Hugo Navarro da Silva |
A crença de que o hábito de fumar ameaça extinguir a
humanidade e é muito mais perigoso do que a universal poluição das águas,
nasceu nos EE.UU., resultado de milionárias ações judiciais indenizatórias movidas
contra gigantes da indústria do cigarro por supostas vítimas do tabagismo,
que provocaram candentes e
aterrorizantes pronunciamentos de renomados cientistas e profundos conhecedores
das artes médicas.
Ninguém sabe, com exatidão, a época em que a humanidade
começou a fumar. Teria começado na América porque o fumo é produto do solo
americano onde foi usado, inicialmente, em cerimônias religiosas a que a fumaça
está intimamente ligada desde tempos imemoriais como meio de comunicação entre
o céu e a terra. Em antigos rituais
chineses queimavam-se ervas aromáticas e gordura, diante da crença de que a
fumaça eleva a alma ao além, transportando orações e preces, porque sempre
procura o céu. Índios norte-americanos realizavam cerimônias religiosas com fumaça
de fogueiras. Entre os taoístas a incineração conduz à redenção a alma dos
mortos e não vamos esquecer a queima de incenso nas solenidades católicas. Alquimistas
acreditavam que o chamado “ultimo suspiro”, exalando vapor ainda que tênue, era
a alma se despedindo do corpo. O que ninguém determina é o momento exato em que
a alma entra no corpo. Nas crenças
religiosas de origem africana e nas formalidades de certos adivinhos a fumaça
do charuto é importante acessório. O
charuto, peça imprescindível dos “despachos”, antes do prestígio do cigarro
dominava o cenário social. Sua celebridade alcançou o ponto mais alto durante a
guerra contra o nazi-fascismo, com o Lord da Guerra, Winston Churchill, que
sempre aparecia a soltar fumaça daqueles artefatos.
O fumo teve, em época relativamente recente, importância
muito grande na economia local. Foi um ciclo, como o da ourivesaria, que
desapareceu. Ficou a fama da pecuária, que neste Município nunca chegou a ser
forte. Fundamental, aqui, sempre foi o comércio de gado.
Feira chegou a ter inúmeros armazéns de beneficiamento de
fumo e destacados mercantes do ramo da exportação do produto oriundo
principalmente de São Gonçalo e Conceição de Feira, onde sempre se cultivou
excelente tabaco, matéria prima para as fábricas de charutos que aqui se
estabeleceram e fizeram forte concorrência
às do Vale do Paraguassu.
Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil encontrou
indígenas fumando toscos charutos. Descoberto pelos navegadores o fumo chegou à
Europa como novidade e remédio. Com o
aparecimento do cigarro de palha de milho, charuto, cachimbo e do pó de tabaco
no Velho Mundo as propriedades medicinais do fumo cresceram de prestígio
apregoadas como eficaz remédio para a fraqueza sexual, defluxos, reumatismos e
incômodos catarros. O uso do cigarro tornou-se hábito elegante e ganhou corpo
no mundo a partir de filmes de Hollywood, em que os galãs fumavam
desbragadamente. Adotado pelas mulheres, que sempre exageram quando assumem
vícios masculinos, adquiriu status de grave problema de saúde pública.
Difícil de entender, entretanto, a universal condenação do
fumo e a quase unânime defesa da maconha, liberada, no Uruguai, pelo presidente
José Mojica, e, no Colorado, aceita como droga recreativa. Na Califórnia é
santo remédio. Vá compreender o mundo...
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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