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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

AMOR OCULTO


Jean Parente
Santanopolitano
          Foi uma noite difícil para mim. Acho que contei quase todas as estrelas do céu, sem me preocupar com as verrugas, as quais dava pra vê-las da janela do meu quarto, mesmo sendo uma noite com algumas nuvens passando, mas que deixavam algumas brejas onde dava para ver as centenas e milhares de pontinhos luminosos na imensa escuridão.
          Era sempre assim. Sempre quando estava sozinho no silêncio e no escuro do meu quarto, eu ficava pensando nela. Não conseguia tirá-la do meu pensamento. Dormia, sonhava e acordava pensando nela. Era incrível. Estava perdidamente apaixonado por uma pessoa que nem imaginava e nem sabia dos meus sentimentos e das minhas intenções por ela. Somente eu sabia. Era o meu amor oculto. Apenas eu e mais ninguém sabia. Apenas eu.
          Até tentei desabafar e revelar para um amigo, o quanto estava gostando, apaixonado e amando uma menina que estudava na minha escola. Mas, tive medo que ele não guardasse esse meu segredo, e fosse surpreendido por  algumas pessoas querendo interferir nos meus sentimentos, os quais seriam revelados em algum momento. Talvez no momento certo, ou talvez nunca fosse revelado. Algo assim.
          O fato é que eu estava ocultando de todos um amor secreto. Um amor que talvez eu achasse impossível, mas que acreditava nele, apesar de não dar a oportunidade da revelação para a outra pessoa. Talvez estivesse sendo até  egoísta com isso, mas era assim que eu queria. Era assim que eu estava enfrentando nos momentos em que passava horas e horas ouvindo músicas românticas pensando nela, e sonhando no dia em que pudesse me declarar  dando-lhe um beijo carinhoso e um abraço apertado, revelando-lhe tudo o que sentia.
          O problema é que nunca achava qual seria o momento. Não me sentia seguro e preparado, e chegava até pensar que talvez fosse melhor assim, pois não correria o rísco de não ser correspondido ou sofrer uma grande decepção por não ser a pessoa que eu sonhava, e também não ser a pessoa que ela desejava. Acho que era isso. Tinha receio de que todo o meu encanto se evaporasse de uma hora para outra, levando toda a magia de um amor oculto, que parece provocar um "achísmo" o tempo todo, pela insegurança da realidade e pelo excesso de fantasia.
          Confesso, que em alguns momentos cheguei até pensar em procurá-la e me declarar para ela, que  quando aparecia, o meu corpo todo tremia por dentro, provocando um calor e um nervosísmo que nunca tinha sentido por alguém, e, me acovardando para toma uma atitude. As vezes ficávamos tão pertinho um do outro, já que estudávamos na mesma sala, que dava para sentir o seu suave perfume, e o calor do seu corpo. A sua pele era clarinha, que realçava ainda mais os seus olhos azuis, sem contar que o seu jeito de andar era diferente de todas as outras  meninas, me deixando atento e hipnotizado quando passava por mim durante os intervalos das aulas, ainda com o vento levantando os seus lindos cabelos loiros, que, quando parava, eles voltavam para o mesmo lugar certinhos de tão lisos que eram. Ela era muita linda. E acredito que isso afetava a minha autoestima que me fazia pensar que não era para mim, e que não iria me querer. E, até que eu não me achava tão feio assim, pois as outras meninas me olhavam insistentemente com segundas intenções. Mas, ela não. Parecia que eu nem existia. E, incrivelmente, isso me deixava intrigado, curioso e mais apaixonado pela ingrata, que nem sentia e percebia o que eu estava sentindo por ela.
          Dentro da sala de aula, cansei de observá-la discretamente pelo canto dos olhos sem virar o rosto para que ninguém percebesse, e ficava encantado com os seus gestos, onde tinha a mania de tirar os cabelos da testa com as mãos, e ainda sacudir a cabeça deslumbrantemente. Era tão simples, espontâneo e maravilhoso que, eu, numa linguagem regional, ficava abestalhado com tudo isso, e, cada vez mais apaixonado pela criatura.
          Mas, apesar de tudo, o meu amor secreto me fazia bem. Por causa dela eu me preocupava em me arrumar melhor, de cuidar dos meus cabelos enverdeados e ressecados pelas águas das piscinas, as quais diariamente estava dentro delas praticando a natação que era o meu esporte favorito, num período em que tinha uns dezesseis para dezessete anos, e estava com o coração aberto para as aventuras do amor.
          Era uma fase da adolescência em que a gente se apaixonava facilmente, pois os hormônios estavam a pleno vapor para nos empurrar para os relacionamentos, os quais a gente procurava o tempo todo nas festas e boates com discotecas, onde um escurinho iluminado apenas com uma "luz negra", que na verdade era uma lâmpada azul escuro ou enrolada com papel celofane da mesma cor, que fazia com que meninos e meninas ficassem com os hormônios a flor da pele, criando situações inimagináveis. Quase ninguém escapava, todo mundo se arranjava com alguém. Até uns cara de pau, que eram  aqueles que não tinham vergonha, e que também não tinham chances com algumas meninas quando as chamavam para dançar, mas mesmo assim insistiam levando um "não", fazendo os outros caras de pau rirem da situação, dizendo na gíria que levaram "mala", terminavam no final da festa se dando bem. Era assim mesmo, e ninguém ficava chateado ou traumatizado, pois nas próximas festas lá estavam eles de novo com as mesmas caras de pau felizes da vida. Ainda tinha o som alto com fumaça de gelo seco espalhada pela pista de dança, com jogo de luz de quase todas as cores, agitando mais ainda os hormônios dentro dos corpos dos participantes. Era enlouquecedor, divertido e inesquecível. Todos queriam amanhecer o dia naquela loucura, e, no outro dia, já estavam procurando a próxima festa. Éramos incansáveis.
          Mas, voltando para o meu amor oculto, o tempo passou, o ano acabou, seguimos caminhos diferentes, crescemos, nunca mais nos vimos, e, ela nunca soube dos meus sentimentos, fazendo com que o tempo se encarregasse de me fazer esquecê-la. Até que, quarenta anos depois, numa festa de confraternização de ex alunos do colégio onde estudávamos, nos reencontramos. Quero dizer, eu a encontrei, pois a mesma em nenhum momento me cumprimentou, e acredito também que nem me olhou. Cheguei até a pensar na possibilidade de ter sido também o amor oculto dela, já que dizem que o amor tem feito coisas que até Deus duvida, mas, dissipei logo esse pensamento, me deixando em dúvidas se era uma falta de educação, ou que ela era muito desligada, ou até mesmo uma falta de coleguísmo por parte dela, pois, apesar dos anos, eu não estava tão diferente, secreto e irreconhecível assim. Mas, ela sim. Ela estava muito diferente do que 
era antes. Só a reconheci porque  chamaram pelo nome, continuava jogando os cabelos para trás com as mãos e sacudindo a cabeça e, coincidentemente, estava sentada no mesmo grupinho em que se reuniam na sala de aula há exatos quatro décadas atrás. Foi muito interessante, pois até achava que ela fosse mais bonita, e me diverti com a situação, continuando  tranquilamente a participar do evento, rindo de mim mesmo pelos amores impossíveis e inesquecíveis da frágil adolescência, mas que me proporcionaram aventuras emocionais de que todo adolescente gostaria de ter vivido, mesmo com um amor oculto, que
 é o sentimento de uma só pessoa, que  não é compartilhado, e que é profundo, sofrido e solitário, mas extremamente válido para despertar as coisas do amor, que na sua  abstração, nos levam aos sentimentos imaginários que terminam fazendo bem para o nosso coração, deixando-o aberto, transparente e preparado para um novo amor.

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