Como dissemos anteriormente, Aluizio Resende cutucou a onça com a vara curta, Werdeval Pitanga, não deixou barato, como o texto abaixo demonstra. (N.B.)
TAROUQUICE DE UM CRITICO
TAROUQUICE DE UM CRITICO
"La critique est aisée l'art est difficile"
Victimado
pelos actuaes accessos de monomania critico-litieraria, actuados
recentemente, sem justificativos razoaveis, no cerebro cultivavel e aliás
florescente do sr. Aloysio Rezende, humildemente, convicto mesmo das poucas
pollegadas que me fazem distanciar do analphabetismo, vejo-me forçado, pelo simples
motivo de não conhecer neste sr. as razões de mestre a responder, com laconidade
ou expansão precisa e nos microscopicos limites do meu nada
literário, á sua grosseira chroniqueta de nenhum relêvo, cuja alma de assumpto
foi vibrar golpes maliciosos sobre os meus pobres rabiscos publicados em o numero
18 deste conceituado jornalsinho, sob a epígrafe-Avante, mocidade feirense-
Não me foi algo de surpreza tal incidente, pois ha dias não
muito atrás, no salão de aulas do “Grémio Rio Branco,” elle proprio affirmara,
perante algumas pessoas de reconhecida competência, ser um doutrinador são, não
enxergando, porisso, pessoa alguma na Feira que estivesse livre das leis
absurdas do seu cutéllo. |
Seria
innominavel pretenção minha, até uma lastimável presumpção, querer alimentar
polemicas literárias com alguém que ao envez de ser merecidamente corrigido,
procura criticar, fóra das normas da educação, a quem nunca lhe offendeu. Mas,
o dever incita-me a deffender os meus pallidos rabiscos mal interpretados ou
inconscientemente julgados pelo sr. Rezende, EMBORA NUM SÓ ARTIOUETE procurando
e apresentando os dados mais coloridos para desviai-os do seu olhado malsinador.
Quer o sr. Rezende, pela simples razão de já haver lido algumas obras de celebres
escriptores, dominar a Feira intellectual com os relâmpagos do seu profundo talento!!
Admirável
anceio!...
Carecedor de
mestres eu o sou, e assim affirmei em a minha
primeira chroniqueta ou, garatuja, como se lhe queira nomear, publicada há já
alguns dias neste mesmo períodíco. Mas, não é ainda o sr. Rezende o mestre que
eu queira adoptar.
Embora a exata perfeição e a infallibilidade
do genero humano ainda não haja, existem, mesmo aqui na Feira, pessoas que
sabem escropulosamente, distinguir o joio do trigo, em si
tratando de literatura. A estas, mui gostosamente eu estirarei minhas mãos
para receber o castigo, quando merecido.
Como,
porém, ter o sr. Aloysio Rezende por mestre se elle me auxilia a açoitar o azorrague
contra a literatura?...
Impossível!
Logo
na sétima linha da sua «Ondas», vê-se claramente que o sr. Rezende luctava mesmo
com as ondas da contradicção, em classificando de excellente (sem grypho) aquillo que elle mesmo procurava
deprimir.
Muito
me admirou, assustou-me até a forma pela qual elle interpretou as ultimas palavras
do segundo período da minha chroníqueta. Disse eu que o sr. José Falcão era um
sonhador ardente e futuroso das letras nacionaes, e não um futuro vulto!
E,
mesmo, se eu disser que o meu contendor é um futuro critico ou literato, será isto lisonja? Não. O dia de amanhã é completamente ignorado.
Uns nascem
abraçados ao talento e logo cedo lançam ao mundo os raios da sua erudição;
outros, somente perto da velhice começam a rasgar o véo que envolve sua sabedoria.
Mesmo no sr. Aloysio Rezende, se
encontra alguns sustentáculos para o alevantamento da ideia que, segundo sua
opinião, se acha demolida.
Quando há poucos annos, o sr. Rezende pedia copia de cartas ao sr.
Ariston Silva, conhecia o que hoje conhece relativamente ás letras?
Não! E amanhã, não poderá ter profundo conhecimento de literatura e
sobre-pôr as montanhas ás mantanhas - na phrase de Latino Coelho - a golpes de
talento, para alçar o apogeu da gloria?
Creio que sim.
Depois, a má comprehensão do novo sabio cahiu em cheio sobre o
seguinte trecho dos meus rabiscos: - Desde criança, vinha demonstrando gosto e
predilecção pelas letras, e hoje, já tornou-se o admirador convicto do
estilo de ouro de Almeida Garrett, da arte admirável de Latino Coelho e da
maviosidade offuscante de Coelho Netto.
Quer o sr. Aloysio dizer que, ADMIRAR Garrett ou quaesquer outros
escriptores é saber IMITAR o estylo, a eloquência, o rithmo destes ou
daquelle,
Dizem os mais conceituados
díccionaristas que ADMIRAR é enlevar-se, achar alguma couza espantosa,
extraordinária, etc
Logo, ADMIRAR não ê synonímo de IMITAR.
O sr* Aloysio deve ADMIRAR a astronomia,
no entanto, não IMITA tal sciencia. ADMIRA um fakir sem nunca tel-o
imitado.
Em fim está ao alcance da mais
rústica ignorância, que só ADMIRAMOS aquilo que não pudemos IMITAR. E qual a
maior ambição da humanidade, sinão a de IMITAR aquillo que ADMIRA?
Felísmente, estou certo que José
Falcão não receberá aquella bofetada injusta como do povo feirense, e sim de
Aloysio Rezende.
