Edvaldo M. Boaventura 1933-2018 |
FEIRENSE - Bacharel
em direito, e ciências sociais (UFBA), professor da mesma Universidade
Boaventura estudou ainda em Paris no Instituto International de Planificação de
Educação da Unesco e fez mestrado e pós-graduação em educação na Pennsylvania
State University.
Ao saudar os membros da CPLP, destaco em especial, a realização conjunta
deste Congresso com o I Encontro de Educação à Distância dos Países de Língua
Portuguesa. São oito os países irmãos que constituem a nossa comunidade
lusofalante: Cabo Verde - afortunadas e bem-aventuradas ilhas do Atlântico, que
constituem com outros arquipélagos a Macarronésia; Guiné-Bisau; São Tomé e
Príncipe; Angola, presente na representação de Vitor Narciso; Moçambique -
expressiva delegação de sete membros; Alberto Ricardo Mondiane, Anísio
Matangala, Alípio, Vitorino, Amadeu, Miguel e Elsa Pereira, sentimento o mais
profundo com a nossa mãe África; Timor-Leste, representado por Adalfredo de
Almeida; Portugal, presente com João C. Paiva; e Brasil, na pessoa de Marcos
Maciel Formiga.
Quando o escritor José Saramago
visitou a sede da CPLP, em Lisboa, em dezembro de 1998, escreveu no livro de
honra este pensamento que tomo como norte desta saudação.
Casa de todos nós, a CPLP é o lugar onde o futuro nos espera, mas não
poderá haver futuro se o presente não se puser a trabalhar. Trabalharemos,
pois, porque o futuro está à espera e é preciso ganhá-lo hoje.
É bom que recordemos para os
presentes aquele 17 de julho de 1966, quando os países acordaram em criar a
CPLP:
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,
doravante designada por CPLP, é o foro multilateral privilegiado para
aprofundamento da amizade mútua, da concertação político-diplomática e da
cooperação entre seus membros (Art.1º Denominação).
11s Congresso Internacional de Educação a Distância. I Encontro
de Educação a Distância de Países de Língua Portuguesa. Explanação do ambiente
macroeducacional nos países de língua portuguesa. Salvador, 7-10 de setembro de
2004.
A
CPLP desenvolve-e pelo trabalho dos oito estados independentes e soberanos,
fruto de um passado com traços comuns que partilham a mesma língua.
Nos fundamentos dos programas da CPLP,
destacamos o fato primeiro da língua:Por isso, a língua constitui o principal
elo de aglutinação, bem como o elemento que distingue a CPLP das demais
organizações internacionais.Tendo consciência de que o português é uma das
línguas mais faladas em todo o mundo e, sobretudo, por constituir, atualmente,
a marca mais viva de um património comum dos Estados que a compõem a CPLP
estabeleceu como prioridade do seu plano de ação a sua valorização, que passará
pelo intensificar da cooperação entre os países membros, principalmente, em
nível universitário, da formação profissional e dos diversos setores da
investigação científica e tecnológica, bem como no intercâmbio cultural e na
difusão da criação intelectual e artística no espaço da comunidade.
E, se a língua é um património cultural
é também através da cultura que ela evolui e se consolida.
Se me fosse permitido, destacaríamos
nesta saudação alguns aspectos econômicos, educacionais e comunitários.
1 CULTURA E NEGÓCIO
Como organismo internacional
lusofalante, é possível uma ampla discussão no mundo da cultura e dos negócios,
com o português sendo ao mesmo tempo conduto e conteúdo. Recordamos bem a
propósito a 3a Convenção Internacional "Negócios da Lusofonia",
reunida na Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, em abril de 1999, por ser uma
insurgência que evidenciou a viva participação da CPLP, pela palavra e pela
presença do seu então secretário-executivo, Dr. Marcolino Moco. Pela primeira
vez, comparecemos a uma reunião internacional, totalmente em português, e
testemunhamos os primeiros passos não somente no campo da cultura fundante na
língua de Camões, de Pessoa, e de Machado de Assis, como também na objetividade
da gestão de negócios. Na abertura da convenção, o Dr. Moco assinalou.
Como
já afirmei anteriormente, reputo a cooperação empresarial como a das mais
importantes no âmbito da promoção do desenvolvimento, porque conta com um
potencial de realização muito superior do verificado até o momento e,
sobretudo, porque implica o fortalecimento do setor privado e da sociedade
civil dos nossos países.
Privilegia-se a possibilidade da discussão
de negócios prevendo-se investimentos na confortável condição da língua
materna. A discussão daí oportunidades de negócios em uma perspectiva que
prosseguirá no presente e no futuro. Nessa linha económica de negócios, gestões
e políticas, foi proposta pelo professor Ernani Lopes uma agenda em sete domínios
comércio, investimento, mecanismos de financiamento, formação de recursoí
humanos, política económica, parceiros sociais globais e programas especiais
uma agenda económica sugerida pela inteligência de Ernani Lopes, para querr
"o desenvolvimento económico e social faz-se com empresários,não corr
burocratas”.
A sabedoria de Feira de Santana, minha
cidade natal, portal de entrada do Sertão baiano, ensina que o negócio é bom
quando for bom para dois. Na CPLP, para os oito. As amizades pessoais
consolidam-se na mesa, as amizades entre as nações, com investimentos. Seria de
todo aconselhável que aí reuniões acadêmicas fossem também de articulação de
negócios, como a diplomacia de hoje continuamente orientada para o comércio e
para novos investimentos. Business oriented.
2 ESPAÇO PARA EDUCAR
O segundo aspecto que gostaria de sublinhar
nesta saudação é o esforço de educar o jovem estudante da CPLP. Tomo como
símbolo a minha aluna de Mestrado em Direito da UFBA, Quida, de Moçambique.
