Ela nasceu no distrito de Mercês, município de São Gonçalo dos Campos e vai completar no dia 17 de novembro 86 anos. Não tem filhos biológicos, mas uma infinidade “de filhos do coração”, como dezenas de sobrinhos e outros tantos sem qualquer vínculo sanguíneo que foi colecionando ao longo de dezenas de anos dedicados a amar ao próximo, espontaneamente, de sorriso aberto.
Elizabete Dias
Marques demonstra disposição
de adolescente quando o assunto é ajudar o semelhante: a idade não dá sinais de
cansaço muito menos desânimo. Todos os dias, pontualmente às 8 horas, ela está
no Dispensário Santana, uma referência em assistência social, um sonho compartilhado
com a freira Irmã Rosa. Às 12 horas, vai para a sua residência, almoça, faz um
pequeno descanso, retorna às 14 horas e só deixa o local às 18. É um
trabalho voluntário. sem qualquer remuneração.
Chegou em Feira de Santana em 1951 - não tem boa memória para datas, gravando apenas o ano, mesmo assim de vez em quando não sabe com precisão - como tantos outros migrantes, trazendo nas mãos sonhos e esperanças de uma vida melhor. Foi trabalhar no Cartório do 2° Ofício, fez admissão ao ginásio, foi aprovada e depois cursou o Magistério, no Santanópolis, fazendo parte da primeira turma, sendo também secretária do colégio, não adianta perguntar o ano da formatura: não lembra e não dá muita importância a tais detalhes.
SEGUNDA FAMÍLIA
Depois de formada, arranjou outro emprego, no Instituto de Educação Gastão Guimarães. “Naquele tempo, era muito longe, ficava lá pras bandas de Amélia Rodrigues”, recorda-se, em meio a risos descontraídos. Dedicada ao trabalho e à família, Elizabete participou da criação dos sobrinhos - mais de 100, entre os de primeiro e segundo grau. A relação familiar é muito estreita, exercendo o papel informal de matriarca, que age de forma maternal. A trajetória profissional de Elizabete Marque, que mais tarde chegou a titular do cartório, é retilínea, marcada pela dignidade, com o reconhecimento da comunidade, que a respeita profundamente. A mulher que veio do interior de São Gonçalo trabalhou sempre com determinação, até se aposentar pela compulsória - atingiu a idade limite e por isso não pôde ficar mais na ativa.
A mulher que conquistou a admiração de Feira de Santana, que é uma das referências morais desta terra, mantém a simplicidade até hoje, com as mesmas características, avessa a publicidade, tímida por natureza, somente tornando-se um pouco mais efusiva quando no recinto familiar ou com amigos próximos ou no Dispensário Santana, “minha segunda família”.
CHEQUE POLPUDO
Elizabete Marques e a religiosa Rosa Aparecida, também Santanopolitana (foi professora de religião), um dia se conheceram e se tornaram irmãs siamesas, tendo, como elo de união, a vontade de servir ao próximo. Um dia, Irmã Rosa revelou que tinha o sonho de construir um espaço para abrigar os desamparados. Elizabete contou que a Diocese de Feira de Santana tinha um terreno no Jardim Acácia e se ela teria coragem de pedir ao então bispo Dom Silvério Albuquerque.
“Respondi no ato: vamos pedir”, recorda-se Irmã Rosa. “Para servir aos outros, peço mesmo, sem qualquer cerimônia”, completa. O bispo atendeu ao pedido, mas as duas não conheciam o terreno, com topografia acidentada, mais parecendo um morro. As duas passaram a divulgar a idéia de construção de uma obra beneficente e foram conquistando adesões.
O arquiteto Luiz Humberto conheceu o terreno e fez o projeto. Meio caminho andado: faltava dinheiro para iniciar a construção. Alguém confidenciou a religiosa que a esposa de Ângelo Calmon de Sá estava pretendendo contribuir para uma obra de caridade. As duas, juntamente com D. Cecília Carvalho e Consuelo Veloso foram visitar Ana Maria, mulher do então ministro da Agricultura. Conseguiram um cheque polpudo do na época presidente do Banco Econômico.
POÇO DE TERNURA
Os trabalhos foram iniciados e no dia 29 de maio de 1983 Elizabete e Irmã Rosa, com lágrimas marejando os olhos e o coração aos pulos de tanta felicidade. inauguraram o Dispensário Santana, inicialmente para abrigar idosas desamparadas, uma obra sempre em expansão, que nunca termina. Agora, tem capela, posto médico, uma escola que atende mais de 600 crianças em tempo integral, padaria, fábrica de confecção, de sorvete e picolé e novos projetos engatilhados.
Em novembro, Elizabete Marques estará completando mais um aniversário. Não quer festa nem badalação, mas algo simples, como uma canção que fale da vida, do amor, de sonhos e esperanças e, principalmente, de solidariedade. “Deus já me deu tanto, tantas bênçãos que tenho que dar um pouquinho de mim para os mais necessitados, para crianças e adolescentes que precisam de carinho, de cuidados para caminhar rumo ao futuro, dos idosos desamparados, que precisam viver, com dignidade, a última fase da vida”.
