No início da década de 60, fizemos uma viagem, eu,
Baby e nossos compadres Wilson (Issinho) Carneiro e Neuza, para o sul
maravilha, como se falava na época.
na estrada. Cerca de 45 dias de viagem, e mais de dez mil quilômetros, trinta por cento sem asfalto. A Rio-Bahia, recém inaugurada, sem estar totalmente terminada, era cheia de problemas. Mas fomos ao nosso primeiro destino, sem pressa parando em tudo quanto era lugar até chegar em São Paulo quatro dias depois.
Issinho e Neuza Não tiramos fotos da viagem |
Hotel São Paulo da cadeia Othon, que já tinha estado em 60, muito bom. Ficamos uma semana, tudo dando certo sem nenhum problema.
Depois seguimos para Rio Grande do Sul. Com três horas de viagem, estava chovendo e a estrada estava interrompida, por causa de desabamento de um morro. Pensamos em voltar, estávamos cerca de 300 quilômetros de São Paulo, quando nos informaram existir na área algumas máquinas do DNER (atual DENIT), era uma questão de horas a liberação da estrada.
Eu e Baby Fotos da época |
Qual nada, eram 11 horas quando chegamos na interrupção, só tinha uns cinquenta veículos em nossa frente, chovia fino, frio para nordestino se imaginar na Sibéria, à tardinha a fome apertou. Tinha um japonês com caminhão carregado de laranjas, que quase ficou vazio. Voltar era impossível a fila já era de mais de dois mil veículos. As mulheres tinham que ir no mato acompanhadas para fazer as necessidades, nessas horas os homens levam vantagens.
Finalmente às 21 horas foi liberada a estrada. Passamos
pelo primeiro restaurante, do outro lado, lotado de veículos que retornaram para esperar a
liberação, raciocinamos corretamente, não estavam preparados para a quantidade
de clientes. Seguimos e paramos na primeira churrascaria grande, aqui na Bahia
ainda não tinha de rodízio com aquela qualidade. estávamos esfomeados, tipo de
cliente que não é bom para restaurante que cobra por pessoa. E o vinho? enchemos
a cara, não tinha restrição para quem dirigia. Também fomos dormir em uma
pousada perto, de ótima qualidade em comparação com as nossas aqui, era o “sul
maravilha”.
Almoçamos ainda na estrada, passeando no interior dos
estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, lindo verdejante uvas,
maçãs no caminho, não existiam nas estradas da Bahia, estávamos entusiasmados,
era como pensávamos, outro mundo.
Chegamos em Porto Alegre, aí começamos a entender que
o “sul não era essas maravilhas que pensávamos”. Porto Alegre, uma decepção,
aqui vale um comentário – decepção é a distancia entre perspectiva, que nós
tínhamos de tudo do “sul maravilha e a realidade”. Tinha pouquíssimos hotéis de
qualidade comparado com Salvador, e os poucos, lotados, inclusive o recém
inaugurado Hotel Umbu, Ficamos em um hotelzinho, ruinzinho.
Como não existia cartão de crédito, na Bahia já se
usava Travel Chek (cheque viagem), aceito em qualquer loja, restaurante
hotéis... em Salvador. Compramos estes cheques de viagem no Banco Econômico
daqui de Feira de Santana. O gerente do nosso hotel desconhecia esta forma de
pagamento. Como tinha levado uma carta de Beto para um colega de faculdade que
morava na capital gaúcha, estávamos tranquilos, descontaríamos um cheque
equivalente a R$ 500,00 hoje, daria para chegar até segunda-feira, quando
iriamos ao banco remir outra quantidade,
Por azar, o colega de Beto, destinatário da carta e
nossa solução de dinheiro, tinha viajado para fazenda no interior...hahahah
Sentamos em um restaurante simples, calculamos nossos
recursos, vimos que dava para chegar segunda-feira, contanto que fossemos “mão
de vaca”, nada de estragos. Fomos ao cinema, diversão barata. Notamos enquanto
andávamos para o cine, chamávamos a atenção das outras pessoas, cheguei a
recuar um pouco se havia alguma coisa estranha em nós, pois logo que cruzávamos
com outros eles se viravam para nos ver de costa.
Quando chegamos ao hotel perguntamos ao recepcionista sobre o ocorrido, ele nos explicou que estranhavam nossas mulheres de calças compridas, ainda não tinha chegado o costume em Porto Alegre.
