Hugo Navarro Silva |
O desinteresse do povo bate á porta das eleições do próximo
domingo como se todos os desapontamentos, desilusões e frustrações assaltassem de
forma definitiva a totalidade das esperanças populares. Fosse o voto
facultativo, dentro do atual panorama político poucos iriam às urnas,
provavelmente apenas candidatos, familiares e cabos eleitorais esperançosos de receber algum saldo resultante dos acordos.O país, entretanto, mantém o sistema
do sufrágio obrigatório, punindo os faltosos. O voto obrigatório é a negação da
democracia e implica em grave contradição incrustada na lei, porque o eleitor
pode votar em branco ou anular o voto sem receio de punição.
O distanciamento entre povo e eleições, que se vem
acentuando com o passar do tempo, é a negação da democracia e a facilitação de
abertura de perigosos caminhos para o futuro do povo brasileiro.
A culpa do rigor mortis, que vai tomando a vida política brasileira, é atribuída aos partidos, os principais, aqueles
que encabeçam as preferências, tão semelhantes uns dos outros que impossível
seria estabelecer diferenças, e a maioria, em número espantoso, buscando
brechas, alianças, acordos que aos seus chefes e cabos influentes rendam alguma
coisa.
O povo assiste, geralmente bestificado, ao desenvolvimento
das campanhas políticascomo o historiador disse a respeito da proclamação da
República, com sintomático desinteresse sobre o que se afirmou ou se deixou de
dizer, porque na atual política brasileira, a mensagem, o programa do candidato
geralmente são pífios, repetidos, defendidos por outros em campanhas passadas e geralmente desmoralizados pela
inação de quem assume o poder, a ponto de dar
motivo, ultimamente, ao surgimento, na imprensa, de instrutivas charges
que mostram eleitor nas diversas fases da vida, do nascimento à morte, ouvindo de políticos eternas promessas a respeito da trinca mágica:
educação, saúde e segurança, sem nenhuma esperança de solução no presente ou no
futuro para tais assuntos problemáticos. Essa falta de criatividade, visão, a
ausência de coragem cívica para dizer verdades com o risco de fazer adversários
e inimigos, a vontade de desmistificar crenças mentirosas, negar falsos
profetas e virtudes fictícias, vão transformando
a política brasileira em alguma coisa cansativa e chata, no mínimo
desinteressante, lamaçal em que muitos
estão a chafurdar, de que poucos se livram
por sentimentos de honra,
dignidade e preocupação com o cumprimento do dever, virtudes hoje ameaçadas pelo tsunami de
mediocridade interesseira que envolve a política partidária.
Ninguém trata, na campanha presidencial, de assuntos vitais
para o futuro do povo brasileiro como o da posição do Brasil no campo da
política internacional; do preço da energia elétrica para a indústria, dos
dramas causados pela falta de chuvas, que afetam todas as atividades nacionais.
Ninguém fala de assuntos importantes como o da maioridade penal, do aborto, da
burocracia, fomentadora e facilitadora da corrupção. Ninguém se lembra da discriminação
sofrida pela região nordestina, do custo Brasil, gigantesco entreve às nossas
exportações, das enormes dificuldades da classe empresarial para sobreviver e
do sistema tributário, o obstáculo maior e o desestímulo supremo de quem deseja
trabalhar e crescer na vida.
Não enxergam, os políticos, que o país está a ponto de
explodir. Quase todo dia e por qualquer motivo ocorrem violentos ataques a bens
públicos e privados, o fechamento de ruas e estradas, incêndios de ônibus e
outras demonstrações de revolta, criando
perigoso clima de desordem que ninguém sabe onde vai dar.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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