Grandes acontecimentos estão programados para o Ano Novo no
país. Normalmente seriam motivos de ufanismo, lucros e esperanças em qualquer
lugar. No Brasil de hoje, entretanto, Copa do Mundo e eleições presidenciais
resultam em graves preocupações e incertezas. Não é a inquietação do pessimismo
em momento que deveria ser de euforia e festas. É a reflexão com o que ocorre
no momento e suas possíveis repercussões no futuro próximo.
A Copa do Mundo de 2.014 foi apontada como grande conquista
do governo. Sua realização poderia ser euforizante droga para povo e provocaria
inédita movimentação no setor de obras públicas com a construção de estádios
suntuosos e caros, ampliação de aeroportos e a conquista de mil outros equipamentos
capazes de satisfazer os milhares de turistas que por certo deverão desembarcar
nestes pagos ensolarados, além de outras serventias, sabe Deus quais, já que
eleições para a presidência estarão próximas, necessitando, mais do que nunca,
de vultosos financiamentos. É verdade que não se vai fazer nem metade do que necessário
seria em matéria de urbanismo e mobilidade urbana. Mas, o que ficar pronto
deverá render o suficiente para campanha eleitoral tranquila, resolvendo
problemas conforme costumes que vão ficando arraigados na política nacional.
Não se levou em conta que entre a desastrosa Copa de 1950 e
a de 2014 muita coisa ocorreu. O desastre de 50 despertou, no brasileiro em
geral, ganas de conquista e desejo de vitória, satisfeitos, plenamente, quando
impusemos, ao mundo, em várias ocasiões a superioridade de nosso futebol. Não
faltaram slogans, músicas inflamadas, apelos patrióticos com afirmações de
que somos os reis do futebol, criando a
embaladora crença de que finalmente conquistamos um lugar no mundo, somente
tisnada com os acontecimentos da Copa da França, em 1989, quando, minutos antes
da partida final, um dos principais jogadores brasileiros, atualmente
propagandista da FIFA, deu chilique espumante, debateu-se como epiléptico e a
seleção brasileira praticamente entregou o jogo para a glória eterna da nação
francesa, que necessitava desesperadamente de uma vitória porque estava às
vésperas de mais um centenário da
Revolução de 1789. Ninguém conseguiu explicar, de fato, o que aconteceu,
resultando em que há muito “herói”, ainda vivo e falante, a merecer mais investigação
do que os elogios que sempre aparecem.
Depois do desastre de 50 a seleção brasileira foi campeã em
várias oportunidades, somando um total de cinco conquistas que provocaram
entusiasmos levando alguns clubes, na tentativa de imitar a Europa, às
culminâncias dos gastos e aos salários
sem limites, que resultaram no pobre
futebol que hoje se pratica neste país de clubes quase falidos e equipes medíocres,
devendo a deus e ao mundo mas, principalmente, ao governo, tendo que vender, para o exterior, tentando escapar da falência, os melhores
jogadores, e formar equipes de nomes de pouca fama, craques decadentes e futebol discutível. Dos
grandes técnicos que reinaram no Brasil com salários gigantescos, poucos estão
em atividade, substituídos por auxiliares não muito exigentes em matéria de
ganhos.
O povo brasileiro, ligado em futebol como poucos no mundo, perdeu
muito do antigo interesse por seleção que de brasileira tem, apenas, o rótulo. A
grande maioria dos torcedores está é preocupada com o destino dos clubes
nacionais, todos com orçamentos limitados, tempo escasso para a disputa dos próprios
campeonatos e a certeza de redução da renda já que a Copa do Mundo tomará boa
parte do ano.
A Copa não é mais artigo de primeira necessidade. Quem a viu
como reforço eleitoral pode ter superado algumas dificuldades. Não todas,
entretanto, como a da periclitante economia nacional que começa a desabar sobre a cabeça do povo.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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