Em 1886, em plena guerra do Paraguai, era intensa a curiosidade do mundo político em torno da formação do novo Ministério, que devia substituir o Gabinete do marquês de Olinda, em crise desde algum tempo. Faziam-se combinações, citavam-se nomes, certos infalíveis pela manhã, mas trocados por outros à tarde. Ninguém nem os mais íntimos do poder, sabia com certeza o que afinal decidiria a coroa. Para se ter uma ideia do prestígio e da influência que desfrutava o diretor de redação do Jornal do Comércio à época, basta recontar uma história publicada na crónica pitoresca do Jornal, na edição em que comemorou seu centenário.
Certa tarde, Carlos
Emílio Adet, então redator-chefe, estava à porta da redação do Jornal, à rua do
Ouvidor, quando foi cumprimentado por jovem deputado que lhe perguntou se já
havia algo de positivo sobre o novo Ministério. Sem responder de imediato, Adet
dirigiu-se ao balcão, escreveu algumas linhas em uma folha de papel, colocou-a
em envelope fechado e entregou-a ao deputado.
Visconde de Ouro Preto |
— Aqui estão os nomes dos
futuros ministros - disse-lhe Adet. - Mas faço questão do segredo, dê-me sua
palavra de honra de que só abrirá este envelope quando estiver organizado o
novo governo.
Dias depois, resolvida a
crise política, lembrou-se o jovem deputado da carta que lhe fora entregue e
admirou-se, ao ler, em perfeita correspondência com as Pastas que ocuparam, na
terceira gestão de Zacarias de Góes de 3 de agosto de 1866, os nomes de seus companheiros,
porquanto era ele, também, um dos ministros - o da Marinha.
O deputado era Afonso
Celso de Assis Figueiredo, futuro visconde de Ouro Preto, que aos 29 anos de
idade tornava-se o comandante da Marinha em momento difícil da Guerra do
Paraguai. Em sua carreira de político, mais tarde ocupou o Ministério da
Fazenda, e a 7 de junho de 1889 assumiu a presidência do Gabinete que foi
derrubado quando da proclamação da República. Na noite de 17 de novembro acompanhou
a família imperial no exílio. O filho de Ouro Preto, mais conhecido como conde
de Afonso Celso (do Vaticano), também político e escritor, fundador da cadeira
número 36 na Academia Brasileira de Letras, publicou em 1900 o livro Por que me
Ufano do meu País, que durante a primeira metade do século XX teve inúmeras
edições, mas hoje permanece esquecido. Uma de suas filhas, Malu de Ouro Preto,
jornalista e cronista, foi colaboradora do Jornal do Commercio nos anos
30 do século XX.
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