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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

QUERELAS LITERÁRIAS DE ANTIGAMENTE IV.

Como dissemos anteriormente, Aluizio Resende cutucou a onça com a vara curtaWerdeval Pitanga, não deixou barato, como o texto abaixo demonstra. (N.B.)

TAROUQUICE DE UM CRITICO

"La critique est aisée l'art est difficile"

Victimado pelos actuaes accessos de monomania critico-litieraria, actuados recentemente, sem justificativos razoaveis, no cerebro cultivavel e aliás florescente do sr. Aloysio Rezen­de, humildemente, convicto mesmo das pou­cas pollegadas que me fazem distanciar do analphabetismo, vejo-me forçado, pelo sim­ples motivo de não conhecer neste sr. as razões de mestre a responder, com laconidade ou expansão precisa e nos microscopicos li­mites do meu nada literário, á sua grosseira chroniqueta de nenhum relêvo, cuja alma de assumpto foi vibrar golpes maliciosos sobre os meus pobres rabiscos publicados em o nu­mero 18 deste conceituado jornalsinho, sob a epígrafe-Avante, mocidade feirense-
Não me foi algo de surpreza tal incidente, pois ha dias não muito atrás, no salão de au­las do “Grémio Rio Branco,” elle proprio affirmara, perante algumas pessoas de reco­nhecida competência, ser um doutrinador são, não enxergando, porisso, pessoa alguma na Feira que estivesse livre das leis absurdas do seu cutéllo.     |
Seria innominavel pretenção minha, até uma lastimável presumpção, querer alimentar pole­micas literárias com alguém que ao envez de ser merecidamente corrigido, procura criticar, fóra das normas da educação, a quem nunca lhe offendeu. Mas, o dever incita-me a deffender os meus pallidos rabiscos mal interpreta­dos ou inconscientemente julgados pelo sr. Rezende, EMBORA NUM SÓ ARTIOUETE procurando e apresentando os dados mais coloridos para desviai-os do seu olhado malsinador. Quer o sr. Rezende, pela simples razão de já haver lido algumas obras de cele­bres escriptores, dominar a Feira intellectual com os relâmpagos do seu profundo talento!!
Admirável anceio!...
Carecedor de mestres eu o sou, e assim affirmei em a minha primeira chroniqueta ou, garatuja, como se lhe queira nomear, publica­da há já alguns dias neste mesmo períodíco. Mas, não é ainda o sr. Rezende o mestre que eu queira adoptar.
      Embora a exata perfeição e a infallibilidade do genero humano ainda não haja, existem, mesmo aqui na Feira, pessoas que sabem escropulosamente, distinguir o joio do trigo, em si tratando de literatura. A estas, mui gos­tosamente eu estirarei minhas mãos para re­ceber o castigo, quando merecido.
Como, porém, ter o sr. Aloysio Rezende por mestre se elle me auxilia a açoitar o azorrague contra a literatura?...
Impossível!
Logo na sétima linha da sua «Ondas», vê-se claramente que o sr. Rezende luctava mesmo com as ondas da contradicção, em classifican­do de excellente (sem grypho) aquillo que elle mesmo procurava deprimir.
Muito me admirou, assustou-me até a for­ma pela qual elle interpretou as ultimas pa­lavras do segundo período da minha chroníqueta. Disse eu que o sr. José Falcão era um sonhador ardente e futuroso das letras nacionaes, e não um futuro vulto!
E, mesmo, se eu disser que o meu conten­dor é um futuro critico ou literato, será isto lisonja? Não. O dia de amanhã é completa­mente ignorado.
     Uns nascem abraçados ao talento e logo cedo lançam ao mundo os raios da sua erudi­ção; outros, somente perto da velhice come­çam a rasgar o véo que envolve sua sabedo­ria.
     Mesmo no sr. Aloysio Rezende, se encontra alguns sustentáculos para o alevantamento da ideia que, segundo sua opinião, se acha demolida.
Quando há poucos annos, o sr. Rezende pe­dia copia de cartas ao sr. Ariston Silva, conhe­cia o que hoje conhece relativamente ás letras?
    Não! E amanhã, não poderá ter profundo conhecimento de literatura e sobre-pôr as montanhas ás mantanhas - na phrase de La­tino Coelho - a golpes de talento, para al­çar o apogeu da gloria?
    Creio que sim.
   Depois, a má comprehensão do novo sabio cahiu em cheio sobre o seguinte trecho dos meus rabiscos: - Desde criança, vinha demons­trando gosto e predilecção pelas letras, e hoje, já tornou-se o admirador convicto do estilo de ouro de Almeida Garrett, da arte admirá­vel de Latino Coelho e da maviosidade offuscante de Coelho Netto.
  Quer o sr. Aloysio dizer que, ADMIRAR Garrett ou quaesquer outros escriptores é saber IMITAR o estylo, a eloquência, o rithmo des­tes ou daquelle,
Dizem os mais conceituados díccionaristas que ADMIRAR é enlevar-se, achar alguma couza espantosa, extraordinária, etc
Logo, ADMIRAR não ê synonímo de IMI­TAR.
O sr* Aloysio deve ADMIRAR a astronomia, no entanto, não IMITA tal sciencia. ADMI­RA um fakir sem nunca tel-o imitado.
Em fim está ao alcance da mais rústica igno­rância, que só ADMIRAMOS aquilo que não pudemos IMITAR. E qual a maior ambição da humanidade, sinão a de IMITAR aquillo que ADMIRA?
Felísmente, estou certo que José Falcão não receberá aquella bofetada injusta como do povo feirense, e sim de Aloysio Rezende.
Tornando ás razões por que não adopto-a como mestre, ao publico sensato eu sito al­guns dos seus muitos erros, IMPERDOÁVEIS PARA UM CRITICO, contidos nas suas mais aprimoradas producções:

“DE COMO GUILARDO FAZ ARTIGOS”

Foi este o titulo da sua primeira critica literaria, lançada contra o inteílígente acadé­mico Guilardo Cohim, em o n°. 12 d’A FLOR.
Assim começa o novo critico:
«Ha já pouco ano...» etc.
Diz Garrett, em «Viagens na minha terra», á pagina 28: - «Já se diz ha muito anno que honra e proveito não cabem num sacco»
Eis ahi a fonte germinal da phrase que ser­vira de abertura a nec plus ultra crónica do sr. Aloysio.
A differença notada é que, o sublime Garrett emprega a palavra MUITO e o sr. Rezende o seu antonymç POUCO.
Em seguimento desta pequena imitação, na mesma linha está a palavra JOVEM, (com M) quando a forma authorisada pelos philologos é JOVEN[1], repetindo o mesmo erro na terceira linha do terceiro periodo. e primeira do sexto.
«Viagens na minha terra» tem sido a obra inspirativa dos escriptos do sr. Rezende: - No oitavo periodo da segunda columna, diz elie: «Deixo de lhe esclarecer minuciosamente aos senhores» etc. Diz também Garrett na sua mes­ma «Viagens», á pagina 65: «Eu lhe explico aos senhores» etc. Mas, este se refere a um limitado numero de pessoas, e o sr. Rezende, ao leitor ou ao povo.
Portanto errou ...errou muito!
No meio da sua chroniqueta, o sr. Rezende esqneceu-se completamente da Historia, e zás... disse que Isocrates foi o celebre deftensor de Fríné!!
Diz Pompeio Gener, na sua custosa obra histó­rica sobre poesia, arte dramatica e philosophia, intitulada «EI inteliecto Helenico» que Isocrates foi um grande preceptista, grande philosopho, grande politico, grande orador ou escriptor de arengas, emquanto apresenta na pagi­na 195, Hiperides como o deffensor da cele­bre e formosa cortezã Friné, com quem susten­tou relações amorosas, etc. E, no «Manual de Estudos Gregos e Latinos» por L.Lourand, lendo-se a pagina 252, tira-se a melhor illação possivel que foi Hiperides e não Isocrates o deffensor de Friné.
Mais além, lê-se que Vargas Villa foi um trá­gico LIBERALISTA, e não LIBELLISTA, como elie o foi! E no oitavo periodo a palavra «Gramaticaes» com a ultima syliaba dividida (ca-es)! Passo agora ao seu deslumbrante

«NERVOSISMO»

chroniqueta bem inspirada nos seus extremos, apresentada por elie, no «Rio Branco», como producção de doutrina sã. Quem lê Aloysio Rezende, fica logo sabendo que elie adopta as regras da phonologia.
No entanto, iniciou elie o seu «Nervosismo» com a palavra HONTEM (com H) em com­pleto desaccordo com a phonetica.
Na penúltima linha da primeira columna a palavra SEUS dividida (se-us)!
Agora, no que vou citar, abysmará o leitor a inconsciência e falta de convicção do sr. Re­zende nas suas criticas literárias.
Vejamos:,
Emendou elle a phrase Não podíamos dei­xar de chorar do joven Guilardo Cohim; e, é elle, o mesmo Aloysio Rezende, o mesmo cri­tico que deixou graphico no decimo periodo do seu «Nervosismo»: «Nós mulheres não pode­mos deixar de namoricar» (o grypho é meu).
Ahi estão, leitor amigo, as razões porque não posso, não devo e não quero me submetter ás ficções ou criticas do sr. Aloysio Rezende.
Acceitarei por mestre alguém que erre me­nos, que tenha mais um pouquinho de conhe­cimento em letras e que seja também mais delicadosinho nas suas criticas.
Penso eu que para se criticar em literatura, seja mister o profundo conhecimento das letras e das suas condições ethinicas.
Portanto ainda muito longe do Sr. Resende, está o poder intellectivo de critico-literario.
Aos meus erros, os conscientes perdoarão, porquanto nunca me arvorei de mestre; mas para o sr. Aloisio que solta aos ventos os estandarte vermelho de guerra contra os que procuram, com esforço, applicar-se ás letras criticando-os á esmo, não haverá perdão para as suas quédas nas incorrecções
Acceitarei agradecido, no entanto, o conselho que elle me déra ao terminar a sua chroniqueta: - Que eu me applique aos livros. –
Mas, retribuo o seu alvitre com outro identico: - Abandone o seu Aloysio a pretençãode sabio e venha commigo ás aulas do “Rio Branco”, beber um pouquinho da luz literaria, para que amanhã, indubitavelmente, o crítico possa criticar com a suavidade e razão, e o criticado responder em phrase melhores e mais correctas, formuladas, talvez no cadinho de um estylo que não aborreça o publico.

Feira 6 de setembro de 1921.

Werdeval PITANGA


Notas do Blog: 1) os erros por acaso encontrados, são do português da época ou da tipografia. 
2) este texto é um Facsimile do jornal "A FLÔR" edção nº21 de 13 de setembro de 1921. pag. 1,2,3



Querendo só ver a série das Querelas, acompanhe o passa a passo:
1. ao lado direito do Blog na 1ª página, veja em MARCADORES e clique com o mouse em Querelas;
2. aparecera todos os textos, está por ordem cronológica, interessante começar por Querelas I.




[1] Na época do texto o certo era JOVEN, com N. (nota do Blog)

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