Hugo Navarro da Silva |
Em meio a notícias dessas que fazem a terra tremer, de
cambulhada com outras, exclusivas, escandalosas e aterradoras, veiculadas
somente para ser desmentidas, imediatamente, no mesmo segmento, o começo
da semana não foi tranquilo para o feirense, que terça-feira última
surpreendeu-se, tristemente, com a nota do falecimento de Carlos Müller Falcão,
conhecido e festejado comerciante desta cidade. Perdoem o lugar comum, mas o
falecimento de Carlos Falcão é grande perda para a cidade.
Filho de João Marinho Falcão, que por largo tempo liderou o
comércio local, notável representante de período que se encerrou, tragicamente,
com o incêndio e destruição das instalações da firma “Marinho, Santos &
Cia. Ltda.”, em que os comerciantes, unidos, praticamente tinham destacado
papel, exercido, ainda que indiretamente, em todos os acontecimento de relevo
da vida feirense, da política partidária à Micareta e às famosas, atraentes e
charmosas Festas de Sant’Ana de outros
tempos, Carlos Falcão gozava do respeito e da amizade geral do nosso povo.
Cresceu a cidade, o comércio, seu sustentáculo maior, se desenvolveu
até quase se ombrear, pelo menos em qualidade, ao das principais cidades do
país. Os ladrões de galinhas, os vigaristas de rua e os batedores de carteira foram
substituídos por perigosas quadrilhas de bandidos, em que figuram menores de
idade, portadores de armas de fogo e de insuperável desprezo pela vida alheia,
a imitar, em certos bairros, o que se faz no Rio de Janeiro e em São Paulo, ao
criar fortalezas quase inexpugnáveis do crime organizado, dizem, a serviço do
ilegal comércio de drogas proibidas que ultimamente vem assumindo
proporções ruinosas com destaque para o mercado do “crack”, que muitos garantiam matar
em pouco tempo, mas tem servido para ampliar a insegurança social e engordar
muita gente, inclusive alguns dos que se metem a curar, radicalmente, todos os
vícios com a ajuda superior, a que vem
dos cultos e das orações. Até agora não tem havido castigo nem dos céus nem
da terra para o grosseiro pecado.
Carlos Falcão era homem simples, generoso, dado ao povão,
embora provavelmente nunca lhe tenha passado pela cabeça a ideia de se meter
nos meandros da política e ajudar a consertar o mundo, convencido,
provavelmente, de que o mundo não tem conserto nem remendo, portador que é de
defeitos de fábrica, mais graves do que todos aqueles capazes de justificar a
devolução de qualquer outro produto.
Sabia viver, a seu modo, sempre esbanjando boa vontade e
alegria diante dos fatos da vida. Confessava que sempre ria ao lembrar do caso
de Elias, dono do “Bar São Gonçalo”, da antiga Avenida Anchieta, que andou largo tempo preocupado, queixoso e metido em investigações, porque um
seu amigo e cliente, dentro do estabelecimento, certo dia ficou a repetir: “todo mundo é muito bom, mas
meu capote sumiu”. Para Elias tinha havido
furto dentro do bar, coisa que ele não admitia.
Com Carlinhos Falcão, que não era nem muito velho, nem muito
novo, desaparece boa parte da vida da Feira de ontem, de que apenas restam,
apenas, tênues resquícios na memória de poucos, diante da velocidade e peso dos novos tempos, que Deus
ajude sejam promissores.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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