Poderia ser uma canção cantada por um grande coral composto por crianças, de todas as cores, acompanhadas por anjos tocando harpas para celebrar mais um aniversário de uma pessoa que é um verdadeiro poço de ternura e amor.
Chegou em Feira de Santana em 1951 - não tem boa memória para datas, gravando apenas o ano, mesmo assim de vez em quando não sabe com precisão - como tantos outros migrantes, trazendo nas mãos sonhos e esperanças de uma vida melhor. Foi trabalhar no Cartório do 2° Ofício, fez admissão ao ginásio, foi aprovada e depois cursou o Magistério, no Santanópolis, fazendo parte da primeira turma, sendo também secretária do colégio, não adianta perguntar o ano da formatura: não lembra e não dá muita importância a tais detalhes.
SEGUNDA FAMÍLIA
Depois de formada, arranjou outro emprego, no Instituto de Educação Gastão Guimarães. “Naquele tempo, era muito longe, ficava lá pras bandas de Amélia Rodrigues”, recorda-se, em meio a risos descontraídos. Dedicada ao trabalho e à família, Elizabete participou da criação dos sobrinhos - mais de 100, entre os de primeiro e segundo grau. A relação familiar é muito estreita, exercendo o papel informal de matriarca, que age de forma maternal. A trajetória profissional de Elizabete Marque, que mais tarde chegou a titular do cartório, é retilínea, marcada pela dignidade, com o reconhecimento da comunidade, que a respeita profundamente. A mulher que veio do interior de São Gonçalo trabalhou sempre com determinação, até se aposentar pela compulsória - atingiu a idade limite e por isso não pôde ficar mais na ativa.
A mulher que conquistou a admiração de Feira de Santana, que é uma das referências morais desta terra, mantém a simplicidade até hoje, com as mesmas características, avessa a publicidade, tímida por natureza, somente tornando-se um pouco mais efusiva quando no recinto familiar ou com amigos próximos ou no Dispensário Santana, “minha segunda família”.
CHEQUE POLPUDO
Elizabete Marques e a religiosa Rosa Aparecida, também Santanopolitana (foi professora de religião), um dia se conheceram e se tornaram irmãs siamesas, tendo, como elo de união, a vontade de servir ao próximo. Um dia, Irmã Rosa revelou que tinha o sonho de construir um espaço para abrigar os desamparados. Elizabete contou que a Diocese de Feira de Santana tinha um terreno no Jardim Acácia e se ela teria coragem de pedir ao então bispo Dom Silvério Albuquerque.
“Respondi no ato: vamos pedir”, recorda-se Irmã Rosa. “Para servir aos outros, peço mesmo, sem qualquer cerimônia”, completa. O bispo atendeu ao pedido, mas as duas não conheciam o terreno, com topografia acidentada, mais parecendo um morro. As duas passaram a divulgar a idéia de construção de uma obra beneficente e foram conquistando adesões.
O arquiteto Luiz Humberto conheceu o terreno e fez o projeto. Meio caminho andado: faltava dinheiro para iniciar a construção. Alguém confidenciou a religiosa que a esposa de Ângelo Calmon de Sá estava pretendendo contribuir para uma obra de caridade. As duas, juntamente com D. Cecília Carvalho e Consuelo Veloso foram visitar Ana Maria, mulher do então ministro da Agricultura. Conseguiram um cheque polpudo do na época presidente do Banco Econômico.
POÇO DE TERNURA
Os trabalhos foram iniciados e no dia 29 de maio de 1983 Elizabete e Irmã Rosa, com lágrimas marejando os olhos e o coração aos pulos de tanta felicidade. inauguraram o Dispensário Santana, inicialmente para abrigar idosas desamparadas, uma obra sempre em expansão, que nunca termina. Agora, tem capela, posto médico, uma escola que atende mais de 600 crianças em tempo integral, padaria, fábrica de confecção, de sorvete e picolé e novos projetos engatilhados.
Em novembro, Elizabete Marques estará completando mais um aniversário. Não quer festa nem badalação, mas algo simples, como uma canção que fale da vida, do amor, de sonhos e esperanças e, principalmente, de solidariedade. “Deus já me deu tanto, tantas bênçãos que tenho que dar um pouquinho de mim para os mais necessitados, para crianças e adolescentes que precisam de carinho, de cuidados para caminhar rumo ao futuro, dos idosos desamparados, que precisam viver, com dignidade, a última fase da vida”.
Poderia ser uma canção cantada por um grande coral composto por crianças, de todas as cores, acompanhadas por anjos tocando harpas para celebrar mais um aniversário de uma pessoa que é um verdadeiro poço de ternura e amor.
Transcrito do "O Metropolitano", publicação mensal veiculado como encarte do jornal diário "Folha do Estado", edição de 17/09/2014.
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