Hugo Navarro Silva |
Neste mundo não faltam ideias. Estão elas em cada cabeça e
em cada recanto da atividade humana. Num sentido geral há ideias perigosas, as
que podem infeccionar outras, como dizia Huxley. Há ideias novas,
revolucionárias, como existem aquelas que Machado de Assis chamava de velhuscas, sobre as quais dizia atirar
capote axiomático, e as teimosas, comparáveis a
moscas, que afastadas
irritantemente voltam ao mesmo lugar. O grande escritor brasileiro em uma de
suas crônicas criou teoria das ideias, que pertenceriam, as principais, a três
classes: as “voltadas à eterna virgindade, outras destinadas à procriação, e
outras, que já nascem de barriga”.
A tradição religiosa vê em Deus e na sua obra a suprema
ideia porque Deus não teve de consultar ou ouvir ninguém na sua forma de
existir e de criar. As ideias de Platão, vistas por muitos como a “imagem
exemplar e protótipo eterno de todas as
coisas criadas e obras da natureza ou a eterna e perfeitíssima intelecção
divina”, mereceram, de Tertuliano,
cartaginês, convertido ao catolicismo nos primórdios da Igreja, um dos
primeiros escritores cristãos, o conceito
de “mistérios heréticos” e “sementeira dos erros dos gnósticos”.
Verdade é que existem ideias para todos os gostos e desgostos,
havendo quem acredite que elas não constituem virtude apenas dos seres humanos.
Seriam comuns a toda casta de animais, que apenas encontram limitações em sua
capacidade de comunicação com os homens.
Quem já viu ninhos de aves e a “casa” do João-de-barro; quem já prestou
atenção em teias de aranhas, na organização social de cupins, abelhas e
formigas, pode ser levado a acreditar que em todos esses casos existem
manifestações que ultrapassam os simples limites do instinto.
Podemos dizer que o mundo é fruto das ideias e que nada
existe que não enha sido objeto de algum tipo de elaboração cerebral, para o
mal ou para o bem.
Há ideias criadoras de delírios provenientes de crenças
falsas e julgamentos errados ou desviados,
geradores de pensamentos irreais, como há ideias fixas, parasitárias,
aceitas pela consciência, que nelas não vê caráter patológico, que unidas à desinformação e à
crença de que “farinha pouca, meu pirão
primeiro”, levaram boa parte do povo, influenciada pelos desacertos a que a Pátria ultimamente
tem sido submetida, à crença equivocada de que os políticos são na maioria
indivíduos desonestos .
O exercício da política, inclusive neste Município, com seus
altos e baixos tem demonstrado que a
luta partidária nem sempre é pasto de oportunistas, aproveitadores, corruptos e
ladrões. Há políticos trabalhadores e honrados lutando como podem pelo bem do
povo, que nem sempre sabe ver a diferença entre
os honestos e os assaltantes do erário. Ideias de uns e de outros a
granel é que não faltam. Ultimamente surgiram na Câmara local duas que merecem
a atenção do povo. A primeira, em projeto de lei, dá a cada usuária de ônibus o
direito de apear à sua porta depois das 22 horas. O projeto, muito bom, poderia
ser melhorado se obrigasse a Prefeitura a dar um ônibus a cada usuária do
transporte coletivo, que assim poderia parar o veículo onde bem entendesse e
sem causar incômodo a terceiros. A segunda ideia, também louvável, sugere que
as gigantescas somas em dinheiro ultimamente subtraídas da Petrobrás, poderiam
ser aplicadas em educação, saúde e segurança, com o que é difícil concordar. O
dinheiro, se possível fosse recupera-lo,
teria que voltar aos cofres da empresa vítima, a proprietária,
da qual o governo federal é apenas sócio ultimamente trapalhão.
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