Hugo Navarro da Silva |
O titulo poderia servir de nome de sensacional novela de
televisão ou tema para qualquer poeta vadio, que poderia criar nova frase
destinada à imortalidade, por exemplo, como “Visitar não é preciso. Tapear é
preciso”.
A notícia soou com ribombos de fantasias poéticas. Autoridades do governo do Estado
teriam programado, para esta semana,
sensacional visita ao que se
denomina de Centro de Convenções de Feira de Santana. Seria visita para dar
alento à obra e esperanças ao povo e não simplesmente para espantar escorpiões,
cobras, lagartos e outras espécies animais e vegetais que nas terras e paredes
nuas e inacabadas do Centro se escondem como refúgio definitivo a demonstrar a
força da natureza na questão da incrível capacidade de sobrevivência de suas
criaturas.
Durou pouco a expectativa. Veio o desmentido quase
imediatamente. Houve falha de comunicação. Nenhuma comitiva oficial
desembarcaria no famoso aeroporto de Feira, cujas obras também ameaçam ficar na
eternidade dos sonhos irrealizados, mas pelo contrário, deveria se dirigir aos
construtores da estrutura de aço
destinada ao Centro de Convenções que não existe nem deverá existir nos
próximos anos. Essa maravilhosa maneira de encarar a maneira de governar e
gerir o dinheiro do povo - utilíssima besta de carga – lembra a do construtor
naval, que aprontou as chaminés antes do casco e outra, próxima, a do governo
que antes de ter linha de ferro comprou locomotivas e vagões.
A visita, portanto, restringiu-se à velha Salvador, é o que
se supõe, cidade cheia de mistérios e todo tipo de crença inclusive a da velha
e sempre boa arte da macumba. Saravá! Merecia trio-elétrico e (como antigamente
se dizia) os encômios de toda a comunidade sempre pronta a acolher o que está
estabelecido de modo que toda mudança assume ares de violência, muitas vezes necessária mas nem
sempre ou exatamente desejada. É a tal crença expressa, grosseiramente, pelo
povo, em expressões como “fale mal mas fale de mim” e “ruim por ruim vote em
mim”. E os interessados não deslembram que o povo, que pediu, nas ruas, a queda
de Getúlio Vargas, foi o mesmo que o elegeu, depois, senador por vários Estados
da União e presidente da República. É algo que somente a psicologia poderia
explicar. Mas, como de hábito, a Psicologia explica demais, o que equivale a
nada explicar, o fenômeno continua na escuridão das incógnitas, como no caso do
“engano d’alma ledo e cego” em que incorreu a que depois de morta foi rainha, Inês
de Castro, nas imortais palavras do Luiz de Camões, que reconhece, entretanto,
que o engano “a fortuna não deixa durar muito”.
Fortuna, na lenda, era deidade “adorada como causa de todos
os acontecimento prósperos ou adversos”, às vezes representada por figura
feminina portando cornucópia. A ela atribuíam-se desgraças e venturas.
No caso do aeroporto, um eterno boato, onde poderiam ser
recebidos os visitantes do Centro de Convenções, a fortuna retraiu-se.
Escafedeu-se. No futuro suas terras poderão ser invadidas e loteadas para
formar outro bairro promissor com o nome de Jorge Américo II, como aconteceu
com o antigo campo de aviação, com UPP instalada e casa de pasto especialista
em bacalhau à moda portuguesa para
atrair gente importante e verbas federais voando de avião. Será mais uma
homenagem do governo do Estado a esta, que se está tornando heroica, teimando
em sobreviver apesar do governo estadual, a cidade de Feira de Santana.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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