Hugo Navarro da Silva |
Certamente Huxley não estava exatamente no caminho certo
quando disse que a melhor propaganda é não fazê-la porque a verdade sempre
aparece. Contrariou crença antiga segundo a qual a “propaganda é a alma do
negócio”. Publicidade já foi reclame, na linguagem popular, como diz o samba
“No tempo em que Dom-Dom jogava no Andaraí”, defendido por Dudu Nobre, e sempre
esteve no jogo do comércio. Nos Estados
Unidos o dono de circo, um certo P.T. Barnum, certa vez, para angariar público,
apresentou encarquilhada senhora de supostos 161 anos de idade, que teria sido babá de George Washington.
Segundo antiga lenda indiana, “homem sem fama é fogo sem chama”, que confirma
dito popular: o desconhecido não é desejado, repetindo o que dizia professor
dos velhos tempos: “Não posso desejar milk shake, se não sei o que é”.
Conta a História que um indivíduo apareceu em público
disfarçado de Hércules, nu, para atrair
a atenção de Alexandre, o Grande. Dono de jornal, na França, fez acordo com a
Guerlain para perfumar o periódico “La Sylphide”. O sistema fez sucesso mas provocou inúmeros
problemas domésticos. Mulheres dificilmente acreditavam que o perfume que o
marido exalava era do jornal. Outro, também na França, publicou periódico com o
nome de “Manchas de Tinta”, que não angariou muitos leitores. Quando foi
assassinado um certo Morin, episódio escandaloso porque a acusada era esposa de
deputado e poeta, pôs na rua pessoas fantasiadas de sanduíches carregando
faixas que diziam: “Morin não poderá ler Manchas de Tinta”.
A propaganda, no decorrer do tempo, aparece como a grande
arma para vencer no comércio e na política, campos em que nos últimos tempos
assumiu fundamental importância. Há outros casos como o da exploração da eterna
busca da beleza, o vão desejo de burlar o tempo e a natureza e de enganar o
próximo, que não encontram limites dentro do patético drama da existência.
O comércio cresceu, evoluiu em toda parte. Ninguém encontra
mais comerciantes fazendo a sesta sobre o balcão da loja, como não há mais
personagens das conversas de fim de tarde nos estabelecimentos do comércio. Até
os tradicionais bancos de tirinhas das farmácia, destinados ao bate-papo,
desapareceram. Tudo ficou dinâmico, prático, rápido e impessoal, ampliando a
necessidade da divulgação.
Os estabelecimentos do comércio e dos serviços cresceram em
instalações e beleza encontrando limites, entretanto, na escorcha tributária e
na ação dos ladrões, forçando a maioria a trabalhar acobertados de excepcionais
garantias. A velha afirmação de que fulano estava de “portas abertas”, perdeu o
sentido, não funciona mais. Hoje, o empresariado e até profissionais liberais
têm que trancar portas e se proteger, mesmo no horário de normal funcionamento, com trancas, cadeado, ferrolhos, câmeras de
circuito fechado, sistemas de alarme, guardas armados e portas giratórias. Os
ladrões dominam e detê-los não é tarefa simples e de baixo custo.
Mas, sobretudo na
política, a publicidade mostra-se de essencial valia, principalmente para quem
já experimentou insucesso eleitoral e pretende fazer do legislativo seu jazigo
perpétuo. Há legisladores, que mesmo estando distantes as eleições municipais,
arranjam maneiras de aparecer,
diariamente, na mídia, seja qual for o assunto, provando que o trabalho de seus
assessores é incansável, assemelhando-se ao de Duda Mendonça, que anda
distante, envolvido com o pleito presidencial
chileno. Só que não leva em conta a fadiga, o enfado, a chatice, que
atinge a publicidade em geral, se não encerra criatividade e fica a fazer
tempestade em copo d’água e a soltar balões japoneses como no caso da mudança
de nome do Bairro da Rua Nova, que ninguém deseja e só despertou desesperadas
iras dos donos dos votos daquela famosa localidade.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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