Hugo Navarro Silva |
Provavelmente as árvores precederam os animais de sangue
quente sobre a terra. Narra o Gênesis que Deus mandou que a terra se cobrisse
de vegetação e a terra fez brotar plantas e árvores cujos frutos produzem
sementes. E Deus ficou satisfeito. O homem ainda não existia. Numa dessas
árvores, com certeza, pendurou-se a serpente que induziu Adão e Eva ao pecado
pelo qual a humanidade até hoje está sofrendo penas terríveis.
As árvores têm sido parceiras do homem no desenvolvimento e
nas conquistas desde o fornecimento de material para o teto protetor, à
construção das naves necessárias à conquista dos mares e de novas terras. Não
poderiam, por isso mesmo, estar de fora das manifestações culturais de todos os
povos. Entre nós vão da poesia acadêmica, como no caso de Olavo Bilac no soneto
“Velhas Árvores” e no conhecido trecho de Ruy Barbosa: “Uns plantam a semente
da couve para o prato de amanhã, outros a semente do carvalho para o abrigo do
futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Estes lavram para o seu país, para a
felicidade de seus descendentes, para
benefício do gênero humano”. As árvores, como parte de manifestações
populares aparecem com vigor na música popular
como nos sambas “Coqueiro Velho”, gravado por Orlando Silva e Dalva de
Oliveira e “No Tronco da Amendoeira”, de
Patrício Teixeira, quase obrigatório no
intervalo da narração, pelo rádio, de jogos de futebol quando o locutor
esportivo era Ary Barroso. A presença
das árvores está de tal sorte entranhada nas tradições do povo brasileiro que
deu origem a interessantíssimas manifestações como a do “Pau de Santo Antônio”,
quando grupo de cerca de cem homens uma vez por ano transporta tronco de vinte
metros de comprimento, em Barbalha,
Ceará, em concorrido cortejo que faz parte das festas dedicados ao padroeiro da cidade e duram doze dias. No tronco, que será o pau da bandeira, diz a
tradição, a mulher que conseguir tocar em pouco tempo terá seus problemas
amorosos resolvidos favoravelmente.
Feira tem conhecido prefeitos, que reconhecendo o papel das
árvores em cidade castigada, normalmente, por implacável soalheira, cuidam de
plantar arvoredos em vários pontos da cidade, algumas vezes com requintes de
cuidados, protegidas, as mudas, por gradis de ferro. Quase todas as mudas foram
destruídas pela população. Algumas sobreviveram nos canteiros centrais da
Avenida Getúlio Vargas, que ao contrario do que se anda a propalar nada têm de
centenárias, são dos tempos do prefeito João Marinho Falcão. Muitas foram
sacrificadas por interesse do poder público. Quando inaugurada a Avenida os
canteiros eram mais largos, abrigando mais árvores. Os canteiro tiveram que ser
encolhidos devido o aumento do movimento de veículos e árvores desapareceram,
como aconteceu, anos antes, com as árvores dos canteiros da Avenida do Senhor
dos Passos, todas imoladas às necessidades de cidade que se desenvolve olhando somente para as conveniências
imediatistas não deixando margem para se prever até que ponto o progresso a poderá levar.
A oposição local descobriu que o ponto vulnerável do governo
do Município é o transporte coletivo, considerado ineficiente e de baixa
qualidade, e passou a atacar, por todos os meios disponíveis, inclusive o do
boato, o moderno e eficiente sistema de transporte que o prefeito luta para
implantar na cidade, mas que resultará na inevitável retirada de árvores da
Avenida Getúlio Vargas. É mais um
tributo que as árvores terão que prestar ao desenvolvimento e à insensibilidade
do que o progresso tem por inevitável, apesar das lágrimas dos seus falsos
defensores.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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