Hugo Navarro da Silva |
Nenhuma das efemérides que a Pátria costumava lembrar com
demonstrações de júbilo e civilismo, como a da Independência, Proclamação da
República e Abolição mereceram mais atenções e referências do que as dedicadas
ao cinquentenário da Revolução de 64. Todas, evidentemente, para demonstrar erros,
excessos e descomedimentos do regime militar e tentar manter a base de
sustentação que deu o governo do país à chamada esquerda.
A grande plataforma da esquerda tem sido o combate ao
Movimento de 64, mas o tempo passou, 64 vai ficando longe e é necessário diariamente tratar do assunto
com os exageros possíveis, que levaram até à exumação de vítimas de prováveis assassinatos,
ex-presidentes, hipótese desfeita pela
perícia médico-legal, o que dá a certeza alentadora de que ainda restam pessoas
honestas neste país.
A
velocidade dos fatos desencadeados no 31 de março surpreendeu até as lideranças
das Forças Armadas. O país inteiro vivia clima de preocupações e incertezas.
Quando o movimento foi deflagrado, esperava-se luta e resistência em alguns
Estados, inclusive na Bahia. Um chefe
revolucionário confidenciou, tempos depois, a amigos, que as forças
revolucionárias, se encontrassem forte resistência em Salvador, pretendiam
instalar em Feira de Santana centro de comando de operações. A fuga precipitada
do presidente João Goulart para o Uruguai, poucas horas depois de deflagrado o
movimento, surpreendeu a todos. Na Bahia houve apenas a posição dúbia do
governador Lomanto Jr., que provocou hesitações e duvidas. Um cidadão, que
colhia assinaturas em abaixo-assinado pedindo a deposição do prefeito desta
cidade foi preso pela Polícia Militar. Chefes
políticos e o povo não sabiam o que iria acontecer. Alguns políticos desapareceram
para não assumir posições. Preso o prefeito e afastado, definitivamente, do
cargo, os boatos, muitos deles alarmantes, tomaram as ruas. Em pesado ambiente
de confusão e incertezas toda a responsabilidade caiu nas costas da Câmara.
Altamir Lopes, vice-presidente do Legislativo, assumiu a Prefeitura até a posse
do prefeito que a Câmara elegeu, Joselito Amorim, que livrou o Município do
descrédito, da inoperância e da situação de insolvência em que se encontrava. A
Câmara nunca sofreu pressões para decidir e mente quem afirma, hoje, que
deliberou cercada de metralhadoras. Tomou medidas acertadas num momento de
crise. Combateu decisões judiciais concedidas sob encomenda e deu cunho de
legalidade às suas deliberações. Houve quem sugerisse o “impeachment” do
prefeito deposto e várias outras disparatadas soluções foram aventadas. Nomes
foram lembrados para ocupar a Prefeitura mas a Câmara, por sua maioria, que era
apenas de um voto, agiu com serenidade, buscando o único caminho possível
em momento de extrema gravidade. Declarou
vago o cargo de prefeito, o que era inquestionável, e elegeu, para a chefia do
Executivo, o seu presidente, o único vereador que tinha experiência de governo.
Amorim construiu o Estádio, o prédio do Ginásio Municipal, restaurou as
combalidas finanças municipais e a confiança do comércio no governo. O cinquentenário
da Revolução merece reverências mas dos que se disseram perseguidos e
humilhados e a usaram para se eleger, se projetar e continuar a viver sem nada
fazer a não ser em proveito próprio. Mas,
a Câmara, ao devolver, recente e simbolicamente, o mandato ao prefeito deposto,
praticou apenas ato demagógico. Ninguém devolve o que não tirou e nunca possuiu.Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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