrás do carro. Ambos desceram do veículo e entraram numa porta em frente. O motel era o melhor da cidade. Tinha ar condicionado, espelho no teto, televisão, uma pequena piscina e um sistema de som que tocava música lenta, orquestrada.

- Eu acabei de tomar banho em casa. Não vou usar o banheiro nem a piscina - foram as primeiras palavras de Maristela, toda embaraçada.

- Eu também tomei banho e até botei perfume... - disse Perna,

demonstrando visível nervosismo. E acrescentou:

Vou apagar a luz. No escuro fica melhor.

Apesar de ainda estar de dia, o apartamento ficou escuro. Apenas tiraram os sapatos e se deitaram na cama redonda. Um apaixonado beijo na boca deu início ao ritual. Josiel desabotoou a blusa da amada e a tirou. Ele fez o mesmo com a própria camisa. Cada peça do vestuário foi sendo retirada aos poucos, entre beijos e carícias. Estavam, afinal, inteiramente despidos. O nervosismo de Perna foi aumentando em proporções incontroláveis. Eis que o jovem descobre, com surpresa, um fato por demais perturbador. Embora cheio de desejos em relação a seu amor, constatou, atormentado, que seu estado de nervos impedia a normal ereção. Fez um enorme esforço de concentração, mas não conseguiu. Enquanto isso, Maristela começa a perceber que algo de anormal está acontecendo. Não diz uma palavra e também se desconcentra.

A tentativa - Fonte: www.wikihow.com
As repetidas tentativas de fazer voltar a concentração foram em vão. Desesperado, Josiel vira-se na cama, esconde o rosto com um travesseiro e chora como uma criança. Diante da situação inesperada, Maristela compreende o ocorrido, repassa rapidamente todos os seus conhecimentos teóricos sobre sexo que tanto lera e, fingindo naturalidade, tenta contornar o imprevisto:

- Deixe de bobagem, querido. Todos os bons sexualistas estão cansados de afirmar que as grandes emoções são as maiores causas de uma repentina impotência. Se você se emocionou, é porque me ama de verdade.

Procurando dar ânimo ao namorado e levantar a autoestima abalada dele, continuou:

- Vamos embora daqui. Depois desta, não quero mais essas frescuras de marcar data e fazer questão que seja num motel. Devemos deixar a coisa acontecer naturalmente. É melhor; não acha?

Em completo silêncio, Perna levantou, vestiu a roupa e pegou as chaves do carro. Maristela também se arrumou bem depressa.

- Você quer que eu dirija, querido.

- Não. E tem mais: não vou pagar esta merda de motel. Vou sair em disparada e dar uma banana para aquela coroa horrorosa Estou sentindo a maior vergonha do mundo.

Passou na portaria com velocidade. Sendo ainda um motorista aprendiz, não conseguiu controlar o veículo na primeira curva que surgiu. Aconteceu, então, o segundo desastre: o carro capotou três vezes, ficando, por fim, na posição normal, mas bastante amassado.

- Você está ferida, Maristela?

- Não tive nada. Só o susto. Você está bem?

- Estou. Só uma pequena pancada na testa. Nem saiu sangue.

Começava a escurecer. Do local onde o carro foi atirado descortinava-se uma linda vista da lagoa do Abaeté. Na queda, a saia de Maristela, que era rodada, ficou bem suspensa, aparecendo suas bonitas pernas morenas e uma pontinha muito sensual da calcinha um pouco transparente, de cor azul ciara.

Quando fixou com atenção sua namorada naquela posição engraçada que ficara após o acidente, o Perna esqueceu, por um momento, tudo de ruim que lhe havia acontecido naquele dia. As bonitas, roliças e aveludadas coxas de Maristela atiçaram seu instinto sexual. Quase automaticamente acariciou tão atraentes pernas. Abraçaram-se. Milagre! Naquela situação desagradável, por incrível que pareça, ele passou a sentir-se um homem com virilidade normal.

Maristela vibrou de alegria vendo que as coisas agora funcionavam a contento... Como por encanto, os movimentos seguintes aconteceram de modo rápido, parecendo ensaiados. O silêncio só não era total porque havia o leve barulhinho do roçar de peles e os suspiros felizes de amantes em êxtase. Formou-se ai um único corpo, cuja forma assumida poderia ser a representação do próprio símbolo do amor. A impressão que eles tinham é que estavam levitando.

Na verdade, ao alcançarem o clímax do ato sexual - ao mesmo tempo, ressalte-se - não mais poderiam dizer que pisavam em terra firme. Voavam, romanticamente, pelo reino encantado do máximo prazer.

Realizada a aterrissagem de volta ao mundo real, Maristela não se conteve e resolveu fazer uma confissão:

- Perna, meu amor, vou te contar um segredo. Tá vendo aí umas manchas vermelhinhas?

- Tou. Que é isso?

- Sangue. Não conhece? É isso aí: até minutos atrás-acredite - eu era virgem, benzinho. Depois lhe conto por que até hoje ocultei de você. Aquela fama de que eu seria muito "avançada" em termos de sexo é tudo mentira. As informações que tenho sobre o assunto não passam de teoria e, assim, enganei muita gente. Para ser autêntica - como você gosta - a verdade mesmo é esta: foi A PRIMEIRA VEZ.

Transcrito da REVISTA DA ACADEMIA FEIREJSE DE LETRAS - 2021 ANO XV-Nº 11 
 

 
 

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