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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A TENDÊNCIA AO “CORDELIVRO” E A UMA LITERATURA DE PAINEL COMO FUTURO DA LITERATURA DE CORDEL

Franklin Maxado é bacharel em Direito e em Jornalismo, poeta, ex-Presidente da AFL-Academia de Letras de Feira de Santana e também do IHGFS- Instituto Histórico e Geográfico, ex-diretor dos museus Regional de Arte e Casa do Sertão, além de ter trabalhado em vários jornais da Bahia e de São Paulo

(franklinmaxado@gmail.com )



Devo lançar em Portugal a” Nova Antologia de Cordelistas Baianos” onde analiso no prefácio a transformação do Cordel que será a matéria – prima da minha fala no dia 16 de dezembro na Universidade de Lisboa convidado para a III Jornadas Internacionais de Literatura de Cordel e Xilogravura.


Nesta edição da Nordestina Editora, também está publicado o meu folheto “Romance do Cavaleiro Eurico Contra Mouros” no qual versejo o livro do português Alexandre Herculano que trata da formação de Portugal expulsando os árabes.

Os folhetos que identificam a chamada Literatura de Cordel agora estão evoluindo para livros grossos de capa dura ou brochuras devido ao ganho de um novo público, mais abonado, culto e exigente. Já estão chamando de “Cordelivro” que é volume contendo coletânea, antologia, seleção ou reunião de casos populares, embora mais revisados e com ilustrações mais elaboradas. Está entrando no gosto do burguês, penetrando e sendo discutidos em universidades e academias, vendidos nos âmbitos de livrarias, exibidos em cartazes, catálogos, mostruários e em painéis de plásticos ou na Internet.

Aí, evoluem para os “e-books”.

Enquanto isso, seus verdadeiros leitores, ou gente do povo, estão indo para o telefone celular e consumindo postagens de notícias, casos, memes e outras coisas que atiçam a curiosidade. É uma comunicação rápida e visual sem precisar de muito esforço para ler e pensar.

A publicação “Nova Antologia de Cordelistas Baianos” traz folhetos de 30 autores baianos, inclusive o de Maxado Nordestino e do seu editor, o poeta Zeca Pereira. É, desse modo, o que posso chamar de um “cordelivro”, locução que ouvi pela primeira vez do poeta cordelista Crispiniano Nero, na década de 1.990, em Brasília quando ele lançou “Lula e a Literatura de Cordel” em um tomo.

A Literatura de Cordel sempre sofreu metamorfoses, mudando e se adaptando com as formas de Comunicação, Antes, eram os casos, as cantigas e os romances contados, cantados ou declamados. Ou folhas de papel manuscritas. Depois, com o advento da Imprensa em tipografias, puderam ser impressos e vendidos em feiras e locais públicos, dependurados ou cavalgando barbantes ou cordéis, servindo para expositores.

Depois, surgiu a “off set”, a xerox, a fotografia e outros métodos de impressão.

Também, puderam ser transmitidos pelo rádio, bem como depois pela televisão.

Quanto à Xilogravura, muitos poetas e editores continuam dando valor e se valendo dela para ilustrar suas capas de folhetos, É ponto comum que ela valoriza o folheto embora seja dispensável ante a fotografia, o desenho e figuras disponíveis na Internet. Entretanto, os xilógrafos continuam existindo e precisados pois, além do Cordel, são queridos pelos seus trabalhos para quadros de paredes, estampas de tecidos, ilustrações de discos e de outros itens que personalizam a obra. E, muitos xilogravadores brasileiros recebem encomendas internacionais ou têm trabalhos valorizados por turistas ou colecionadores estrangeiros.

O folheto assim foi se adaptando e mudando sua apresentação para disco cd,” pendrive”, etc.   Todavia, o telefone celular, numa época de rapidez, faz com que um novo público o consuma como se fosse do seu universo de interesse, o livro propriamente dito. Aí, claro, que sua linguagem fica mais trabalhada, com ilustrações mais elaboradas entrando até a cor. O limite entre o popular e o erudito se dilui e é possível que o folheto sucumba e vire marca de uma época como já aconteceu em Portugal, na Espanha, França. Alemanha, Itália, Holanda e em outros países, segundo dão conta muitos estudiosos e pesquisadores.

Em Portugal, notamos um interesse crescente em resgatar essa Literatura, notadamente por parte de intelectuais como Antônio Abreu Freire que escreve livros sobre   o tema, acentuando a contribuição de versejadores árabes e judeus. Além de universidades que estudam o fenômeno. Poetas e cantadores repentistas estão sempre convidados para se apresentarem, havendo ainda quem lembre do “Descante” ou peça um fado improvisado, ou a chamada ’Desgarrada’.

Na parte impressa, a tradição lusa era em prosa como o livreto “Carlos Magno e os Doze Pares de França” talvez o livro mais lido no tempo do descobrimento e colonização do Brasil, era em prosa. Como em prosa também eram folhetos populares atribuídos a escritores como Almeida Garret, Guerra Junqueiro, José Maria Barbosa Du Bocage, Camilo Castello Branco, Gregório de Mattos Guerra e outros que não se pode afirmar a autoria por escreverem sob pseudônimo ou anonimamente devido os textos críticos ou de ataques.

Não podemos esquecer Gil Vicente pois seu teatro era eminentemente popular pois versava sobre acontecimentos do povo, embora suas peças mão fossem publicadas em livretos.

O intelectual João David Pinto-Correia, que nomeia estas Jornadas, é, entre outros nomes, um estudioso da Literatura de Cordel portuguesa classificando suas manifestações e cuja obra merece ser estudada. Ao lado da de Baltazar Dias ou de Albino Forjaz de Sampaio.

No Brasil, a Literatura de Cordel resiste e, talvez, se metamorfoseie muito mais e por muito mais tempo, alcançando Brasília, São Paulo, a Amazônia, o sul do país e até o Oeste. Muitos jornalistas se sentem próximos da atividade e assim criaram a modalidade “Entrevista” que deixa livre a quantidade de estrofes que perguntam ou que respondem, diferenciando-se das “Pelejas” ou “Encontros” pois nelas há a regra tradicional de um personagem falar e o outro responder, cada um se atendo em uma estrofe,

A atuação do Cordel no Brasil continua a ter influência  de personagens portuguesas como José do Telhado, Camões, Bocage, Pedro Malazartes, bem como casos e acontecimentos  devido a raiz comum e intercruzamento de  seus indivíduos, muitos tendo origens comuns por família ou por costumes Muitos  temas são recriados e atualizados.  O intercâmbio cultural entre brasileiros e portugueses   vem estimulando essa manifestação   e é possível que também incentive a criação e o desenvolvimento da Literatura de Cordel no mundo lusófono a exemplo do que já ocorreu em Macau.

Enfim, a matéria-prima do Cordel é a palavra e a conversa sobre casos de interesse popular e isso nunca irá se acabar enquanto houver sociedade. Mudam as formas de dizer e até podem ser acopladas com música, desenho, expressão corporal, desenvolvendo técnicas e modos, mas a essência persiste.


 

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