Olney Alberto São Paulo
nasceu em Riachão de Jacuipe, 7 de agosto de 1936) foi um cineasta brasileiro.
Casado com a também cineasta Maria Augusta, era pai dos atores Ilya e Irving,
do poeta e músico Olney São Paulo Junior e de Maria Pilar. Filho de Joel São
Paulo Rios e Rosália (Zali) Oliveira São Paulo, Olney fez os primeiros estudos
em sua cidade natal. Perdeu o pai Joel aos sete anos de idade, e foi morar com
seu avô, o tabelião Augusto Asclepíades de Oliveira, em Riachão do Jacuípe.
Em 1948, o avô levou
Olney, sua mãe, Dona Zali, e seus irmãos Valnei, Valdenei e Walneie, para morar
em Feira de Santana que, neste período, já era o entreposto comercial mais
importante do sertão baiano. Ali o menino continuou seus estudos no Colégio
Santanópolis.
Algum tempo depois, D.
Zali se casou novamente, e Olney ganhou mais três irmãos - Carlos Antônio,
Colbert Francisco e Alberto Ulysses. Olney se destacou no colégio, participando
do grêmio, fez parte da equipe campeã do Colégio Santanópolis das olimpíadas de
qualidade técnicas dos Cursos de Contabilidade do Estado da Bahia, promovida
pelo MEC-CAEC, escrevendo sobre a cinema no jornal do colégio e foi escolhido
orador da turma do ginásio.
A paixão pelo cinema
nasceu com a chegada a Feira de Santana da equipe do diretor Alex Viany, em
1954, para filmar o episódio “Ana” do filme Rosa dos Ventos (Die Windrose), com
roteiro de Alberto Cavalcante e Trigueirinho Neto. Olney engajou-se na equipe durante
todo o tempo em que esteve em Feira de Santana, e acompanhou as filmagens e
atuou como figurante em algumas cenas. Em carta escrita a Alex Viany, em 5 de
novembro de 1955, escreveu: “Eu sou um jovem que tem inclinação invulgar para o
cinema. Porém, como neste mundo aquilo que desejamos nos foge sempre da mão, eu
luto com incríveis dificuldades para alcançar o meu objetivo”. Em 1955 foi
redator do jornal "O Coruja"[1] Sob o pseudônimo de Conde
D'Evey[2] escreveu sátiras e
críticas ao colunismo social de Feira de Santana, na coluna Causerie, para
desgosto da burguesia local[3]. Escreveu também sobre
literatura e artes. Também criou e dirigiu o programa “Cinerama” na Rádio
Cultura de Feira de Santana, onde comentava filmes em exibição e novidades da
produção mundial. Lecionou contabilidade pública organização técnica comercial
no Colégio Santanópolis. No mesmo ano, foi aprovado no concurso do Banco
do Brasil. No ano seguinte, leitores ofendidos forçaram Olney a encerrar a
coluna Causerie[4].
O programa de rádio também chegou ao fim.
Na impossibilidade de
realizar produções cinematográficas, escreveu sobre casos e fatos - alguns
verídicos, outros imaginários - transformando-os em telenovelas e contos
escritos em estilo cinematográfico, abordando temas nordestinos - o nome do colégio, a magia do seu povo,
personagens e histórias do sertão reconstruídas em narrativa linear, encadeadas
à moda do cancioneiro popular -, registrando o linguajar regional do
catingueiro.
Ainda em 1955, com o
fotógrafo Elídio Azevedo, produziu seu primeiro curta-metragem- “Um crime na
feira”. Com uma filmadora 16mm Kodak antiga e, coletando dinheiro entre os
amigos, comprou os negativos. Filmou o roteiro em sequência linear, efetuando
os cortes com as paradas na própria câmera, já que não dispunha de moviola.
Finalizado entre 1956 e 1957, com dez minutos de duração, o filme foi exibido
em clubes de Feira de Santana e outras cidades do interior da Bahia,
acompanhando espetáculos teatrais que o próprio Olney organizava, pela Associação
Cultural Filinto Bastos. Nessa época, Olney criou a Sociedade Cultural e
Artística de Feira de Santana (SCAFS) e o Teatro de Amadores de Feira de
Santana (TAFS).
