Jailton Batista |
Existem frases, comentários, discursos,
palavras, imagens, gestos etc. que, pronunciados, escritos ou demonstrados em
determinadas circunstâncias, entram para a história e se eternizam como uma
sinfonia de Mozart ou as quatro estações de Vivaldi; Gene Kelly cantando
Singing in theRain; Getúlio Vargas saindo da vida para entrar na História; o
presidente Juscelino e uma promessa de fazer em cinco o que levaria cinqüenta
anos; Jânio, 1 quem sabe, embriagado, assumindo responsabilidades: “fi-lo
porque quilo” ou “bebo porque é líquido, se sólido fosse comelo-ia”,
referindo-se ao uísque; Martin Luther King tendo um sonho de igualdade; Marilyn
Monroe e seu vestido esvoaçante incendiando o imagináriç masculino; a tánga de
Gabeira na volta do exílio; a barriga pronunciada de Leila Diniz numa praia
carioca; um vagabundo malicioso ou um bêbado de chapéu coco passeando no cinema
de Charles Chaplin...
São tantas imagens e tantas cenas impregnadas em nossa memória, que nos trazem uma doce nostalgia, uma lembrança de vida impagável, que atravessará décadas, séculos ou uma geração inteira, tamanha é a presença e repercussão em nossa história.
Quem um dia teve a chance de trabalhar no Jornal Folha do Norte - o periódico mais antigo em circulação na Bahia e uma espécie de rito de passagem de muitos jornalistas feirenses -, jamais esquece o sarcasmo, a fina ironia, o humor e a figura do seu diretor e editorialista Hugo Navarro Silva, o jornalista mais ferino, mais brilhante e mais romântico que Feira de Santana já produziu. Diante das mais inverossímeis situações ou de fatos estapafúrdios que marcam o dia a dia de uma redação de jornal, Hugo Silva tinha uma única frase, implacável e definitiva, qualquer que fosse a circunstância:
São tantas imagens e tantas cenas impregnadas em nossa memória, que nos trazem uma doce nostalgia, uma lembrança de vida impagável, que atravessará décadas, séculos ou uma geração inteira, tamanha é a presença e repercussão em nossa história.
Quem um dia teve a chance de trabalhar no Jornal Folha do Norte - o periódico mais antigo em circulação na Bahia e uma espécie de rito de passagem de muitos jornalistas feirenses -, jamais esquece o sarcasmo, a fina ironia, o humor e a figura do seu diretor e editorialista Hugo Navarro Silva, o jornalista mais ferino, mais brilhante e mais romântico que Feira de Santana já produziu. Diante das mais inverossímeis situações ou de fatos estapafúrdios que marcam o dia a dia de uma redação de jornal, Hugo Silva tinha uma única frase, implacável e definitiva, qualquer que fosse a circunstância:
- Estamos liquida-dos!
Se fosse possível, o autor poderia muito bem
patentear a frase, que era mais do que uma simples expressão diante do
inusitado. Pela sonoridade com que era pronunciada, muitas vezes acompanhada
por aspirais de fumaça dançando em torno dele, o “estamos liquidados” de Hugo
Silva era como se fosse uma sentença segundo a qual se não há jeito a dar,
fazer o quê?, vamos em frente, é preciso fechar a edição do jornal, afinal, do
ser humano sempre se espera uma atitude, um gesto, urna saída. Do contrário,
estamos mesmo todos liquidados. Sempre dizia a sua famosa frase balançando as
longas mãos, amiudando os olhos e enfumaçando as palavras como se quisesse
embriagá-las de jocosidade. Todos os funcionários se apropriaram da expressão
do dono jornal, de tal sorte que, diante de qualquer fato embaraçoso, do atraso
eventual do salário, do enguiço da impressora ou de uma visita indesejada, logo
alguém resumia a situacão com um ‘Lestamos liquidados”.