Tornando ás razões por que não
adopto-a como mestre, ao publico sensato eu sito alguns dos seus muitos erros,
IMPERDOÁVEIS PARA UM CRITICO, contidos nas suas mais aprimoradas producções:
“DE COMO GUILARDO FAZ ARTIGOS”
Foi este o titulo da sua primeira
critica literaria, lançada contra o inteílígente académico Guilardo Cohim, em
o n°. 12 d’A FLOR.
Assim começa o
novo critico:
«Ha já pouco
ano...» etc.
Diz Garrett, em
«Viagens na minha terra», á pagina 28: - «Já se diz ha muito anno que honra e
proveito não cabem num sacco»
Eis ahi a fonte
germinal da phrase que servira de abertura a nec plus ultra crónica do
sr. Aloysio.
A differença
notada é que, o sublime Garrett emprega a palavra MUITO e o sr. Rezende o seu
antonymç POUCO.
Em seguimento
desta pequena imitação, na mesma linha está a palavra JOVEM, (com M)
quando a forma authorisada pelos philologos é JOVEN[1], repetindo o mesmo erro na
terceira linha do terceiro periodo. e primeira do sexto.
«Viagens na
minha terra» tem sido a obra inspirativa dos escriptos do sr. Rezende: - No
oitavo periodo da segunda columna, diz elie: «Deixo de lhe esclarecer minuciosamente
aos senhores» etc.
Diz também Garrett na sua mesma «Viagens», á pagina 65: «Eu lhe explico aos
senhores» etc. Mas, este se refere a um limitado numero de pessoas, e o sr.
Rezende, ao leitor ou ao povo.
Portanto errou
...errou muito!
No meio da sua
chroniqueta, o sr. Rezende esqneceu-se completamente da Historia, e zás...
disse que Isocrates foi o celebre deftensor de Fríné!!
Diz Pompeio Gener,
na sua custosa obra histórica sobre poesia, arte dramatica e philosophia,
intitulada «EI inteliecto Helenico» que Isocrates foi um grande preceptista,
grande philosopho, grande politico, grande orador ou escriptor de arengas,
emquanto apresenta na pagina 195, Hiperides como o deffensor da celebre e
formosa cortezã Friné, com quem sustentou relações amorosas, etc. E, no
«Manual de Estudos Gregos e Latinos» por L.Lourand, lendo-se a pagina 252,
tira-se a melhor illação possivel que foi Hiperides e não Isocrates o deffensor
de Friné.
Mais além, lê-se que Vargas Villa foi um trágico LIBERALISTA, e não
LIBELLISTA, como elie o foi! E no oitavo periodo a palavra «Gramaticaes» com a
ultima syliaba dividida (ca-es)! Passo agora ao seu deslumbrante
«NERVOSISMO»
chroniqueta bem
inspirada nos seus extremos, apresentada por elie, no «Rio Branco», como
producção de doutrina sã. Quem lê Aloysio Rezende, fica logo sabendo que
elie adopta as regras da phonologia.
No entanto,
iniciou elie o seu «Nervosismo» com a palavra HONTEM (com H) em completo
desaccordo com a phonetica.
Na penúltima
linha da primeira columna a palavra SEUS dividida (se-us)!
Agora, no que vou
citar, abysmará o leitor a inconsciência e falta de convicção do sr. Rezende
nas suas criticas literárias.
Vejamos:,
Emendou elle a
phrase Não podíamos deixar de chorar do joven Guilardo Cohim; e, é elle,
o mesmo Aloysio Rezende, o mesmo critico que deixou graphico no decimo
periodo do seu «Nervosismo»: «Nós mulheres não podemos deixar de
namoricar» (o grypho é meu).
Ahi estão, leitor
amigo, as razões porque não posso, não devo e não quero me submetter ás ficções
ou criticas do sr. Aloysio Rezende.
Acceitarei por
mestre alguém que erre menos, que tenha mais um pouquinho de conhecimento em
letras e que seja também mais delicadosinho nas suas criticas.
Penso eu que para
se criticar em literatura, seja mister o profundo conhecimento das letras e das
suas condições ethinicas.
Portanto ainda muito
longe do Sr. Resende, está o poder intellectivo de critico-literario.
Aos meus erros,
os conscientes perdoarão, porquanto nunca me arvorei de mestre; mas para o sr. Aloisio que solta aos ventos os estandarte
vermelho de guerra contra os que procuram, com esforço, applicar-se ás letras criticando-os á esmo, não haverá perdão para
as suas quédas nas incorrecções
Acceitarei
agradecido, no entanto, o conselho que elle me déra ao terminar a sua chroniqueta: - Que eu me applique aos livros. –
Mas, retribuo o
seu alvitre com outro identico: - Abandone o seu Aloysio a pretençãode sabio
e venha commigo ás aulas do “Rio Branco”, beber um pouquinho da luz literaria,
para que amanhã, indubitavelmente, o crítico possa criticar com a suavidade
e razão, e o criticado responder em phrase melhores e mais correctas,
formuladas, talvez no cadinho de um estylo que não aborreça o publico.
Feira 6 de
setembro de 1921.
Werdeval PITANGA
Notas do Blog: 1) os erros por acaso encontrados, são do português da época ou da tipografia.
2) este texto é um Facsimile do jornal "A FLÔR" edção nº21 de 13 de setembro de 1921. pag. 1,2,3
2) este texto é um Facsimile do jornal "A FLÔR" edção nº21 de 13 de setembro de 1921. pag. 1,2,3
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