Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

VIAGEM AO "SUL MARAVILHA" I.


No início da década de 60, fizemos uma viagem, eu, Baby e nossos compadres Wilson (Issinho) Carneiro e Neuza, para o sul maravilha, como se falava na época.

Tinha comprado um Fusca usado modelo 1959, igual ao da foto ao lado. Como o vendedor não tinha credibilidade para nos fiarmos na qualidade, além de examinarmos minuciosamente, levamos a dois mecânicos de confiança. Resultado foi uma das melhores compras que fiz. Era uma máquina de gente andar dentro, como dizia meu irmão Juca, ao se referir sobre um carro popular simples, mas era pau pra toda obra. Melhor do que Jipe o concorrente na época, difícil de quebrar e para ficar em atoleiro, colocamos bagageiro de teto, caímos
na estrada. Cerca de 45 dias de viagem, e mais de dez mil quilômetros, trinta por cento sem asfalto. A Rio-Bahia, recém inaugurada, sem estar totalmente terminada, era cheia de problemas. Mas fomos ao nosso primeiro destino, sem pressa parando em tudo quanto era lugar até chegar em São Paulo quatro dias depois.

Issinho e Neuza
Não tiramos fotos
da viagem

Hotel São Paulo da cadeia Othon, que já tinha estado em 60, muito bom. Ficamos uma semana, tudo dando certo sem nenhum problema.

        Depois seguimos para Rio Grande do Sul. Com três horas de viagem, estava chovendo e a estrada estava interrompida, por causa de desabamento de um morro. Pensamos em voltar, estávamos cerca de 300 quilômetros de São Paulo, quando nos informaram existir na área algumas máquinas do DNER (atual DENIT), era uma questão de horas a liberação da estrada.

Eu e Baby
Fotos da época

Qual nada, eram 11 horas quando chegamos na interrupção, só tinha uns cinquenta veículos em nossa frente, chovia fino, frio para nordestino se imaginar na Sibéria, à tardinha a fome apertou. Tinha um japonês com caminhão carregado de laranjas, que quase ficou vazio. Voltar era impossível a fila já era de mais de dois mil veículos. As mulheres tinham que ir no mato acompanhadas para fazer as necessidades, nessas horas os homens levam vantagens.

Finalmente às 21 horas foi liberada a estrada. Passamos pelo primeiro restaurante, do outro lado, lotado de veículos que retornaram para esperar a liberação, raciocinamos corretamente, não estavam preparados para a quantidade de clientes. Seguimos e paramos na primeira churrascaria grande, aqui na Bahia ainda não tinha de rodízio com aquela qualidade. estávamos esfomeados, tipo de cliente que não é bom para restaurante que cobra por pessoa. E o vinho? enchemos a cara, não tinha restrição para quem dirigia. Também fomos dormir em uma pousada perto, de ótima qualidade em comparação com as nossas aqui, era o “sul maravilha”.

Almoçamos ainda na estrada, passeando no interior dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, lindo verdejante uvas, maçãs no caminho, não existiam nas estradas da Bahia, estávamos entusiasmados, era como pensávamos, outro mundo.

Chegamos em Porto Alegre, aí começamos a entender que o “sul não era essas maravilhas que pensávamos”. Porto Alegre, uma decepção, aqui vale um comentário – decepção é a distancia entre perspectiva, que nós tínhamos de tudo do “sul maravilha e a realidade”. Tinha pouquíssimos hotéis de qualidade comparado com Salvador, e os poucos, lotados, inclusive o recém inaugurado Hotel Umbu, Ficamos em um hotelzinho, ruinzinho.

Como não existia cartão de crédito, na Bahia já se usava Travel Chek (cheque viagem), aceito em qualquer loja, restaurante hotéis... em Salvador. Compramos estes cheques de viagem no Banco Econômico daqui de Feira de Santana. O gerente do nosso hotel desconhecia esta forma de pagamento. Como tinha levado uma carta de Beto para um colega de faculdade que morava na capital gaúcha, estávamos tranquilos, descontaríamos um cheque equivalente a R$ 500,00 hoje, daria para chegar até segunda-feira, quando iriamos ao banco remir outra quantidade,

Por azar, o colega de Beto, destinatário da carta e nossa solução de dinheiro, tinha viajado para fazenda no interior...hahahah

Sentamos em um restaurante simples, calculamos nossos recursos, vimos que dava para chegar segunda-feira, contanto que fossemos “mão de vaca”, nada de estragos. Fomos ao cinema, diversão barata. Notamos enquanto andávamos para o cine, chamávamos a atenção das outras pessoas, cheguei a recuar um pouco se havia alguma coisa estranha em nós, pois logo que cruzávamos com outros eles se viravam para nos ver de costa.

