Hugo Navarro Silva |
Os leilões de virgindade, que estão virando moda e ampliam a
oferta da prostituição pela Internet, até que não provocaram reação de
sociedade de inaudita, licenciosa e incontrolável permissividade. Foram recebidos,
no geral, por empulhação, vigarice e falta de vergonha, que neste país estão a
se transformar em epidemia, atingindo gregos e troianos, governantes e
governados. Não encontraram resposta além da chalaça, do achincalhe e da
desconfiança, despertando aquele sentimento de alerta que atinge algumas
pessoas quando se descobre algum novo
“golpe” na praça, salvo nesta cidade, onde correu, repetida e remoída, falada e
escrita, a notícia de que vereador deste
Município havia ingressado no leilão promovido por certa e respeitável senhora
do interior do Estado, fazendo não
desprezível lance.
O invulgar interesse, entretanto, somente apareceu
depois que a Câmara, amedrontada com a
risível imputação, sentindo-se ofendida na sua fortaleza moral e nos seus
invictos pundonores, resolveu adotar
drásticas providências para
apurar os gravíssimos fatos.
Alguns vereadores, assaltados de medos e cercados de
imoderados escrúpulos diante do boato um tanto ou quanto safado, é verdade,
pediram providências à direção da Casa, que no auge do paroxismo moral resolveu
nomear comissão para tentar esclarecer o que há de verdade em torno dos
memoráveis acontecimentos e, sendo possível, trazer para o conhecimento e
execração públicas o nome do legislador tarado, cujo destino político ninguém
pode afirmar, de antemão, qual será, se o de herói, capaz assumir lugar de
destaque nos anais do Município, ou se poderá ser havido por irresponsável e
devasso irremediável e, sabe-se lá, candidato a vaga em algum hospício dos
programas de saúde do governo, o que lhe poderia resultar em sentença de morte
inapelável.
A Câmara, ferida em sua dignidade, decidiu criar a Comissão
da Virgindade que irá à distante cidade onde reside a apontada fonte do boato e
autora do leilão, para interrogá-la sobre a boataria, para que revele o nome do suposto, audacioso,
desvairado e depravado vereador, além de
ouvir o Delegado de Policia do local. O interessante de tal história é que
nenhuma mulher neste país pode ser obrigada a receber Comissão da Câmara para responder
a inquirição sobre fatos de sua vida privada e o Delegado de Polícia não pode
ser elevado à categoria de zelador perpétuo de virgindades lançadas no comércio
e deve ter mais o que fazer para andar a meter o bedelho em assuntos da vida
alheia, até porque vereador não é polícia e suas prerrogativas não ultrapassam
os limites deste avançado, santo e pudico
Município de Feira de Santana.
A Câmara, tudo indica, está nadando em dinheiro. A viagem da
Comissão Investigadora a Sapeaçu importará em despesas não pequenas com o
transporte de vereadores e a estada da Comissão naquela cidade, resultando em
gastos desnecessários e sem nenhum sentido. Isto nos faz relembrar o célebre
decreto de prefeito que demitiu o administrador do então distrito de Tanquinho
“em virtude de seu falecimento”.
Tão fortes andam os escrúpulos e cuidados da Câmara em torno
da heroica moralidade de seus membros, que no andar da semana ouviu revoltados
pronunciamentos contra a anunciada
apresentação, nesta cidade, de banda de reggae (ou coisa pior), presa,
recentemente, sob a acusação de estupro de jovens que lhe invadiram o ônibus,
de madrugada, após show, na busca frenética de inocentes autógrafos. Tais atitudes são próprias ou de quem vive fora
de sua época, desconhece o papel reparador do “Super-Bonder”, não entende a
extensão das liberdades na sociedade de hoje, que espicha direitos mas não quer
saber de limites, conveniências e obrigações ou é santarrão disputando o lugar
de mártir das virtudes defuntas.
Hugo
Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio
Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do
Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria
produzida
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