Domingo, depois de tomarmos café, fomos de ônibus para
praia, programa de acordo com nossas posses. A praia me lembrou uma que Feira
de Santana, com o complexo de mineiro de não ter praia, fez na lagoa de
São José, deu vontade de cantar “Ai,
ai que saudade eu tenho da Bahia...”,
do
baiano Dorival Caymmi.
Fizemos um lanche retornamos, quando passamos pelo
hipódromo. Issinho era louco por cavalos, resolvemos saltar no primeiro ponto e
fomos para ver as corridas.
Issinho lembrou que tinhamos uns trocados que dá para
o ônibus de volta para o hotel e sobrava uma teteia, que tal apostar
esta sobra, as mulheres mais sensatas, disseram uníssonas um NÂO. Eu que gosto
de todos os jogos argumentei, se ganharmos jantaremos como Marajás, se não,
sanduiche e cama naquele dormitório de nome hotel.
Toparam rindo. Sabíamos que se perdêssemos iriamos, eu
e Issinho, comermos o lanche ouvindo as queixas do tá vendo!!
Quando do desfile dos cavalos, Issinho gostou de um
cavalo tordilho disse, vamos apostar naquele sete. Olhei o jornal que dava a
cotação e o cavalo 7 era um azarão, ponderei que era melhor jogar em um dos
três favoritos, e foi assim que apostamos no segundo cotado pelo especialista
em Turfe. Quem ganhou?.. quem?... para minha desídia o CAVALO 7.
Que lanche noturno ruim, tomei gozação dos três, e
ainda com o sanduiche ruim mesmo.
Pela manhã da segunda-feira, fomos ao banco remimos
uma boa quantia e saímos para às compras. Nada de interessante, característico
da região. Comprei para meu sogro, um laço para a fazenda, pois não poderia
comprar uma sela, não cabia no fusquinha, já abarrotado, elas compraram
umas besteiras, nada de lembranças características, dei uma vidente: "rapaz quando estes sulistas descobrirem a Bahia, vão ver o que é uma cidade turística, comidas diferentes, souvenir característicos, praias...". Rumamos de volta para São
Paulo.
Quando chegamos em São Paulo, não encontramos hotel,
tinha uma Convenção, estava tudo lotado. Rumamos para Santos, pior. Depois de
cansados de percorrer hotéis, pensões... terminamos na praia, dentro do carro,
dormindo?... às vezes saíamos dois a dois dávamos umas voltas na praia para os
que ficassem no carro deitassem os bancos do fusca e tirassem um cochilo, o bom
é que na época não tinha os perigos de hoje.
Os jovens que não conheceram como eram as viagens
naquele tempo podem estranhar estes percalços. Não tinha celular nem telefone
público, uns raríssimos, interurbano demorado sem qualidade era preciso que no
outro lado da linha, o (a) atendente tivesse boa vontade e paciência,
raríssimo...
Pela manhã do outro dia fomos para o Hotel São Paulo e
ficamos na sala de espera, até desocupar dois apartamentos.
Almoçamos no hotel, depois fomos para o quarto. Cerca
de 10 horas da noite fomos em um restaurante jantamos e voltamos para o Hotel.
Ficamos cerca de quinze dias em São Paulo, fazendo
compras, com a recomendação de coisas pequenas, pois ainda iriamos viajar muito
e o fusquinha estava pedindo arrego como se diz na Bahia.
Em um bar. Eu e Issinho estávamos esperando as
mulheres em compras fim de tarde/noite, tinha uns caras encabulados quando
viram o fusca com a placa da Bahia e um adesivo do Hotel...hahah dos Pampas. Tínhamos
saído do posto, lavagem, lubrificação troca de óleo... puxaram conversa unimos
as mesas perguntavam sobre a viagem e veio aquela conversa de paulista, mais
para chatear o mineiro que estava no grupo, além de mostrar o dinamismo de São
Paulo veio com aquela fala da pujança paulista “São Paulo é uma máquina de um
trem, levando vinte e um vagões que são os Estados brasileiros”, respondi: “e daí vocês tem espirito de
maquinistas, nós da Bahia de viajar em vagão de luxo”, o mineiro se lavou...
até os paulistas riram.
Rumo ao Rio de Janeiro, no próximo capítulo.
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