Educar no alcance das distâncias e das proximidades. Conforme o nosso
presidente Fredric M Litto, da Associação Brasileira de Educação a Distância
(ABED), em artigo para o jornal A Tarde, "O setor educacional que mais
cresce, mundialmente hoje, é o da aprendizagem à distância".
Voltemos os nossos jovens estudantes da
CPLP para o aproveitamento das potencialidades da comunidade, tanto os jovens
alunos como os novos professores muito aproveitarão pela parceria e pelo
intercâmbio em mão dupla.
Que os nossos alunos circulem no
interior da comunidade, nas duas margens deste grande rio, que é o Atlântico,
em um clima de educação aberto e de educação a distância. Educação aberta, em
um clima de open education que se
concretiza na qualidade do relacionamento entre professor e alunos e alunos
entre si. Adalfredo de Almeida, de Timor-Leste, na abertura deste congresso
exemplificou a aprendizagem do português pela Fundação Roberto Marinho. Na
Bahia, lutamos pela educação dos afrodescendentes. É ume vergonha nacional a
ausência dos negros brasileiros nas nossas universidades por isso, temos que
lutar por cotas para os originários das escolas públicas que são os pobres, os
negros e os indígenas. As cotas é um tipo de ação afirmativa. Temos que ir à
nossa mãe África para conhecer e aprofundar origem da nossa rica e portentosa
herança africana, em especial para a nação baiana. A cooperação efetivando-se
na educação, saúde e administração, meio ambiente, agricultura, transporte,
telecomunicação, turismo, pesca e comunicação social.
3 A COMUNIDADE LUSOFALANTE
Um terceiro e último aspecto para
finalizar esta breve saudação trata-se da abrangência de outras comunidades de
expressão lusofalante.
Se somos oito os países soberanos que
constituem a organização, existem outros tantos espaços comunitários de
expressão lusitana.
O estatuto dos observadores contempla
três categorias: associados, que são todos os estados que não podem aderir à
Declaração Constitutiva ou aos Estatutos; permanentes, que são as organizações
internacionais e organismos intergovernamentais; e os observadores convidados.
São os representantes das
organizações e movimentos políticos dos territórios não-autônomos onde se fala
português, sem restrições a quaisquer correntes de pensamento político; os
representantes de comunidades de Língua Portuguesa de países não-membros ou
organizações de países não-lusófonos com interesse na língua portuguesa, bem
como Organizações Não Governamentais envolvidas em ações de cooperação no
espaço da CPLP.
Parece-nos
ser, entre outros, o exemplo de Macau e de Malaca, cidade estado-membro da
Malásia, é uma comunidade lusofalante com mais de 4500 residentes e contando
com os que estão fora somam um total de 30000 de origem portuguesa e
euro-asiático em toda a Malásia.
O destino da CPLP começa no Tejo,
transpõe o Atlântico e, dobradas as boas esperanças, alcança-se o índico que se
estreita em Malaca para atingir a plenitude do Pacífico. No possível roteiro
camoniano, estão todas as lusitânias perdidas - Goa, Damão e Diu, as
encontradas e as reencontradas pela fidelidade ao idioma. É por isso que
procuramos talvez romântica e baianamente, nos atos constitutivos da CPLP um
espaço para as comunidades, seja no Pacífico, na Austrália, seja nas inúmeras
comunidades da América do Norte, nomeadamente, Tautan, Fali River, New Bedford,
Vale de São Joaquim: seja em Toronto e Montreal, no Canadá; seja ainda na
América do Sul, em Valença, na Venezuela, e em Buenos Aires, na Argentina. Na
Europa, nas muitas comunidades portuguesas, como a de Paris e a do Ducado de
Luxemburgo. São apenas alguns exemplos de comunidades existentes e atuantes em
quase todos os continentes.
A circulação de pessoas a movimentar as
migrações internas e externas deve ser acompanhada dos capitais, na dinâmica da
globalização. É um problema dos nossos dias e mais um desafio para a CPLP.
Nesse conjunto, Cabo Verde deu um passo à frente ao adotar, em forma de lei, o
Estatuto do Cidadão Lusofalante.
Como já é chegado o tempo de concluir a
saudação, encontros como este de educação a distância ensejam o desenvolvimento
de vínculos de amizade, de estímulo económico e de fomento cultural. Vinculação
que dará mais autenticidade internacional pela presença intercontinental da
comunidade.
Em suma, somos a terceira língua
europeia mais falada no mundo, é certo. Mas precisamos de muito trabalho, como
nos inspira Saramago par alcançarmos níveis maiores de integração e de
crescimento comunitário e de expressão política.
A CPLP vai ao cerne comunitário dos
espaços da fala portuguesa e prossegue a viagem do futuro, diria o poeta da
liberdade, Castro Alves, em busca do porvir, com o mesmo timoneiro, a língua
portuguesa.
Bacharel
em direito, e ciências sociais (UFBA), professor da mesma Universidade
Boaventura estudou ainda em Paris no Instituto International de Planificação de
Educação da Unesco e fez mestrado e pós-graduação em educação na Pennsylvania
State University.
Entre
1970 e 1971 ocupou pela primeira vez a pasta estadual da Educação e Cultura,
função à qual voltaria no período de 1983 a 1987 quando criou a Uneb, além de
promover o reconhecimento da Universidade Estadual de Feira de Santana (UESF) e
impulsionou a criação das Universidades Estaduais do Sudoeste Baiano (UESB) e
de Santa Cruz (UESC).
Fonte: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana Ano I nº 1 2004
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