Em maio de 1956
conquistou a menção honrosa do concurso de contos da revista “A cigarra”, do
Rio de Janeiro, com o conto “Festim à meia-noite”. Em outubro do mesmo ano,
conquistou outra menção honrosa, desta vez com o conto “A última História”.
Começou a se interessar
pela obra de Jorge Amado. Escreveu-lhe algumas cartas entre 1956 e 1957, pedindo
informações sobre o andamento das filmagens de algumas de suas obras.
Em 1958, Olney foi
baleado pelas costas pelo amigo Luiz Navarro. Ambos disputavam a jovem Maria
Augusta. Navarro disse que foi acidental. O ferimento perfurou seu pulmão
esquerdo.
Em 1959, durante uma
viagem a Maceió, no estado de Alagoas, adquiriu uma câmera Bell & Howell.
Escreveu o roteiro do documentário “O Bandido Negro”, sobre um personagem da
literatura popular, Lucas de Feira (1804-1849), chefe de um bando terrível, que
assolou a região de Feira de Santana, realizando saques e assaltos e também
lutou pela abolição da escravatura na Bahia. Escreveu também o roteiro do “O
vaqueiro das caatingas”, ambos os roteiros não concretizados por falta de
recursos.
Encontro com o Cinema
Novo
Em 1961, o diretor Nelson
Pereira dos Santos foi a Feira de Santana com a intenção de realizar as
filmagens de Vidas Secas, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Os
planos foram modificados em razão das chuvas torrenciais que atingiram a
região, e o diretor foi obrigado a improvisar um outro roteiro, que resultaria
no filme Mandacaru Vermelho, rodado em Juazeiro, na Bahia. Nesse filme, o jovem
Olney atuou como continuísta da produção, assistente de direção e produção,
além de também compor o elenco. Terminada a filmagem, que se prolongou por
Feira de Santana, Olney e Nelson tornaram-se grandes amigos. A experiência de
Mandacaru Vermelho marcou de fato a integração de Olney ao grupo pioneiro de
cineastas do Cinema Novo.
Na véspera do natal de
1961, casou-se com Maria Augusta Matos Santana. Ainda naquele ano, começou a
escrever e dirigir a revista literária, "Sertão" (1061 - 1963).
Em janeiro de 1962 nasceu
seu primeiro filho, Olney São Paulo Junior. No mesmo ano, Olney participou como
assistente de direção de O caipora, de Oscar Santana, rodado em Riachão do
Jacuípe, nas Zonas de Pé-de-Serra, Chapada e Beira do Rio. Também na mesma
época, em Salvador, estabelece contato com a geração liderada por Glauber
Rocha.
A formação
cinematográfica de Olney foi influenciada pelo neo-liberalismo, e por filmes de
guerra e western americanos. Seus principais inspiradores foram John Ford,
Vttorio de Sica, Roberto Rosselini, Giuseppe De Santis, Augusto Genina e Pietro
Germi. Estudou também as ideias de Vsevolod Pudoykin, sobre montagem
cinematográfica, e foi leitor dos escritos de Georges Sadoul, sobre a história
do cinema.
Realizou seu primeiro longa-metragem,
O Grito da Terra, em 1964, abordando a realidade do nordeste brasileiro. Entre
a pré-produção do filme e o início das filmagens, nasceu seu segundo filho Ilya
Flayert. Nelson Pereira do Santos e Laurita dos Santos foram os padrinhos do
menino. As filmagens iniciaram-se em novembro de 1963. Para compor a cenografia
do filme, Olney contou com colaboração dos comerciantes de Feira de Santana,
que emprestaram móveis, roupas de cama, utensílios e adereços. O figurino era
constituído por roupas dos próprios atores ou emprestado por amigos. A
pré-estreia do filme ocorreu no dia 27 de novembro de 1964, com apresentação do
o cineasta Orlando Senna. Entre 1965 e 1967, o Grito-da-Terra foi exibido no
Rio de Janeiro, Salvador, Aracaju e Recife. Participou do I Festival
Internacional do Filme de Guanabara, do Festival do Cinema Baiano, em
Fortaleza, e da Noite do Cinema Brasileiro, organizada pela embaixada dos
Estados Unidos, em dezembro de 1965. No entanto, sofreu cortes pela Censura
Federal, pois um personagem faz menção à volta do Cavaleiro da Esperança, Luiz
Carlos Prestes, membro do Partido Comunista Brasileiro. Por conta do corte, o
produtor Ciro de Carvalho, convidado pelo Itamarati, não aceitou que o filme
representasse o Brasil em festivais internacionais. Os produtores receberam
prêmio do governo de Carlos Lacerda, o que lhes possibilitou saldar dívidas bancárias
e confeccionar uma nova cópia do filme, sem cortes, e exibi-la nos principais
cinemas do nordeste.
