Hugo Navarro da Silve |
Havia descrença generalizada
e a desconfiança de que o Brasil estava destinado a se transformar,
rapidamente, em republiqueta no modelo das muitas que existem no mundo,
elegendo altares a falsos ídolos e vendo crescer o culto à personalidade em
torno de um grupo de sabidórios, que desejando apenas o poder, tudo corrompe e
tudo faz para eliminar a liberdade, conquista, que
segundo José Bonifácio, “é o bem que não se deve perder senão com o
sangue”.
A impressão geral, dominante, era a de que marchávamos, a
passos largos, para o firme estabelecimento de uma república de ladrões, o
paraíso dos trapaceiros, dos mentirosos, dos manipuladores da opinião pública,
em queda livre na direção de algo semelhante ao chavismo e ao castrismo. É que
a oposição, talvez pala primeira vez na história brasileira, foi atacada de
estranho caso de paralisia gálica, quase sem nomes de destaque, valendo-se de
vozes apagadas, raras, desbotadas, abafadas pela ululante e gigantesca máquina de
propaganda messiânica, que invade o país, mostrado como a sede das maravilhas e das felicidades
universais.
Atribuía-se essa nova e inaudita situação do Congresso, a
princípio, à força de governantes, supostamente voltados para os interesses do
povo, e à caruara, que tomou de assalto certa parte dos políticos e da
população, transformando-os em dóceis instrumentos das manobras dos pregoeiros
de mudanças e novidades apontadas como
salvadoras.
O Congresso, que sempre deu voz à insatisfação nacional,
blaterando contra os abusos dos governos não apenas durante as fases de normalidade republicana, mas até
nos momentos em que periclitava o direito à liberdade e à vida, desapareceu
como poder e representação do povo.
A inação e o conformismo do Congresso diante da “nova ordem”,
que se tenta impor ao país, conduziu o povo a atribuir à ignorância, à carência
de letras, à covardia de muitos dos parlamentares, que estão preocupados,
apenas, em consumir dinheiro do erário, entregando, por inteiro, os interesses
do país a um Executivo poderoso, como se o regime monárquico houvesse deixado a
Europa de Luis XIV para se instalar, vitoriosamente, no Brasil, o que, diga-se,
é facilitado pela Constituição de 88, a
tal “Constituição Cidadã”, que criou um poder central todo poderoso, semelhante
ao dos governantes por desígnio divino.
O chamado processo do mensalão - e agora não há como negar o
deprimente e vergonhoso fato - deixa claramente exposto, porque de existência
oficialmente reconhecida e proclamada, em julgamento, pelo Supremo Tribunal
Federal, que a corrupção com dinheiro grosso do povo ingressou no Congresso
para promover a manipulação de parlamentares, de uns que se locupletaram, e de
outros, que estavam à espera, certamente,
de locupletamento futuro e não incerto, o que explica, em boa parte, o
conformismo e o silêncio conivente do Legislativo diante do poderoso esquema de
trapaça do Executivo.
Queira Deus que o
julgamento do mensalão, de resultados surpreendentes para muitos, possa sacudir
o povo brasileiro, alertando-o para o projeto de poder que se tenta instalar no Brasil, que não pretende apenas a adesão de
parlamentares, mas a desmoralização do Legislativo, através da propina, para
mostrar que o comando da pátria deve ficar, total e permanentemente, nas
poderosas mãos de um guru ou de um grupo, sem oportunidades para a opositores,
sejam eles quais forem. A manobra afasta o serôdio plano da revolução armada, que
sempre esteve na cartilha da chamada esquerda, substituído pela paulatina degradação do
legislativo e pelo uso da
mentira, da falta de escrúpulos e da manipulação do voto popular.Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida.
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