Hugo Navarro Silva |
A denúncia ou a crítica veiculadas na imprensa, nos dias de
hoje, são normalmente cercadas de cuidados, a exigir provas, depoimentos,
papéis, inquéritos e devassas, principalmente quando envolvem figuras da
política. É que os tempos mudaram e a imprensa civilizou-se, adequando-se às
normas dos novos tempos, as legais e as de convivência social, necessárias à
paz e à elegância de quem faz os meios de comunicação.
Nem sempre foi assim. A crítica já andou solta, como as
denúncias, infernizando a vidas das vítimas e não poucas vezes dando lugar a
processos intermináveis. Alguns ficaram famosos.
Havia, então, arma de ataque, que desapareceu dos jornais, a
dos versos facetos, o epigrama, a sátira, geralmente impiedosos e
irresponsáveis em suas arremetidas, que podiam expor o indivíduo ao ridículo e
à risota pública, de que foi mestre Emílio de Menezes, com as suas “Mortalhas”,
ou “Os Deuses em Ceroulas”, em que traçou perfis ferinos de várias figuras do
cenário nacional.
O Barão de Ladário (José da Costa Azevedo) ministro da
Marinha de D. Pedro II, teria ordenado o lançamento de despesas que fizera no
Chile, como capitão do navio Almirante Barroso, à conta do então Capitão de Mar
e Guerra Custódio José de Melo (que na República teria importante papel na
Revolta da Armada). “A Cidade do Rio” publicou, então, o seguinte triolet, de
José do Patrocínio:
“Larga e pasta, Zé da Costa,
Larga a pasta, Zé Catão,
Pasta ou pista, pista ou pasta,
Larga a pasta Zé da Costa,
O povo de tí não gosta,
Zé Derruba, Zé Papão,
Larga a pasta, Zé Catão”.
Os jornalistas também mutuamente se atacavam. Contra o
“Malagueta” (Luiz Augusto May), o “Brasileiro”(Francisco Gomes da Silva,
secretário particular de D. Pedro I) publicou a seguinte oitava no “Diário do
Governo”:
“De cansada, rançosa poesia,
Grosso volume na algibeira
andava.
Em vendo gente, logo lá corria,
E o fatal cartapácio lhe
empurrava.
Acrósticos, sonetos, repetia,
Que só ele entendia
e só louvava.
Punha em prosa, também, muita
parola,
E acabava, por fim, pedindo esmola”.
Tivemos, nesta cidade, poetas satíricos envolvidos nas lutas
políticas e em diversas polêmicas. O mais famoso foi Cristóvão Barreto, que
deixou verdadeiras jóias do epigrama.
É do romancista Clóvis Amorim, mestre da sátira, o soneto
“Sessão na Academia de Letras de Ilhéus”:
“Sessão na Academia. Abel de
fraque.
A moça Gabriela usando leque,
Nacibe – o turco - tonto, num
pileque,
Engrola um palavrão no seu
sotaque.
Muitas famílias, gente de
destaque.
Eleições. Voto sendo pago em
cheque.
E, nisso, o Demostinho – esse
moleque -
No ás de espadas de Abel acende
um traque.
Irado, clama Herval, reclama
Henrique.
Uma moça, na sala, leva choque,
A linda Gabriela dá chilique.
O Bispo pede a deus que o povo
eduque,
Flávio de Paula atira de bodoque
E Abel, de rabo à vista, mostra o
muque”.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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