Hugo Navarro Silva |
Ninguém está conseguindo ou não está querendo explicar
o que acontece no país, que de repente
explodiu em protesto e revolta, passeatas pacíficas e atos de violência,
destruição e vandalismo.
A análise dos fatos mostra-se confusa. Todos os que
abordam o problema, que se agrava rapidamente e ameaça transformar o país num
antro de baderna, elogiam os manifestantes sem deixar de apontar os atos
criminosos praticados contra prédios e equipamentos públicos e contra o
patrimônio privado. É como se todos os analistas estivessem a pisar em terreno
desconhecido e andassem a procurar muro
onde se encarapitar para prováveis e futuros proveitos.
Tudo surgiu e cresceu de repente, inopinadamente, e
assumiu proporções assombrosas e amedrontadoras. Quem viu ou estudou movimentos
que se transformaram em revoltas populares não tem como encontrar paralelo com
fatos semelhantes, de que a História está cheia, alguns que chegaram a
modificar o mundo.
Não há propaganda, líderes, armas, partidos ou ideologias envolvidas nos movimentos
populares que estamos testemunhando. Não há demagogos ou oradores capazes
de entusiasmar a população e conduzi-la
aos protestos. Nem a figura tradicional do salvador do povo aparece nas ruas.
Nada do que tradicionalmente inflama e conduz à luta. Estamos diante de
novos fatos, produtos das novas
conquistas da civilização e não deixa de causar assombro o alcance das redes
sociais da Internet, que dispensaram, como inúteis, as lideranças políticas,
hoje, no Brasil, em franco declínio, os discursos inflamados, geralmente
cheiros de mentiras e promessas irrealizáveis, os panfletos e altos falantes
para mobilizar a população. O fato é que nunca se viu tanta gente nas ruas a
protestar e destruir, alguns agindo de forma ordeira e outros a se aproveitar
da falta de policiamento. A verdade é que alguns acontecimentos em São Paulo,
no Rio de Janeiro e em outras localidades mostraram o que não poderia passar
despercebido de grande parte de povo: a ausência
total da autoridade, atestando que o país carece de comando. Não há governo. A
ordem desapareceu. Quem manda é a turba.
O motivo inicial dos protestos, os vinte centavos de
aumento dos transportes coletivos, sumiu. Como medida conciliatória e
preventiva alguns prefeitos se
apressaram a diminuir o preço das
passagens. Outros, ainda mais previdentes, como o de Feira de Santana, anunciaram que aumentos, no setor, não
haverá. O que parecia, a princípio, ser o motivo maior dos protestos, dissolveu-se no calor dos
acontecimentos. O descontentamento
mostra-se contra quase tudo o que vem ocorrendo neste país nos últimos
anos. O governo, montado no combate ao que não mais existe, a Revolução de 64, criou vasta rede para garantir a própria sobrevivência com
incríveis trinta e nove ministérios para
premiar trânsfugas, assumiu o compromisso de realizar dois torneios de futebol
com equipes de todo o mundo e de construir o que passou a chamar de arenas, que
estão a consumir o dinheiro do povo, que sofre com sistema de saúde ridículo se
não fosse trágico, educação pública que não leva a nada, por sua lamentável
precariedade, Judiciário que não funciona e rede de roubalheira sem precedentes
neste país, exibindo, como troféu da República, diante de povo, o alto
prestígio dos ladrões agravado com a execrável PEC-37.
Ninguém sabe como começou o movimento popular que
atualmente sacode as ruas do Brasil, como ninguém pode imaginar as suas
consequências. Do modo como anda o país,
desacreditado, povo pagando
altos tributos, enfrentando inflação e
economia em declínio, carente de serviços públicos eficientes é que não pode
continuar, porque marchamos para o desastre. A hora é de mudanças.
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