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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 23 de maio de 2019

O NECESSÁRIO PARA SER MÉDICO

GERALDO LEITE é médico, foi
10 Reitor da UEFS, Ex-Diretor  da
 Escola Baiana de Medicina e Saúde
Pública. Membro das Academias:
Baiana de Medicina, de Cultura da
 Bahia  Internacional de Letras,
 Ciências e Artes da Argentina da
 Educação de Feira de Santana
 (atualmente é Vice-presidente) e
Feirense de Letras, além de membro
 do Instituto Baiano de História da
Medicina e Santanopolitano





Gastão Guimarães viveu em Feira de Santana, na primeira metade do século XX. Chegou em 1916 e permaneceu pelo resto da vida, prestando inestimáveis serviços aos pobres e necessitados.
Durante as epidemias de varíola e “cólera morbus”, respectivamente em 1920 e 1934 e 1935, socorreu a maioria das vítimas. Algumas acometidas da forma mais terrível, a pneumônica; nestes casos, além de socorrer os doentes, levava, às suas custas, seus amigos e familiares para se vacinarem em Salvador.
Fez da profissão um sacerdócio. Por ocasião do seu jubileu de formatura - em dezembro de 1937 - a efeméride foi comemorada por sete dias.
Sua morte, ocorrida em 24 de agosto de 1954, causou comoção pública. A massa humana que compareceu ao ato fúnebre se apossou do ataúde e o levou, à mão, de sua residência até o Cemitério da Piedade.
Outros médicos humanitários se tornaram famosos em Feira de Santana: REMÉDIOS
MONTEIRO, SABINO SILVA e FERNANDO JOSE DE SÃO PAULO.
Em 1978, disse o Prof. JOSÉ SILVEIRA: “Inesperadamente as cousas se transfiguraram. O médico, de carinhoso, dedicado e bom, passou a ser visto como um interesseiro vulgar, frio, desumano,
desidioso e incapaz. Por que tudo isso? Tão grave e singular problema, que fere e abala os alicerces de nossa vida profissional, está a exigir, com urgência, uma análise cuidadosa e responsável, um julgamento equânime e seguro, de onde possam partir soluções justas c salvadoras”.
           Afinal, o que mudou? O médico, ou a medicina? O médico, ou as condições de trabalho? O que se deve fazer, para contornar tão grave situação?
          Para ser médico, acredito eu, o candidato deve ser compreensivo e humilde, viver em harmonia com variados tipos humanos, gostar da análise e da reflexão, ter amor ao estudo, atualizar o conhecimento, ser persistente, valorizar o próximo - amando-o e respeitando-o - e ter, acima de tudo, mente aberta, firmeza de caráter e retidão de conduta.
O primeiro passo para o sucesso é ter vocação. Na génese deste ideal, há, naturalmente, a influência de modelos. O Prof. ADRIANO PONDÉ serve de exemplo. “Com simplicidade, disse ele, declaro que praticar a Medicina foi a minha primeira ambição consciente, estimulada com o exemplo aliciante de meu pai. Assim, nasceu a vocação, o apelo para uma determinada forma de vida. Em meu pai conheci a completa personificação do verdadeiro clínico pelo saber, nas qualidades do coração e pelos dons do espírito”.
        O ideal, uma vez fortalecido, toma-se imbatível pois resiste ao desânimo. A palavra final fica com o Prof. JOSÉ SILVEIRA, que nos legou a seguinte verdade: “A matéria prima com a qual lidamos é tão pura, tão delicada, e tão transcendente; é um bem de tão alto valor que um deslize, uma falha, qualquer engano, um simples erro justificável pela condição humana, assume proporções dramáticas de uma irreversível catástrofe”.
Cito mais uma vez o mestre SILVEIRA que, durante um simpósio promovido pela Academia de Medicina da Bahia, declarou: “Torna-se necessário indagar - antes de tudo - num cuidadoso exame de consciência, se para exercer tão difíceis e delicados misteres que não dependem apenas de mãos hábeis e adestradas, mas de nobreza d'alma, formação espiritual e alto sentido humano - estamos selecionando com o devido escrúpulo os melhores e os mais capazes”.
