Evandro J.S. Oliveira |
Vou contar
uma história que não sei se tem alguém vivo que conheça os detalhes.
Nas décadas de sessenta e setenta, as
três principais receitas dos clubes de futebol eram: ingressos em estádios;
associados; diretoria e abnegados; esta era a ordem dos clubes de grandes torcidas.
Os times do interior, caso do Fluminense, havia inversão, a primeira receita
era da diretoria e abnegados.
O Fluminense tinha sido campeão de
1969, todo mundo eufórico com a conquista. Em 1970 o campeonato baiano foi para
o antigo “Campo da Graça”, inviável economicamente, atarracado, pequena
capacidade, o motivo era a reforma da Fonte Nova.
Fluminense de Feira campeão em 1969 Foto: arquivo do Blog por Simas |
Nos meados de setenta já havia rumores de possível campeonato
brasileiro. Alberto Oliveira (Dr. Beto), desde 1969 era o presidente e Walter Miralha, que era o treinador, deu uma dica
para contratar jogadores. O time principal do Flamengo era péssimo, mas havia
uma penca de talentos das categorias de base prestes a ser lançada (e queimada,
como também quase sempre acontece na história do clube, ainda mais pelo momento
ruim de então). Nesse balaio estava Zico, então com 18 anos de idade, e tinha
muitos bons jogadores que não teriam chances e estavam emprestados para times
do interior.
Beto então convenceu os colegas da diretoria, os amigos,
comerciantes e os torcedores a fazerem a melhor equipe do Estado da Bahia. Relocou o treinador Valter Miraglia para Supervisor e trouxe um ex-jogador renomado mundialmente,
Evaristo Macêdo, já treinador dos clubes cariocas: Fluminense, América e Bangu.
Estes indicaram os reforços, melhorando
ainda mais o elenco, consequentemente inflacionando a folha de pagamento.
O projeto estava baseado em um grande aumento da renda dos
jogos e da quantidade de associados. Quando em 1970 começou a correr uma
conversa da criação de um campeonato brasileiro com a participação de todo os
Estados Brasileiros.
Nesta época o governo militar, aproveitando o Brasil ter sido tricampeão mundial, viu um viés de popularização, usando o Presidente Médici como
um torcedor, com radinho de pilha no ouvido e dando palpite na seleção.
Uma visão evolucionista dá o tom das argumentações, como se
um campeonato de proporções nacionais fosse um estágio obrigatório para o
desenvolvimento do futebol brasileiro, mesmo sabendo-se que isso poderia
acarretar na falência das pequenas agremiações.
A imprensa, principalmente a revista “Placar”, criada em 1971,
passou a dar veracidade ao boato de um grande campeonato que abrangesse todo
o território nacional. Todo dia tinha uma novidade, problemas de falta de
estádios adequados em todos os Estados, custo alto de passagens, rendas
pequenas etc...
Começou a cimentar que para viabilizar, os clubes
participantes seriam por convite e não por mérito, no caso de nosso Estado os
convidados seriam Bahia e Vitória, independente da colocação no campeonato. Era
o fim para o “Touros do Sertão”. Imaginem uma folha caríssima com um time parado,
como diziam cinco meses sem renda de ingressos e queda em número de associados,
um desastre.
A primeira tentativa de Beto foi sabendo que a base dos
convites para participação do Campeonato Nacional, era política e o Presidente Médici,
tinha peso enorme, fez um projeto, como vereador que era, colocando o nome da praça
recém construída “Presidente Médici”[1],
hoje mais conhecida como “Feiraguai”.
Mas disseram na época que João Havelange tinha uma ambição de
ser Presidente da FIFA, órgão máximo do futebol mundial, não querendo correr o
risco de criar um campeonato pífio, inviabilizando por consequência sua
candidatura, manteve a ideia de escolher os participantes, ainda mais não teria
acesso e decesso – confirmado nos primeiros anos da competição – “...clubes da
preferência de João
Havelange, e um país tricampeão mundial deveria organizar um
campeonato à altura... João Frota, diretor do Flamengo de Varginha, afirmava que seria o fim das
pequenas agremiações”[2].
Confirmado todos os temores, Beto partiu para as últimas
tentativas.
Procurou o Presidente do Bahia, Alfredo Saad (1971), fazendo uma proposta: colocava todo o elenco do Fluminense, que a esta altura era bem
melhor que o do Bahia, à disposição. Estabelecia o valor dos jogadores em comum
acordo, se algum se destacasse no Brasileiro e fosse vendido, a diferença do
valor entre o estabelecido e a venda seria dividida entre os dois clubes,
Fluminense e Bahia. Alfredo Saad, de sangue árabe, obviamente ficou
entusiasmado, seria um bom combinado. Levou para a diretoria a proposta, mas aí
o clubismo de torcedor prevaleceu e a proposta foi rejeitada pelos diretores do "Esquadrão de Aço".
Aí o Fluminense teve que se desfazer de quase todo o elenco e o
sonho acabou...
A prova que a proposta do Fluminense era excelente para os
dois e que o elenco do Bahia não era igual, foi que quase todo o time do Flu
foi adquirido nos anos seguintes pelo Bahia[3], há um custo baixo para o time feirense e endividou o time da capital. Por anos
seguintes a atuação do Bahia no Brasileiro foi vexatória e a crise econômica se
instalou por décadas no tricolor da capital.
[1]
Esta praça era anteriormente a estação ferroviária, em 1942 o Exército
Brasileiro requisitou os armazéns da Leste Brasileiro, para instalar 18º MTL –
Regimento de Infantaria para acantonar cerca de dois mil soldados. O terreno
vazio foi pleiteado por três instituições: a Igreja, como defensor Monsenhor
Galvão, o exército e a Leste Brasileiro. Com o nome de General Garrastazu Médici
o Município transformou em praça pública.
[2] Wikipédia
[3] Renato, Luiz
Alberto, Sapatão, Mário Braga, Delorme, Merrinho, Pinherinhp, João Daniel.
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