Quando chegamos ao hotel perguntamos ao recepcionista sobre o ocorrido, ele nos explicou que estranhavam nossas mulheres de calças compridas, ainda não tinha chegado o costume em Porto Alegre.

Domingo, depois de tomarmos café, fomos de ônibus para praia, programa de acordo com nossas posses. A praia me lembrou uma que Feira de Santana, com o complexo de mineiro de não ter praia, fez na lagoa de São José, deu vontade de cantar Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia...”, do baiano Dorival Caymmi.

Fizemos um lanche retornamos, quando passamos pelo hipódromo. Issinho era louco por cavalos, resolvemos saltar no primeiro ponto e fomos para ver as corridas.

Issinho lembrou que tinhamos uns trocados que dá para o ônibus de volta para o hotel e sobrava uma teteia, que tal apostar esta sobra, as mulheres mais sensatas, disseram uníssonas um NÂO. Eu que gosto de todos os jogos argumentei, se ganharmos jantaremos como Marajás, se não, sanduiche e cama naquele dormitório de nome hotel.

Toparam rindo. Sabíamos que se perdêssemos iriamos, eu e Issinho, comermos o lanche ouvindo as queixas do tá vendo!!

Quando do desfile dos cavalos, Issinho gostou de um cavalo tordilho disse, vamos apostar naquele sete. Olhei o jornal que dava a cotação e o cavalo 7 era um azarão, ponderei que era melhor jogar em um dos três favoritos, e foi assim que apostamos no segundo cotado pelo especialista em Turfe. Quem ganhou?.. quem?... para minha desídia o CAVALO 7.

Que lanche noturno ruim, tomei gozação dos três, e ainda com o sanduiche ruim mesmo.

Pela manhã da segunda-feira, fomos ao banco remimos uma boa quantia e saímos para às compras. Nada de interessante, característico da região. Comprei para meu sogro, um laço para a fazenda, pois não poderia comprar uma sela, não cabia no fusquinha, já abarrotado, elas compraram umas besteiras, nada de lembranças características, dei uma vidente: "rapaz quando estes sulistas descobrirem a Bahia, vão ver o que é uma cidade turística, comidas diferentes, souvenir característicos, praias...". Rumamos de volta para São Paulo.

Quando chegamos em São Paulo, não encontramos hotel, tinha uma Convenção, estava tudo lotado. Rumamos para Santos, pior. Depois de cansados de percorrer hotéis, pensões... terminamos na praia, dentro do carro, dormindo?... às vezes saíamos dois a dois dávamos umas voltas na praia para os que ficassem no carro deitassem os bancos do fusca e tirassem um cochilo, o bom é que na época não tinha os perigos de hoje.

Os jovens que não conheceram como eram as viagens naquele tempo podem estranhar estes percalços. Não tinha celular nem telefone público, uns raríssimos, interurbano demorado sem qualidade era preciso que no outro lado da linha, o (a) atendente tivesse boa vontade e paciência, raríssimo...

Pela manhã do outro dia fomos para o Hotel São Paulo e ficamos na sala de espera, até desocupar dois apartamentos.

Almoçamos no hotel, depois fomos para o quarto. Cerca de 10 horas da noite fomos em um restaurante jantamos e voltamos para o Hotel.

Ficamos cerca de quinze dias em São Paulo, fazendo compras, com a recomendação de coisas pequenas, pois ainda iriamos viajar muito e o fusquinha estava pedindo arrego como se diz na Bahia.

Em um bar. Eu e Issinho estávamos esperando as mulheres em compras fim de tarde/noite, tinha uns caras encabulados quando viram o fusca com a placa da Bahia e um adesivo do Hotel...hahah dos Pampas. Tínhamos saído do posto, lavagem, lubrificação troca de óleo... puxaram conversa unimos as mesas perguntavam sobre a viagem e veio aquela conversa de paulista, mais para chatear o mineiro que estava no grupo, além de mostrar o dinamismo de São Paulo veio com aquela fala da pujança paulista “São Paulo é uma máquina de um trem, levando vinte e um vagões que são os Estados brasileiros”,  respondi: “e daí vocês tem espirito de maquinistas, nós da Bahia de viajar em vagão de luxo”, o mineiro se lavou... até os paulistas riram.

Rumo ao Rio de Janeiro, no próximo capítulo.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Filme do Santanopolis dos anos 60