Evandro J.S. Oliveira |
Em se tratando de valor, a maior
parte dos investimentos do coronel Joaquim Pedreira, 41,7%, concentrou-se nos
ativos. Desses, 17:119$060 réis correspondiam a empréstimos e, a maior parte,
eram aplicações em instituições financeiras como ações nos bancos do Brasil e
da Bahia (73:000$000 réis), ações de companhias comerciais (12:205$780 réis),
apólices da dívida pública (337:400$000 réis) e títulos do governo central
(105:000$000 réis).
Dom Pedro registrou em seu diário as
impressões que tivera acerca do coronel e, lhe perguntando “qual era seu gênero
de negócios”, ele respondeu “que era agiota, porque negociava em juros”,
registrando ainda que “parecendo-me pela cara, sê-lo também na significação
ordinária da palavra.” (PEDRO II, 1959, p. 185). A julgar por essa afirmação, a
impressão que ele tivera do coronel Joaquim Pedreira, não foi das melhores.
Entretanto, mesmo com essa possível má-impressão, ao deixar Feira de Santana, o
Imperador concedeu-lhe, no grau de Oficial, a medalha e o título da Imperial
Ordem de São Bento de Avis (FIGUEIREDO Filho, 2004, p. 22).
O dinheiro líquido e o investimento
em ativos, somados juntos, foram responsáveis por 76,9% da fortuna do coronel
Pedreira. Em dinheiro líquido havia 451:276$055 réis - 35,2% do monte-mor -,
onde uma parte desse estava depositado nos bancos Mercantil e da Bahia (196:771
$422 réis), outra parte era dinheiro recebido por pagamento de dívidas
(112:754$333 réis), por arrematação de dívidas de terceiros (50:000$000 réis),
pela venda do açúcar do engenho (15:000$000 réis), dos juros resultantes das
aplicações em títulos, ações e apólices (34:750$300 réis) e em dinheiro vivo
guardado no cofre da casa (42:000$000 réis).
Entre os bens de raiz que compunham a
fortuna do coronel, estavam as terras de massapé do engenho Cazumbá, avaliadas
em 72:995$ 150 réis, e as fazendas Bonita, Todos os Santos, Mocambo e Ponta do
Poço, em Camisão.
A casa do referido engenho estava
edificada sobre pilares e esteios, com três tesouras, varandas e “sobre
varandas”, e os equipamentos que faziam parte do engenho constando de uma
máquina de força de 08 HPs, com suas bombas, assentamentos, depósito de água e
demais acessórios, além de dois clarificadores de ferro, casa de caixaria com
oito balcões de trilhos de ferro, a casa de purgar açúcar, com seus acessórios,
e mais 350 formas de ferro e 248 de madeira. Todo esse equipamento, declarado
em mau estado de uso e precisando de conserto, foi avaliado em 24:747$000 réis.
Afirmou-se anteriormente que a maior
relação escravo/inventariado ocorreu entre as fortunas grandes baixas, com
46,4. No caso das muito grandes, a única onde se inclui a do coronel Joaquim
Pedreira, o número de escravos foi de 127 e, por este ser um caso isolado, fora
do padrão, não se tem outro parâmetro a comparar. A seu serviço, na residência,
havia 17 escravos, mais dois na fazenda Bonita, cinco na Mocambo, dois na Ponta
do Poço, e os 101 restantes, no engenho Cazumbá. Esses escravos trabalhavam nas
mais diversas ocupações, que iam da lavoura aos serviços mais especializados,
como os de carreiro, vaqueiro, carpina, sapateiro e oleiro. Durante o processo
de inventário 11 desses foram libertados, sendo que dois pagaram por suas
liberdades.
Como o coronel além de ser senhor de engenho era fazendeiro de gado, em conversa informal com o Imperador, este afirmou ter ouvido que as suas fazendas produziam mais de duas mil crias por ano (PEDRO II, 1959, p. 185). Havia fundamento nessa afirmativa, pois em seu inventário foram avaliadas 2.285 cabeças de gado bovino, 181 bois de brocha e 31 burros para o serviço do engenho, 39 cavalos, 280 ovelhas e 310 cabras. O Blog discorda da fundamentação quanto a produção: Para produzir 2.OOO crias, precisaria ter 4.000 vacas - 50% índice de parição da época, atualmente a média nacional é 70%, e o rebanho calculadamente, mesmo que vendesse bezerros de 2 anos, descartasse novilhas 70%... para não alongar precisaria de uma quantidade de cerca de 6.000 (seis) mil bovinos, ou seja o triplo do inventariado.
A opulência do coronel refletia-se em
sua residência, (foto ao lado) que, sem dúvida, deveria ser a melhor e mais luxuosa da Vila de
Feira de Santana. Dessa forma, não foi à toa que fora a escolhida para hospedar
Suas Majestades Imperiais. Localizada na Rua Direita,
o sobrado era composto de quatro salas, seis quartos, cozinha e mais cômodos no
pavimento térreo, três salas e seis quartos no pavimento superior, tendo sido
avaliada em 8:000$000 réis.
Os vários cômodos do interior da casa estavam ocupados por um grande mobiliário. Entre os móveis de sala foram listados três sofás e 12 cadeiras de jacarandá entalhadas, 13 cadeiras de recosto e mais 12 lisas da mesma madeira, um relógio de parede, uma mesa redonda e dois consolos com lastro de pedra, um lustre com 12 mangas, uma serpentina com quatro e mais quatro serpentinas com duas mangas, tudo de vidro e, como havia dois cofres, estes deveriam ficar em um gabinete, onde provavelmente o coronel resolvia os seus negócios com mais reserva. Mobiliava a sala de jantar uma mesa e duas bancas de jacarandá, um guarda-louça, uma quartinheira e outro relógio de parede. Os quartos estavam ocupados com duas cômodas de jacarandá com gavetões, um guarda-roupa, dois espelhos com bancos de madeira, dois lavatórios pequenos e um nicho com quatro imagens. Destacavam-se entre essas peças duas camas: uma, de vinhático, descrita como “cama francesa” e outra, de jacarandá, madeira mais nobre e com estilo “de armação imperial”, avaliada cada uma em 50$000 réis. Essa última foi retratada pela Folha do Norte, de 10.04.1939, afirmando ter sido a cama em que Suas Majestades Imperiais dormiram, quando hospedaram-se na casa do coronel Joaquim Pedreira figura (2). Na Figura 21 nota-se que se tratava de um belo exemplar de móvel oitocentista, com detalhe maior de ter sido essa peça confeccionada na própria Vila, conforme afirmação de FIGUEIREDO Filho (2004, p. 19)
Figura 2 - Cama onde dormiu o casal imperial |
Ainda na Vila foram avaliados outros
imóveis como uma casa térrea na mesma rua anteriormente citada, dita como
“recentemente edificada”, com sete janelas de frente e duas portas, 12 quartos,
seis salas e mais alguns cômodos internos, no valor de 3:000$000 réis; outra na
Rua Conde D’Eu, com uma porta e três janelas, duas salas, um quarto e um sótão,
avaliada em 600$000 réis; uma casa pequena na mesma rua, a 200$000 réis; e mais
uma vizinha ao Hospital da Santa Casa, com duas salas, quatro quartos, cozinha
e o terreno que a cercava, no valor de 1:300$000 réis.
Realmente podemos intuir por toda a bela pesquisa de Luiz Cleber Morais Freire, que o cel. Joaquim Pedreira de Cerqueira, deveria estar entre as cinco maiores fortunas da Bahia, realmente fora da curva, das grandes riquezas dos moradores de Feira de Santana
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