Apreciador de uma boa prosa, que ficava melhor acompanhada de um bom uísque, um dia Hugo Silva demorou a entregar o seu sempre esperado editorial - a peça mais brilhante da sua gazeta -, o que já impacientava toda a equipe da oficina gráfica. Esperar o editorial do jornalista era já uma rotina na Folha. Todos ficavam à espreita, aguardando a hora em que ele ia chegar para sentar e escrever o editorial, com o cigarro pendurado no beiço, às vezes sem poder esconder o bafo do uísque bebido com Tiara - um velho amigo, companheiro de farra, comerciante tradicional da SaIes Barbosa. Para os funcionários da gráfica era um enorme alívio quando ele adentrava a redação, começava a batucar a velha Remington, numa cadência impressionante, e quinze minutos depois entregava duas laudas praticamente sem rasuras e um texto impecável. E foi assim que um dia alguém o comparou apropriadamente ao nosso Vinicius de Moraes, dado que naquele tempo o poetinha, o cigano e o copo de uisque eram a melhor expressão de boemia e inspiração para a Bossa Nova.
Quano Hugo Silva tornou-se deputado estadual, com os compromissos e protocolos da missão parlamentar, além dos deveres de bom advogado, a espera pelo editorial se agravou ainda mais. Certo dia, quando já era quase meia noite, o chefe da gráfica, já cansado de esperar, fora até o chefe de redação e implorou para que fechasse a edição. Mas como fazer isso sem o editorial do dono do jornal? Depois de alguma discussão e de medir riscos e consequências, um gráfico espirituoso apontou a solução:
- Escreva aí que o último editorial vai ser repetido a pedido dos leitores!
Quando a velha impressora já matraqueava a edição do dia seguinte, eis que a figura de Hugo Silva surge na porta do jornal, ali na rua Benjamin Constant, ao lado do Mercado Central. Um clima de tensãó toma conta da gráfica. E agora? Quando percebe que o jornal está rodando sem o seu novo editorial, o velho editorialista, em tom de galhofa, comenta:
- Pelo visto, já fui demitido.
Todos se põem a rir e ele emenda:
-Estou liquidado!
Apreciador de uma boa prosa, que ficava melhor acompanhada de um bom uísque, um dia Hugo Silva demorou a entregar o seu sempre esperado editorial - a peça mais brilhante da sua gazeta -, o que já impacientava toda a equipe da oficina gráfica. Esperar o editorial do jornalista era já uma rotina na Folha. Todos ficavam à espreita, aguardando a hora em que ele ia chegar para sentar e escrever o editorial, com o cigarro pendurado no beiço, às vezes sem poder esconder o bafo do uísque bebido com Tiara - um velho amigo, companheiro de farra, comerciante tradicional da SaIes Barbosa. Para os funcionários da gráfica era um enorme alívio quando ele adentrava a redação, começava a batucar a velha Remington, numa cadência impressionante, e quinze minutos depois entregava duas laudas praticamente sem rasuras e um texto impecável. E foi assim que um dia alguém o comparou apropriadamente ao nosso Vinicius de Moraes, dado que naquele tempo o poetinha, o cigano e o copo de uisque eram a melhor expressão de boemia e inspiração para a Bossa Nova.
Quano Hugo Silva tornou-se deputado estadual, com os compromissos e protocolos da missão parlamentar, além dos deveres de bom advogado, a espera pelo editorial se agravou ainda mais. Certo dia, quando já era quase meia noite, o chefe da gráfica, já cansado de esperar, fora até o chefe de redação e implorou para que fechasse a edição. Mas como fazer isso sem o editorial do dono do jornal? Depois de alguma discussão e de medir riscos e consequências, um gráfico espirituoso apontou a solução:
- Escreva aí que o último editorial vai ser repetido a pedido dos leitores!
Quando a velha impressora já matraqueava a edição do dia seguinte, eis que a figura de Hugo Silva surge na porta do jornal, ali na rua Benjamin Constant, ao lado do Mercado Central. Um clima de tensãó toma conta da gráfica. E agora? Quando percebe que o jornal está rodando sem o seu novo editorial, o velho editorialista, em tom de galhofa, comenta:
- Pelo visto, já fui demitido.
Todos se põem a rir e ele emenda:
-Estou liquidado!
Transcrito do Jornal "Folha do Norte", edição de 17/09/2013, comemorativa de aniversário de 104 anos, da publicação mais antiga do Estado da Bahia.
O Blog do Santanópolis publica toda semana o jornalista, Santanopolitano, Hugo Navarro Silva
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