Hugo Navarro Silva |
Estão caindo chuvas alentadoras em Feira de Santana, a
alagar praças, ruas e casas, mostrando, mais uma vez, que não fazemos cidade, não
construímos para enfrentar aguaceiros, porque estamos dentro do famoso
“polígono das secas”.
Distantes vão os tempos em que acossado pelas calamidades
públicas, principalmente pelo fenômeno das secas, o povo fazia romarias para
pedir chuvas e romarias para agradecer aos santos quando as “águas do céu” voltavam a cair sobre terras, patrimônios e vidas calcinadas pela
inclemência do sol. Apesar dos agradecimentos à divindade e de renovadas
esperanças no futuro, desta feita manifestadas através da mídia, inicia-se para
o pecuarista e para o agricultor dos sertões nordestinos nova fase de
sofrimentos e prejuízos na tentativa de recuperar o que perdeu na inclemência
da estiagem mais alongada e mais cruel do que em outras oportunidades.
Evidente que os tempos são outros, que há novas promessas,
estradas, o caminhão, algum tipo de financiamento retardado, mas pouca coisa
mudou no panorama das estiagens e suas consequências. Chega de elogios ao
chamado heroísmo do sertanejo, que persiste, apesar das dificuldades, na
ingrata tarefa de produzir alimentos para as cidades, muitas delas inchadas dos
que antigamente eram chamados de retirantes e vagavam, caminhos afora, a
mostrar a fome, a sede e a miséria dos sertões, mas deram lugar a famosos
quadros e outras obras de arte, aplaudidas por todos, realizadas por louvados mestres de barriga cheia.
Foram-se, é claro, os tempos em que retirantes, nesta
cidade, faziam parte do panorama. Eram famílias inteiras arrastando trapos,
doenças e crianças esquálidas a estender a mão à caridade pública, que a
Prefeitura costumava abrigar na estação da antiga estrada de ferro, onde
recebiam, caridosamente, punhados de farinha de mandioca e nacos de carne seca,
cozidos em fogueiras, sobrevivendo sem
assistência médica, sem remédios, sem instalações sanitárias e sem esperanças, dormindo no chão ou em esteiras de palha, ás
vezes batendo às portas de casas para
implorar alimento e água para matar a sede Os retirantes não desapareceram. Não se
arriscam mais a pé pelos duros caminhos sertanejos, arrostando fome, sede,
moléstias e todas as misérias que podem agredir o ser humano, mas estão
presentes em centros urbanos como o de Feira de Santana, onde erguem palhoças,
criam favelas e ingressam no subemprego ou, o que é mais certo e rendoso, no
mundo do crime, no negócio das drogas proibidas, principalmente do crak, a
droga mais popular, que está a atrair até mulheres de todas as idades, ajudando
a superlotar as precárias cadeias nacionais e a aumentar as preocupações da
população.
Este é o momento das autoridades buscar soluções para
amenizar, pelo menos, as consequências da seca, fenômeno cíclico que fatalmente
voltará a atingir os sertões nordestinos com todo seu acompanhamento de
prejuízos e miséria.
Já se falou muito, neste país, de providências para fixar o
homem do campo, mas tudo colabora para entupir cidades e despovoar o campo, que
vai ficando abandonado porque desprezado pelos poderes públicos, o que facilita
o surgimento das guerrilhas urbanas, como está acontecendo, mais uma vez, na
capital paulista, onde grupos supostamente organizados de criminosos desafiam e
ameaçam o governo estadual e o federal, presos a uma teia quase
intransponível de burocracia, herança de nossos pais portugueses, de que
resultam reuniões e reuniões, para a televisão, mas de resultados práticos
discutíveis e sempre retardados.
Navarro
da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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