RONALDO SENNA – Mestre, Doutor, Antropólogo, escritor, professor aposentado: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Católica de Salvador (UCSAL).
Seria gratificante
o acontecer,
Sentindo a delícia
novamente,
Escoimado de todo
o prazer
O que a ele nãoi
faz referente.
Pensado nos atos e
eventos
Selecionamos as
alternativas,
Escolhendo,
sempre, os ventos
Que nos levam a
outrasd vidas.
Só que elas não
são reais:
Apenas iludem os
mortais
Fazendo o homem
mais atávico.
Sabemos que
transcender é bonito
Fértil, rico,
completo, infinito
Mas reduz ao
fantástico.
O SIDO E O SENDO
Como não podemos nos deslocar até
o sido, torna-se necessário que o transformemos, existencialmente, em sendo,
permitindo que o humano (que é histórico) se reduza à natureza (que é
cíclica). Como não podemos, concretamente, compor a nossa vida, aqui e agora,
com muitas existências, estruturamos a nossa existência em muitas vidas.
Os papéis e funções (vistas como
o conjunto de papéis) com os quais balizamos o nosso estar no mundo, não
bastam para satisfazer todos os componentes do nosso permanecer, não bastam
para realizar todos os componentes do nosso projeto vital. A cultura
(considerada como património simbólico) remete os seus referenciais por outras
esferas e outros planos, em reciclagens constantes, além de um necessário e
eficaz exercício do imaginário.
E assim visitamos
a nós mesmos em cada raio da roda viva que tornam mais abrangentes as nossas
convivências. Quebramos as fronteiras do espaço, anulamos as limitações do
tempo e tornamos improcedentes os mapas das sociedades e das culturas. Sim, o
contínuo espaço-tempo estrutura o substrato da dimensão da poesia.
Tanto o espaço que
mal será preenchido, quanto o tempo que não poderá ser alcançado (religiosos,
mágicos, ritos de espera e de passagem), tornam-se elementos dessa dimensão.
Como exemplo: a saga da conquista do mar oceano (que significa sem fim, logo,
não poderá ser dominado por inteiro) proporcionando ao genial poeta maior Fernando
Pessoa, em seu poema intitulado Li-berdade, vaticinar que, "quando é
melhor, quando há bruma, esperar por Dom Sebastião, quer venha ou não". Ou
seja, não se espera alcançar, mas realizar-se no ato de esperar.
O nosso destino
não será apenas devir. O ser, assim pensado, não se instalará apenas, em um
projeto de vida, mas em diferentes seres historicamente multifacetados. Algo,
porém, não se pode negar, por mais divididas que se encontrem as verdades, dúvidas
ou certezas: o homem simboliza (a si mesmo, ao outro e ao mundo) gerando, elaborando
e engendrando reduções, prismas e arestas que darão sentido ao seu espírito.
A continuidade
sonhada, dentro da abrangência sentida, será sempre a construção possível, a
crença que se faz realidade, a compreensão aproximada. Sim, o fato (captação
feita através de ato ou evento) se manifesta como fenômeno e tende, muitas vezes,
a se revelar como um dado por suposto.
Será sempre em uma
sociedade mais homogénea, onde o sido e o sendo se interpenetram, com muita
ênfase, que as noções do que passou, do que está e do que virá se manifestarão
como componentes do único, absoluto, abrangente. A realidade não se dilui, o
aqui e agora se projetam para e em todos os quadrantes do imaginário. Existe-se
dentro de uma unidade.
O espaço sofre (na
história, nas sociedades e nas culturas) diferentes e contínuas recriações,
redimensionamentos e ressignificações. Assim, um determinado espaço pode ser
mais denso ou mais elástico do que outro, a depender das necessidades criadas
por determinadas circunstâncias e que pedem especificas soluções.
Espaço e tempo
delimitam mitos, códigos, rituais e sentimentos. E um processo criador de
paradigmas, que gera múltiplos resultados ao processo histórico vivido por
diferentes sociedades. Enquanto, por exemplo", as sociedades saxônicas,
nos seus contextos, separam, com mais nitidez os dois referenciais, a sociedade
brasileira se sin-gulariza pelo fato de que muitos espaços e muitas
temporalidades convivem simultaneamente" (DaMatta, 2000:32).
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