"Manhã
Cinzenta" foi realizado entre 1968 e 1969. Junto com Ternando Coni Campos,
Olney decidiu registrar alguns acontecimentos da época, com sua câmera 16mm, a
partir do seu conto homônimo, escrito em 1966, e da documentação feita por José
Carlos Avellar, sobre protestos de rua. Para driblar a censura, confeccionou
várias cópias do filme, enviando-as para cinematecas de outros países e para os
festivais de Viña del Mar (Chile), Pesaro, Cannes e Mannheim.
Prisão e censura
Na manhã do dia 8 de
outubro de 1969 ocorreu o primeiro sequestro de um avião brasileiro, por
membros da organização MR-8. O avião foi desviado para Cuba. Um dos
sequestradores era membro da diretoria da Federação Carioca de Cineclubistas,
presidida na época por Silvio Tendler. "Manhã Cinzenta" foi exibido a
bordo. Olney foi vinculado pelas autoridades brasileiras ao sequestro, sendo
detido e levado para local ignorado, ficando incomunicável por doze dias.
Liberado, em 5 de dezembro foi internado com suspeita de pneumonia dupla. Em 25
de dezembro, muito debilitado psíquica e fisicamente, passou alguns dias com a
família e foi internado novamente.
Os negativos e cópias de
"Manhã Cinzenta" foram confiscados, mas, uma das cópias do filme foi
salva por Cosme Alves Neto, então diretor da Cinemateca do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro, e ficou por vinte cinco anos escondida na Cinemateca
do MAM. Assim, embora proibido no país pela Censura Federal, o filme foi
exibido na Itália, no Festival de Pesaro, no Festival Internacional de Cinema
de Viña de Mar, na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, em 1970.
Participou também da XIX Semana Internacional de Mannheim, conquistando o
prêmio de melhor média-metragem, e foi premiado no Festival de Oberhausen, na
Alemanha, em 1972.
Olney realizou ainda, em
1970, o documentário O profeta de Feira de Santana, sobre o artista plástico
Raimundo de Oliveira. A equipe era formada pelo produtor Júlio Romiti e Tuna
Espinheiro, como assistente de direção.
Em 11 de maio de 1971,
nasceu a filha de Olney São Paulo, Maria Pilar.
Em 13 de janeiro de 1972,
o Superior Tribunal Militar absolveu definitivamente o cineasta das acusações
de subversão da ordem, relacionadas ao filme Manhã Cinzenta.
Apesar da saúde
debilitada, ainda realizou "O Forte", baseado no romance de Adonias
Filho, longa-metragem no qual se destaca a paisagem de Salvador, tendo como um
dos protagonistas o sambista e ator Monsueto Menezes, que morreu durante a
filmagem. O filme teve inúmeros problemas e as filmagens sofreram várias
interrupções, que prejudicaram bastante a qualidade do resultado final. Com o
filme "Pinto Vem Aí", sobre o ex-deputado Francisco Pinto, ganhou o
prêmio Jornal do Brasil, em 1976.
Olney São Paulo morreu
cedo, vítima de câncer do pulmão, aos 41 anos.
Sobre o cinema de Olney São Paulo
De Glauber Rocha, em seu
livro Revolução do Cinema Novo (Rio de Janeiro. Alambra/Embrafilme: 1981, p.
364):
"Olney é a Metáfora
de uma Alegorya. Retirante dos sertões para o litoral – o cineasta foi perseguido,
preso e torturado. A Embrafilme não o ajudou, transformando-o no símbolo do
censurado e reprimido. "Manhã Cinzenta" é o grande filme explosão de
1968 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos
udigrudistas (...) Panfleto bárbaro e sofisticado, revolucionário a ponto de
provocar prisão, tortura e iniciativa mortal no corpo do Artysta.
