Hugo Navarro Silva |
Feira de Santana é terra de boticários famosos, que
incorporaram o espírito de pioneirismo de nossa gente e contribuíram para o
progresso deste pedaço de terra que se divide entre o sertão e o recôncavo. Bafejada, hoje, pelos ares da
modernidade, Feira talvez dificilmente
possa avaliar o que significou manter negócio de farmácia, ou qualquer
outro, nos tempos em que ainda lutávamos contra a ignorância e o atraso
generalizados, em que saúde pública só aparecia na época das grandes epidemias,
médicos eram poucos, labutando contra
crendices populares, mezinhas e curandeiros. Hospital somente havia o da Santa
Casa de Misericórdia, que sobrevivia às custas de subvenções, esmolas e
serviços gratuitos de médicos e freiras
que faziam o trabalho da enfermagem.
Boticário vem de botica, vaso de barro vidrado ou de
vidro, peça básica para a conservação de drogas, cheiros, unguentos, xaropes e
beberagens salutíferas. O boticário, em certa época, era havido por cozinheiro
dos médicos, porque cozia e temperava o que lhes era indicado nas receitas, o
que desapareceu com a furiosa industrialização dos remédios e o surgimento dos
grandes laboratórios internacionais, que acabaram com as farmácias de
manipulação e passaram a vender remédios prontos e acabados, geralmente de embalagem atraente
como se fossem produtos de perfumaria.
Farmácias, nesta cidade, alcançaram enorme prestígio
como a “Santana”, na esquina do Parque Bernardino Bahia, e a “Agrário”, na
Praça João Pedreira.
O mais famoso boticário desta cidade foi João Barbosa
de Carvalho, que chegou a ser prefeito do Município e conquistou certa aura de
curandeiro e de santo que nunca errava.
João Barbosa saiu de Bonfim de Feira, onde tinha
farmácia, para se estabelecer nesta cidade com o “Laboratório e Farmácia Agrário”.
Trouxe vasta gama de formulas medicinais, que transformava em produtos de enorme
aceitação e fama imbatível em toda a região sertaneja, como “A Saúde dos
Meninos”, infalível contra verminose intestinal e o ”Zebuzol”, para animais,
nome transformado em “Zebozó”, que serviu de apelido, desses que substituem o
nome até à morte, de alguns viventes humanos.
Poucos os meninos dos tempos de João Barbosa que não
foram obrigados a beber, pelo menos uma vez por ano, com suco de laranja,
forçados a “resguardo”, trancados em quarto escuro, protegidos do vento, “A
Saúde das Crianças”, com resultados infalíveis e salutares.
João Barbosa fabricava e vendia remédios para quase
tudo e sua fama de farmacêutico conquistou de tal forma a confiança do povo,
que havia pessoas que não se submetiam a tratamentos e não tomavam remédios,
ainda que receitados por médicos, sem ouvir a opinião do mago da “Farmácia
Agrário”, que desbravou terreno para o atual desempenho do comércio
farmacêutico desta cidade, onde as farmácias
disputam espaço com os botequins e ninguém sabe quais os mais atraentes.
Feira, no começo da onda de crescimento que a projetou
no cenário nacional, recebeu outro boticário que a haveria de conquistar. Não
mais como manipulador de drogas, mas como grande empresário do ramo dos
medicamentos, Onildo Silva, recentemente falecido, transformou-se, também, em
mago do ramo da saúde, orientando, aconselhando, facilitando a aquisição de
remédios aos mais pobres. Construiu um império hoje com mais de vinte lojas
espalhadas na cidade, que é resultado de lutadores que enfrentaram e venceram
dificuldades. Têm sido, eles, fatores de crescimento e de progresso de
Município que agora descobre inimigos que o querem retalhar.
Outro Farmacêutico (boticário), também recentemente falecido foi Jônatas Teles de Carvalho, da Farmácia Meireles.
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