Hugo Navarro Silva |
Provocou enorme celeuma a notícia de que o governo do Estado
estaria a planejar a transferência da “Casa de Custódia e Tratamento” de
Salvador para esta cidade castigada pela seca e pelos avatares da política, que
nos têm feito oscilar entre avanços e recuos, conquistas e tombos às vezes
inesperados.
A “Casa de Custódia e Tratamento”, que funcionava na capital
do Estado no velho solar onde residiu o poeta Castro Alves, que registrou o
fato em versos, já nos tempos do poeta era “atalaia antiga” de cuja torre, em
tempos remotos, eram enviados sinais a navios que demandavam o porto e
transportavam contrabando. Durante muitos anos aquele velho prédio serviu à
Justiça bahiana, mas foi presa de incêndio com a destruição de arquivos
oficiais que dividiam espaço com os criminosos havidos por doidos.
A “Casa de Custódia” tinha a finalidade de recolher os
doentes mentais acusados da prática de crimes, os absolvidos ou que estão
isentos de condenação mas ficam sujeitos a medidas de segurança, inclusive para
receber tratamento médico, e todos os dados por loucos, que têm que ser
submetidos a avaliação psiquiátrica para que o Judiciário decida sobre seu
futuro. Não é bomba terrorista que o governo do Estado estaria a pretender
plantar em Feira de Santana. Seria mais um hospital psiquiátrico a criar, nesta
cidade, empregos e consequente renda. Não um perigo para a sociedade.
Não podemos concordar, entretanto, com a solução aventada em
alguns setores, a de que os ocupantes da “Casa” seriam encaminhados para o “Hospital
Colônia Lopes Rodrigues”, inaugurado no governo de Luiz Viana, cujo nome
homenageia esquecido pintor baiano que dedicou grande parte de sua vida a
ilustrações científicas ligadas à medicina e em cuja inauguração o governador,
criticado por um psiquiatra, lembrou o Dr. Bacamarte de Machado de Assis.
O “Hospital de Custódia”, com a ameaça de ser instalado em
Feira de Santana, não representará motivo de alarme para a população, desde que
em prédio apropriado e convenientemente instalado, principalmente no que
concerne à segurança do povo e dos internos.
Não seria retrocesso, mas avanço e progresso. A celeuma é daquelas sem
razão e sem credibilidade. Ninguém acredita no que diz direta ou indiretamente
o governo do Estado, que fala muito e faz pouco. Uma unidade de custódia e
tratamento é que não pode deixar de existir até por exigência da lei e
necessidade do Judiciário.
O episódio revela um certo desvairo dos rumos que a política
brasileira vai tomando. Há um governo federal inclinado, cada vez mais, para
uma posição doutrinária obsoleta e inviável, que está conduzindo o país a
caminhos de dificuldades que já deveriam ter sido superadas, tendo que
contentar e sustentar grupo político que assumiu proporções enormes, o que se
reflete nos estados, como o da Bahia, em que os comensais são muitos e a comida
é pouca, dando lugar a uma corrida maluca aos cargos de relevância, verdadeiro
tiroteio no escuro, que a todo momento está a configurar hipóteses de diásporas
e cismas, tudo agravado pela ausência de oposição eficiente, combativa e firme,
não aquela mambembe, que pretende
agradar, ao mesmo tempo, os dois lados, mas que se baseie firmemente em
programa corajoso, a mostrar a verdadeira situação do país, as trapaças, os
erros, as mentiras e maracutaias governamentais, fazendo o que está deixando de
existir, a clara distinção entre oposição e governo.
O episódio do
hospício dos loucos da Justiça apenas constitui, mais uma trapalhada dessa
democracia de comédia em que se vai transformando a política brasileira, em que
quase todo mundo quer ser governo, mas quer, também, os votos de oposição hoje
representada por alguns políticos, poucos, que contam apenas com o prestígio
pessoal e o nome limpo.
Fonte: Oliveira, Lélia Vitor Fernandes de
“Inquilinos da Casa da Cidadania”.
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