De Nelson Pereira dos
Santos:
A imagem que guardo do
meu compadre é uma síntese daquele documentário que ele fez sobre os sábios do
tempo, os velhos sertanejos que dominam sistemas ancestrais de medição
meteorológica [Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva (1976)]. Vejo-o
de chapéu de couro, no raso da caatinga, conversando com os ventos, para saber
de onde vêm e para onde vão.
Filmografia
Curtas
· Um crime na rua (1955), 16 mm, 10
minutos,p&b, roteiro, direção e ator.
· O profeta de Feira de Santana (1970),
35 mm, 8 minutos, cor, roteiro, montagem, diretor e co-produtor.
· Cachoeira: documento da História
(1973), 35 mm, 9 minutos, cor e p&b, roteiro, montagem, diretor e
co-produtor.
· Como nasce uma cidade (1973), 35 mm,
10 minutos, cor e p&b, roteiro, direção e produção.
· Teatro brasileiro I : origem e
mudanças (1975), 35 mm, 12 minutos, cor, roteiro e direção.
· Teatro brasileiro II: novas tendências
(1975), 35 mm, 11 minutos, cor, roteiro e direção.
· Sob o ditame do rude Almajesto: sinais
de chuva (1976),16 mm, 13 minutos, cor, roteiro e direção. Argumento: inspirado
na crônica de Eurico Alves Boaventura. Câmera de Edgar Moura.
· A última feira livre (1976), 16 mm,
cor, direção. Roteiro de Hermínio Lemos. Câmera de Edgar Moura.
Médias
· Manhã cinzenta (1969), 35 mm, p&b,
21 minutos, roteiro, direção e produção. Câmera de José Carlos Avellar.
· Pinto vem aí (1976), p&b, 25
minutos, roteiro e direção. Câmera de Edgar Moura.
· Dia de Erê (1978), 16 mm, 30 minutos,
cor, roteiro e direção. Câmeras de Ronaldo Foster e Walter Carvalho.
Longas
· Grito da terra (1964), 35mm, 80
minutos,p&b. roteiro e direção. Argumento: romance homônimo de Ciro de
Carvalho Leite. Câmera de Leonardo Bartucci. Trilha Sonora de Fernando Lona.
· O forte (1974), 35 mm, 90 minutos,
cor, roteiro e direção. Argumento: romance homônimo de Adonias Filho.
· Ciganos do nordeste (1976), 16 mm, 70
minutos, cor, roteiro, direção e produção. Câmera de Edgar Moura. O filme foi
concluído em 1978, depois da morte do cineasta, pelos amigos Orlando Senna e
Manfredo Caldas, seguindo as orientações deixadas por Olney São Paulo.
· O Amuleto de Ogum (1974)
Fonte: Wikipédia
[1]
Inicialmente
criamos (eu, Evandro Oliveira, era fundador e secretário do jornal) o
“Santanópolis”, nome do Colégio. Depois para ficarmos independentes mudamos
para “O Coruja”.
[2]
Ajudava
Olney nesta coluna, tanto que o pseudônimo CONDE D’EVEY, era a junção das duas
primeiras letras minhas, Evandro e as duas últimas de Oley. Como fazíamos
sátiras e gozações, alguns não gostavam, mas nada sério.
[3]
Não
é certo. “O Coruja” nunca foi censurado, muito menos Olney com suas duas
colunas uma a já citada acima e Causerie, só sobre cinema. As duas vezes que
suscitaram uma maior reclamação foram 1ª o nosso colega , o editor chefe Luiz
Navarro, fez uma crítica ao desfile de 7 setembro, o Conde D’Evey fez um
trocadilho, “muito mal entendido pelo índio Navajo (pronuncia Navarro)”, ele
quis cortar esta referência, mas perdeu na votação, ele sabia que o trocadilho
foi ideia minha não de Olney. 2ª o cronista social Eme Pê fez uma grande festa
no FTC para homenagear as “Dez senhoras mais elegantes da sociedade”. O Conde D’Evey em um título “AS
DEZELEGANTES”.. só uma fazia jus ao título elegante, por não ter ido à festa. O
cronista andou se queixando.
Só uma vez, tivemos na justiça, matéria policial local, como denunciante. Foi o ápice do jornal, durante semanas vendemos mais que a “Folha do Norte” e ganhamos a questão. Republicarei neste Blog toda esta história.
[4]
Não
houve isso, mesma razão da nota anterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário