Não tem razão quem acusa o secretário Jailton Batista de
haver realizado “a pior micareta dos últimos tempos”. A micareta não foi um fracasso, pelo
contrário, e deixou satisfeita a grande maioria dos que dela participaram.
Houve, é claro, mudanças e entraves. Foram suprimidos os camarotes, que
costumavam formar vasto e asfixiante corredor e criar dificuldades para a
participação do povo, além de serconstante e ameaçadora possibilidade de
desastre de grandes proporções, capaz de enlutar a cidade e acabar com a festa.
Quase às vésperas, surgiu a greve da Polícia Militar,
seguida de paralização da Polícia Civil, que resultaram no aumento considerável
das ações criminosas, incluindo assassinatos, criseno comércio, que em certas
ocasiões teve que fechar as portas e medo generalizado de que alguma coisa de
extremamente grave poderia acontecer para o que concorreu a onda de boatos
divulgados nas redes sociais, os profetas do Século XXI. Chegou a ser cogitado,
oficialmente, o cancelamento da festa, e discutida a mudança da data de sua
realização. As notícias foram alarmantes, com destaque para as que davam conta
de enormes prejuízos para os blocos, às custas ou da falta de foliões
interessados nos abadás, ou das devoluções das fantasias já adquiridas. As
notícias de mortes(e foram muitas), de “arrastões”, assaltos e agressões
encheram os ouvidos do povo feirense de forma ameaçadora. Não chegaram a
alcançar os níveis da greve de 2.012, mas foram capazes de desestimular
qualquer entusiasmo carnavalesco capaz de levar o povo às ruas.
O que ocorreu de fato na micareta, vencidas as dificuldades
e receios, a participação do povo na rua e nos blocos e a eterna diminuição da
criminalidade das estatísticas oficiais antes
teriam sido triunfos do
secretário e de sua equipe do que o fracasso apontado por uns poucos que mal
podem esconder o interesse político, já
que estamos em ano de eleições. Mas foi, principalmente, mais uma prova da
solidez da micareta, como parte inarredável da vida do povo feirense.
Disse Gilberto Amado que o carnaval, “festa pagã que o
cristianismo não estragou de todo" deixou de ser simples manifestação de
alegria para se tornar tradição venerável, hábito da sociedade, “desafogo na
vida árida do brasileiro, que vive sem comodidade, sem dinheiro, sem orgulho,
sem heroísmo, sem coisa nenhuma”. Hoje, poderia acrescentar: governada por
quadrilhas e sujeita a manifestações momescas apresentadas com tinturas de
seriedade com o nome de revisões históricas.
Micareta é carnaval. Substituiu o carnaval feirense a partir
de 1937 e vem crescendo. Acontece, entretanto, que a micareta, que na sua
origem fazia a festa na Rua Conselheiro Franco, onde se realizavam os mais
famosos bailes carnavalescos, o da “25 de Março” e o da “Vitória”, com a “Flor
do Carnaval”, o cordão das “Melindrosas”
e os “Filhos do Sol”, empolgou o centro da cidade e terminou por ficar encerrada em parte da Avenida
Dutra, cercada de grades e de intensa vigilância da polícia, lugar que se tornou, com o passar
do tempo, incômodo e prejudicial ao vasto
comércio que se estabeleceu no local. O confinamento da micareta à Avenida
Dutra foi solução passageira que se vai eternizando, mas não pode continuar. É
sufocante, opressivo e incômodo como cadeia pública. Tentativas têm havido de
estender a folia a outros locais, como da Kalilândia, sem grande sucesso. A micareta
tem que se expandir, sair da lata de sardinha em que se transformou sua atual
sede. Dar mais liberdade ao povo. Encontrar saída para a armadilha em que se
encalacrou.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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