Evandro J.S. Oliveira |
José Olímpio |
Estava adiantado no seu tempo, liderando um grupo implantou a
primeira rádio FM de nossa cidade, construída pelo Santanopolitano Drance
Amorim. Também com outra turma implantou o Observatório Antares. Só citei
empreendimentos que exigiram visão com eletrônica, pois é tema do caso a
seguir.
“Zé do Ó”, também era um gozador militante, fazia
montagens em gravações, para bulir com os amigos. Em Feira tinha um alfaiate,
Mário Galopim[1],
apaixonado pelo político Chico Pinto, ele trabalhava na Casa Armando,
juntamente com duas dezenas de oficiais da moda masculina. Havia entre estes
uma predominância de esquerdistas, alguns “comunistas de carteirinha”. Diziam as mas línguas que se quisessem acabar com o movimento comunista em Feira de
Santana, bastava fechar o primeiro andar da Casa Armando.
O Mário Galopim, sempre figurava nos casos em que era o
personagem principal, uma destas estórias vale a pena descrever: Clovis estava
de casamento com Sônia Menezes, socialite feirense, como não poderia deixar de
ser, Clovis encomendou o traje nupcial na “Casa Armando”. Na antevéspera do dia
do casamento, terminado a confecção da indumentária, como era costume com
trajes especiais, vestiram um manequim e colocaram no meio da sala da loja.
À noite Mário estava fazendo serão, e como era costume dele,
de vez quando ia defronte no bar “Sueto”, onde tomava uma pinga para revigorar,
como dizia. Já de madrugada adentro voltando, revigorado mais que
normal, viu, pelo vidro, uma pessoa no centro da loja, gritou “ei moço que
queres aí”, dado o mutismo, subiu a escada, apanhando uma faquinha de
trabalho, desceu pegando o intruso de surpresa esfaqueou o manequim e
retalhando o belo finado paletó. No outro dia foi uma correria para
fazer outra indumentária.
Voltemos a malfadada brincadeira de “Zé do Ó”. Mário ia
sempre na Visão, grande loja dos irmãos Mascarenhas, Zé e Tonheiro, repetia os
discursos de Chico Pinto, até imitando o político.
Zé Olimpio tinha gravado o discurso de Chico Pinto em sua
residência, comemorando a vitória apertadíssima para prefeito de Feira de
Santana em 1963. Estava lotada, e na rua um mundo de gente, Mário festejando na
rua, Chico fez saudação para o povo da rua, posteriormente discursou no
interior da casa, esta a parte gravada por Zé do Ó.
Zé fez uma montagem no discurso em que Chico Pinto em dado
momento proferiu um monte de palavras pornográfica, montagem bem feita, esperou
Mário ir na loja. Viu que homem é Chico Pinto? um mundaréu de gente, POVO, delírio,
gente chorando, falou Mário eufórico, quase gritando na Loja Visão. Quando Zé Olímpio
chegou junto a ele, foi um verdadeiro espetáculo, redarguiu, pena que passou do
limite para uma futura autoridade, o que? ele foi formidável, agradeceu ao
eleitor, uma bela festa. Mas o discurso dentro de casa, foi uma lástima, com
senhoras e até D. Pomba, mãe de Chico Pinto, olhe aqui a gravação. Quando
chegou o trecho das palavras chulas, Mário foi ficando branco, balbuciando, o
Dr. Chico Pinto não podia jogar lama numa festa tão bonita, e saiu indignado.
Um ano após, no golpe militar, apareceu uma figura estranha em
Feira de Santana, sobre a alcunha de CAPELÃO, título que possuía como Capelão
da Polícia Militar, sediada em Feira de Santana. Extrapolando suas funções,
passou a comandar uma patrulha, prendendo quem ele achava ser comunista, se pondo
como um arauto da moralidade, ia para as casas de má fama, mandava os casados
para casa, ameaçando de recolhimento prisional. Certa vez indo em uma casa de
seresta, hoje dizemos caraoquê, encontrou Vinu, bela voz, cantando, viu aliança
na mão esquerda, se encaminhou para ele disse: “Oma grande, vá prá
casa, se não bota na jipa para dormir na cadeia!”.
O Capelão entrou na Visão, para recolher José Olímpio, leva-lo
ao Batalhão, para prestar depoimento.
O primeiro problema foi a recusa de Zé ir na viatura, começou
a juntar gente, o Capelão sentiu o clima pesado e aceitou que fosse no seu
carro indo logo atrás.
Zé do Ó mostrou que era uma montagem para uma brincadeira, não tinha prova nenhuma, depois de uma admoestação, José Olímpio foi dispensado.
[1] Para
os mais novos, Galopim era um calçado de pano sola de borracha, muito usado em
fardamentos escolares. O nome Galopim é regionalismo da Bahia, tênis era o
sinônimo no brasil em geral. Na Bahia diferenciávamos o tênis do galopim.
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