Vencida a seleção, o candidato entra na faculdade e se depara com um desafio que o perseguirá pelo resto da vida: desenvolver e aperfeiçoar três qualidades imprescindíveis para a conquista do almejado sucesso: CONHECIMENTO, ATITUDE e HABILIDADE.
CONHECIMENTO é o saber que se adquire no convívio acadêmico. Ele é passado pelos mestres, durante a graduação e os estudos posteriores. É um saber que exige motivação permanente e constante atualização. Para consegui-lo, é imperioso que o estudante frequente com assiduidade as aulas teóricas e práticas, tenha amor aos livros e a outras fontes de informação.
A evolução do saber é tão intensa que um professor universitário renunciou à cátedra, no México, sob a alegação de que, não obstante seu continuado esforço, nunca se sentiu atualizado. E um saber que não tem preço mas, apesar de tudo, não é suficiente. O médico, para ser bom médico, deve ter, além do conhecimento, ATITUDE e HABILIDADE.
A ATITUDE MÉDICA é um atributo próprio de quem exerce a Medicina. É um conjunto de qualidades que acompanha o médico em toda a parte e em todas as ocasiões. Inclui da postura ao traje, o modo de ouvir, de olhar, indagar, apalpar, auscultar, percutir, confortar, aconselhar, agir e sorrir. Ainda ecoa em meu espírito as palavras de JAYME DE SÁ MENEZES: “Não vos esqueçais que se toda a medicina não está na bondade, menos vale quando está separada dela. A ciência poderosa vence, domina, aniquila o sofrimento, e recolhe entre bênçãos o condenado ao último suspiro, mas a bondade mitiga, consola, acaricia e, sobretudo, mente, resignada perante o mal incurável que condena o paciente à morte”.
Sorrir é preciso. MOLIÈRE recrimina o médico sisudo dizendo: “É gracioso, gosto dele/É um doutor sério / lembra logo o cemitério.”
É necessário ser modesto. LAFAYETE SPÍNOL A ridiculariza o médico presunçoso, recitando: “Este doutor, sabedório / a profissão leva a sério. / Abriu consultório defronte do cemitério”.
É preciso ser responsável. ROBERTO CORREIA condena o médico leviano quando diz: “De muitos doutores sei / que todos nós acatamos / quando nos diz cheguei / retruca a morte: chegamos!”
O equilíbrio da relação médico-paciente é um requisito indispensável ao exercício da Medicina.
HABILIDADE é a capacidade de, analisando sinais e sintomas, chegar a um diagnóstico. É um dom que se adquire com o tempo. É preciso enxergar longe, olhar na escuridão, ter, como disse JAYME DE SÁ MENEZES, “raios X nos dedos, nos ouvidos e no cérebro”. As doenças não se mostram à primeira vista, não se insinuam; na maioria das vezes se escondem em um emaranhado de sinais e sintomas, usando nomes arrevesados de síndromes que nunca imaginamos.
O clínico que se habitua a adivinhar ao invés de examinar, observar e ponderar, encanta os leigos, mas cai no erro, e o erro em Medicina é quase sempre fatal. O conselho que posso dar aos que me ouvem, é que escutem as queixas dos doentes com paciência, e os examinem da cabeça aos pés, aparelho por aparelho, sistema por sistema, sem elaborar diagnósticos mirabolantes, sem ideias preconcebidas, sem arrogância, com muita calma e muita paciência. Quem seguir este conselho poderá cometer algum erro próprio à condição humana, mas nunca se dirá que cometeu um erro por preguiça, pressa, otimismo exagerado, ou negligência. Nisto consiste a ANAMNESE.
Com estas palavras exalto os médicos que levantaram bem alto o conceito da medicina baiana: CÉSAR DE ARAÚJO com o Santa Terezinha, JOSÉ SILVEIRA com o IBIT, OTÁVIO TORRES com o Leprosário de Águas Claras, ÁLVARO BAHIA com o Hospital Martagão Gesteira, FERNANDO NOVA com o IBR, ARISTIDES MALTEZ com o Hospital do Câncer, HUMBERTO CASTRO LIMA com o IBOPC e FERNANDO FILGUEIRAS, com o exemplo de desprendimento.
Transcrito da revista "História e Estórias dos Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos). Edição Especial do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana - 2015



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