Por mais que pareça fatal
O que o futuro nos espera,
A dúvida surge, afinal,
No centro da nossa tela.
Vendo se assemelhar no horizonte
O que sugere fenômenos parecidos,
Pensamos
brotar, da mesma fonte,
A construção dos mesmos tecidos.
Mas a realidade se revela
Como tintas de aquarela
Em seu próprio caminhar.
De forma brusca ou sincera
Ela própria se acautela
Quando quer se
manifestar.
PRISMAS DA SILHUETAS DO SOCIAL
A sociedade constrói os
seus próprios mecanismos de funcionamento, complexidades, cortes, quebras de
referências e traumas. É o homem vivendo e vivenciando as suas histórias e por
elas sendo construído, direcionado, ressignificado e, como consequência,
plantando e colhendo determinações.
O mito dá sentido à
existência do mundo, do homem e do homem no mundo. O ritual consolida o projeto
da vida humana sendo vivida, aqui e agora. Os códigos organizam e administram
os dois e, da interação dessa trialidade, nascem as faces mais visíveis dos
sentimentos.
Os estudiosos do social
sabem que inexistem - porque inteiramente impossível de acontecer -, tanto uma
cultura que não se assente sobre mitos, como uma sociedade em que não haja
rituais. Os dois constroem e desconstroem as noções de tempo, espaço, ordem,
desordem e tudo mais que for necessário para evitar o caos.
Com a modernização dos
transportes e consequente aumento da velocidade, o espaço se contrai ou se
dilata, dependendo da observação daquele que o usa. O termo longínquo, por
exemplo, está em franco desuso, enquanto perto e longe depende, sempre, da
continuidade ou descontinuidade das visitas a locais determinados.
A sensação do tempo que
passa é mais rápida ou vagarosa, a depender do prazer ou da dor que um
determinado evento existencialmente proporcione. O prazer comprime o tempo, a
dor o dilata. O prazer alarga o espaço, a dor o reduz. Necessitamos inventar
vários tipos de passado, contraditórias formas de presente, incongruentes projeções
de futuro. Ou fazemos tudo isso ou não conseguiremos administrar o nosso
espaço, grande demais para o nosso corpo, muito pequeno para os nossos sonhos.
Essas reflexões, até
agora elaboradas, nos fazem ver que o homem é um construtor. Construtor da vida
e da morte. Como a vida se faz por etapa, por etapa se fará também a sua
história. E o passado reinventado na tentativa incessante da eterna busca das
origens. Essa reorientação coloca o presente no reino da luz e o passado no
mundo das trevas.
Os deuses do passado são
os demónios da presente. Assim, podemos colocar um duplo processo na ação
humana, que seria o resgate da cultura posta e no retrabalhar constante em sua
prática religiosa, o que se confunde com o próprio sentido da existência: o seu
património de significados - a reinvenção de uma nova continuidade cultural.
O sentido da coerência, o
desejo da conservação, a elaboração das sequências e quaisquer outros elementos
de cultura presentes na construção do tempo significam, sempre, viver um determinado
legado, ou seja, um estipulado perfil do espaço que perpassa de uma face do
tempo para outra.
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