Hugo Navarro Silva |
A luta eleitoral passou. Eleitos, prefeitos e vereadores
aguardam apenas o dia da posse para o início de novas atividades, ouvindo bater
à porta a campanha de 2.014, o que coloca muita gente em palpos de aranha na
tomada de posicionamentos dos quais se podem arrepender com o acirramento da
luta partidária.
Os eleitos, muitos deles
leigos nos complexos meandros da coisa pública, sempre pejados de armadilhas
criadas pelas virtudes e defeitos dos filhos de Adão, como a vaidade e a
roubalheira, que podem alcançar extremos, estão a ponto de deparar duas enormes tarefas e dificuldades não pequenas, a de exercer bem,
de forma convincente e útil, o mandato popular, e enfrentar, até por força das
obrigações da política, nova e vasta luta eleitoral, que envolve enorme gama de
interesses que vão da eleição para o
Congresso e de governadores à escolha do
presidente da República. É tarefa de doido, de que muitos se safam e em que
outros soçobram nos tempestuosos mares
das desditas e destemperos humanos.
A luta eleitoral, repetida de dois em dois anos, mas sempre
importante para o futuro do povo e da velha pátria estremecida, não deixando
tempo para o eleito cuidar das obrigações ditadas pelo mandato, já foi vista
como entrave para governantes e legisladores, permanentemente envolvidos nas
manobras e malandragens partidárias.
É verdade que nestes trópicos inventamos pouca coisa e,
muito menos, sistemas políticos, seara onde tudo é importado e aviltado. Já
houve até quem afirmasse que o mecanismo constitucional, base, pelo menos
teoricamente, da maioria dos regimes, funciona nas zonas temperadas. Onde a
temperatura costuma ultrapassar os trinta graus centígrados, “as constituições
se fundem e estalam”. E isto foi dito a respeito da Espanha!
Ruy Barbosa, tão indispensável para quem trata de política
quanto a Bíblia para o crente, disse, em conferência, que “os governos podem
ser transviados aos mais ruinosos erros pelas paixões que os desvairam, ou
pelas facções que os exploram”. Evidente, neste passo o mestre mostrou-se
extremamente sovina ao apontar os males que podem minar as bases de governo,
que sempre foram muitos e hoje se multiplicam de forma quase infinita, os de
dentro e os de fora.
O correto entendimento do que significa democracia não chega
a todos. O exemplo da monarquia, a começar de D. João VI com sua corte a tomar
o que bem entendia, no Rio de Janeiro, em 1808, sem protestos, seguido de
imperadores, temido um e venerado o último pelo seu aspecto bondoso e hábitos
moderados, fama de democrata, péssimos versos e aura de sábio, a tudo resolver,
criaram sociedade em que se bajulava governo
desde a busca de paróquia rendosa para o filho padre à conquista de cadeira
no parlamento. No mínimo, emprego de amanuense em ministério, muitas vezes
condição imprescindível na conquista de matrimônio com a filha de qualquer
sebento vendeiro português. A isto
seguiram-se amplas temporadas de regimes de exceção, ditadura pura e simples ou
prolongado “estado de sítio”, que incutiram, com outros e variados motivos,
inclusive a pletora de constituições atiradas ao lixo da História, no brasileiro em geral, a ideia de que
democracia é apenas uma palavra, não muda coisa alguma, e tudo se
resume ao desejo do poder, à audácia de alguns e à ambição de cada um.
As eleições, de dois em dois anos, embora estabelecidas sem
esta intenção, entretanto, têm salutar efeito didático sobre o povo sempre
sofredor. Estão incutindo, pela repetição, no sentimento popular, o verdadeiro entendimento
de democracia, o de que o interesse
público está acima de partidos e de conquistas pessoais.
Hugo Navarro
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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