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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 23 de abril de 2013

POESIA FACETA

Hugo Navarro Silva


A denúncia ou a crítica veiculadas na imprensa, nos dias de hoje, são normalmente cercadas de cuidados, a exigir provas, depoimentos, papéis, inquéritos e devassas, principalmente quando envolvem figuras da política. É que os tempos mudaram e a imprensa civilizou-se, adequando-se às normas dos novos tempos, as legais e as de convivência social, necessárias à paz e à elegância de quem faz os meios de comunicação.

Nem sempre foi assim. A crítica já andou solta, como as denúncias, infernizando a vidas das vítimas e não poucas vezes dando lugar a processos intermináveis. Alguns ficaram famosos.

Havia, então, arma de ataque, que desapareceu dos jornais, a dos versos facetos, o epigrama, a sátira, geralmente impiedosos e irresponsáveis em suas arremetidas, que podiam expor o indivíduo ao ridículo e à risota pública, de que foi mestre Emílio de Menezes, com as suas “Mortalhas”, ou “Os Deuses em Ceroulas”, em que traçou perfis ferinos de várias figuras do cenário nacional.

O Barão de Ladário (José da Costa Azevedo) ministro da Marinha de D. Pedro II, teria ordenado o lançamento de despesas que fizera no Chile, como capitão do navio Almirante Barroso, à conta do então Capitão de Mar e Guerra Custódio José de Melo (que na República teria importante papel na Revolta da Armada). “A Cidade do Rio” publicou, então, o seguinte triolet, de José do Patrocínio:

“Larga e pasta, Zé da Costa,

Larga a pasta, Zé Catão,

Pasta ou pista, pista ou pasta,

Larga a pasta Zé da Costa,

O povo de tí não gosta,

Zé Derruba, Zé Papão,

Larga a pasta, Zé Catão”.



Os jornalistas também mutuamente se atacavam. Contra o “Malagueta” (Luiz Augusto May), o “Brasileiro”(Francisco Gomes da Silva, secretário particular de D. Pedro I) publicou a seguinte oitava no “Diário do Governo”:

“De cansada, rançosa poesia,

Grosso volume na algibeira andava.

Em vendo gente, logo lá corria,

E o fatal cartapácio lhe empurrava.

Acrósticos, sonetos, repetia,

Que só ele entendia e só louvava.

Punha em prosa, também, muita parola,

E acabava, por fim, pedindo esmola”.

Tivemos, nesta cidade, poetas satíricos envolvidos nas lutas políticas e em diversas polêmicas. O mais famoso foi Cristóvão Barreto, que deixou verdadeiras jóias do epigrama.

É do romancista Clóvis Amorim, mestre da sátira, o soneto “Sessão na Academia de Letras de Ilhéus”:

“Sessão na Academia. Abel de fraque.

A moça Gabriela usando leque,

Nacibe – o turco - tonto, num pileque,

Engrola um palavrão no seu sotaque.



Muitas famílias, gente de destaque.

Eleições. Voto sendo pago em cheque.

E, nisso, o Demostinho – esse moleque -

No ás de espadas de Abel acende um traque.



Irado, clama Herval, reclama Henrique.

Uma moça, na sala, leva choque,

A linda Gabriela dá chilique.



O Bispo pede a deus que o povo eduque,

Flávio de Paula atira de bodoque

E Abel, de rabo à vista, mostra o muque”.


Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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