Hugo Navarro Silva |
Entre justificadas euforias de vencedores e quase chorosas
explicações e lamentações de vencidos, que não podem esconder a decepção de
quem julgava, como certa, conquista de cadeira no legislativo municipal, por
quatro anos, com as naturais vantagens financeiras, políticas e sociais do
cargo de vereador, o que sempre é passageira mas inevitável etapa da trajetória
das casas legislativas, acreditamos nós, no mundo inteiro, surgiu, na Câmara
local, finalmente, algo de realmente útil. Vereador, segundo o noticiário,
acaba de sugerir, à direção da Casa, a criação de curso preparatório para os
vereadores novatos, que seriam instruídos, didaticamente, sobre o Regimento
Interno e o Regimento de Ética, e receberiam provectas lições a respeito da
redação de proposições como projetos de lei, indicações, requerimentos,
projetos de decretos legislativos, além de outros sábios e necessários
ensinamentos referentes ao relacionamento com a mídia, que nesta cidade é
forte, e ao procedimento normal em plenário.
A ideia é francamente revolucionária, constando que o
presidente da Câmara já teria procurado o departamento jurídico da Casa para
discutir o assunto, que foge às suas legais atribuições, além de inovar,
profundamente, no sistema geral do Legislativo, que assumiria, disfarçadamente,
o papel de entidade educadora, que geralmente implica em custos mais ou menos
elevados, não previstos no rol das despesas orçamentárias, tão vigiadas nos
dias de hoje, sujeitando os que desrespeitam suas regras, pelo menos
supostamente, a gravíssimas consequências.
Acontece que a Câmara, ao por em execução o pleiteado e
necessário curso, assumindo a feição de
colégio, não teria força legal para obrigar os novos vereadores a
frequentar suas aulas e muito menos de lhes impor horários, currículos, que
teriam de ser elaborados, avaliações, provas,
trabalhos e possíveis, deprimentes e aflitivas reprovações devido à luta feroz
e desigual, natural e disseminada, nos dias correntes, entre algumas pessoas e
as vogais e consoantes.
Há outros entraves. A
Câmara seria forçada a contratar corpo de professores de comprovado saber,
prática legislativa e ilibada reputação, sujeitando-se às exigências, no mínimo, da legislação
trabalhista, das reivindicações de classe e a possíveis greves com todas as
suas implicações e consequências.
Outra dificuldade, provavelmente a mais forte, seria a de
que geralmente o candidato a vereador, porém, com mais força, o eleito, nos
dias correntes sente-se capaz de governar o mundo, um Napoleão Bonaparte. É que
nas lições práticas, aprendidas nas últimas campanhas políticas, o papel de
legislador confunde-se com o de um émulo do Supremo Arquiteto do Universo,
capaz de trazer, para esta cidade, por exemplo, o vapor da Cachoeira, a
ferrovia transiberiana, banquetes de maná e as praias das Ilhas Virgens (com os
bancos da região).
A ideia do curso, entre
suas proclamadas virtudes, contraria a dura legislação eleitoral brasileira,
que não faz muitas exigências, na hora de registrar candidaturas a todos os
cargos eletivos previstos em lei, sobre o grau do saber do candidato, muito
menos a respeito das funções que pretende exercer em nome do povo. Tal fato,
dizem, é da essência da democracia. Talvez por isto o pleiteado curso não prevê o que de mais importante existe para o
vereador, velho ou novo, que é o conhecimento da Constituição da República,
notadamente no que diz respeito à competência legislativa municipal.Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Nenhum comentário:
Postar um comentário