Hugo Navarro Silva |
No início dos anos quarenta a Rádio Sociedade da Bahia fazia
sucesso nesta cidade onde o rádio era a grande novidade e os receptores
passavam a ingressar nos lares inaugurando tempo em que se ligava rádio para ouvir música. Hoje, desliga-se.
Em 1943 o professor, advogado, jornalista e escritor
Adroaldo Ribeira Costa criou, na Rádio Sociedade, a “Hora da Criança”, programa
levado ao ar nas manhãs de domingo, com a participação de grandes nomes das
artes e letras da Bahia. O programa triunfou de forma retumbante. Conquistou o
povo. Adroaldo foi o autor do Hino do Esporte Clube Bahia, o do “somos a turma
tricolor”, empolgante composição que inflama o povo nos estádios e no Carnaval,
gravado em disco, pela primeira vez, pela banda do Corpo de Bombeiros de
Salvador com a participação de grande coro de torcedores.
Um professora de piano desta cidade, que cultuava as letras
e a música, Alcina Dantas, certamente
levada pelo êxito de Adroaldo, introduziu, na Rádio Sociedade de Feira,
programa infantil nos mesmos moldes. A estação local, ainda de propriedade e
sob a direção de Pedro Matos, funcionava no andar superior de prédio de Durval
Capirunga do Lago na esquina da Praça Fróes de Mota com a Rua Mons. Tertuliano.
Pedro Matos, que anda esquecido como a profª. Alcina, teve vida de luta e de
superação. Foi barbeiro, caricaturista com exposições no hall da Prefeitura,
jornalista e empresário do setor gráfico. Fundou a “Gráfica da Feira”.
No programa da professora Alcina a criançada cantava, tocava
instrumentos, declamava, participava de esquetes e de jogos. O programa
divertia e educava. Alcançou êxito imediato.
A professora Alcina, entretanto, não ficava apenas no rádio
e no piano. Escrevia, fazia poemas e canções.
Em sua casa, na esquina da Av. do Senhor dos Passos com a
Rua Capitão França (Beco do França) promovia saraus que atraiam literatos,
cantores, declamadores e músicos.
Aquelas reuniões não podem ser comparadas, é verdade, às
retratadas em pinturas celebres como a de Guglielmo Zoochi e, muito menos, à descrita na composição de José Maria
de Abreu e Luiz Peixoto, “E Tome Polca”, defendida em disco pelo
menos por duas cantoras famosas, Marlene e Maria Alcinda, e acabava às onze horas:
“São onde horas/ apaga o gás/ E assim termina o bailarico das Novaes”.
Embora se encerrassem, também, às onze horas, porque passar
de tal horário fora de casa, na época, era coisa de gente perdida, irresponsável,
devassos, desordeiros, farristas e bêbados,
os saraus da Professora Alcina já contava com a luz da Companhia de Energia Elétrica da Bahia
(CEEB), que vendia energia da usina da
Barragem de Bananeiras, que jaz, hoje, sob as águas do Lago de Pedra do Cavalo.
Odiada pelos comunistas, que a julgavam americana (era canadense), a CEEB teve
as vitrines de sua sede, na Rua Conselheiro Franco, quebradas a pedradas em
passeata noturna. A CEEB dominava não apenas a energia elétrica, mas o primitivo
serviço telefônico. Os constantes e demorados “pregos” ou apagões ocorriam quando
baixava o nível da água do Rio Paraguassu, o que acontecia no verão ou durante
os períodos de seca, estimulando o combate dos esquerdistas.
Dentre os frequentadores dos saraus de Alcina Dantas estavam
Antônio Garcia, redator da “Folha do Norte”, professor de Geografia do Ginásio
Santanópolis, e Vilobaldo Silva, tipógrafo, declamador, escritor e cantor, que
se apresentou, com Euclides Mascarenhas e a pianista e poetisa Georgina de
Mello Erismann, na inauguração do primeiro serviço de altos falantes da cidade,
o da “Casa da Louça” de Hermógenes Santana.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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