Hugo Navarro Silva |
Nestes tempos de política, de acirramento de campanhas
eleitorais a tomar espaço na mídia e alguma atenção das pessoas, muitas delas
preocupadas com os destinos da pátria amada cujo futuro pode ter repercussão na vida da maioria do povo,
notamos que a música, parceira dos políticos durante muitos anos de luta, está
sendo banida da luta partidária.
Desde os começos da República a música de exaltação ou de
crítica costumava fazer parte das disputas eleitorais brasileiras.
A música popular, com as novidades que hoje comandam os
espetáculos musicais, tomou rumos que a vêm afastado de suas origens, que
sempre estiveram na maneira de viver do povo, o que lhe conferira verdadeira
feição de crônica da vida brasileira, retratando, criticando ou satirizando
hábitos, costumes, classes sociais
e indivíduos quase sempre com um toque
de malícia e de bom humor. Sofre, hoje, mudanças que levam muita gente a dizer que em outros
tempos ligava rádio para ouvir música.
Hoje, desliga para não ouvir.
Os retratos ou caricaturas musicais da vida brasileira,
abrangendo o cotidiano teriam, necessariamente, de atingir a política, os
políticos e acontecimentos a eles ligados. Essa tendência começou a desaparecer
quando as campanhas políticas, por motivos diversos, passaram a se afastar do
povo com os programas eleitorais gratuitos da televisão, que mostram figuras
maquiadas como se fossem artistas de antigas e cansativas novelas a declamar
peças de ficção.
Helena Bomeny, citada por Jessica Onirica Ferreira de
Freitas em artigo publicado pela “Revista Brasileira de Ciências Criminais”,
vol. 90, afirma que “a música (...) expressão maior e mais pura da manifestação
da cultura, será sempre, no caso do Brasil – país de larga, bem-sucedida e
reconhecida tradição musical – reveladora dos instantes de afirmação de nossa
identidade como nação, como grupo ou como povo”.
Jessica Onírica em seu trabalho, que enriquece a
bibliografia sobre a música brasileira, realça a importância dos compositores
populares porque registram fatos e pessoas esquecidas pela história oficial,
fazendo referência ao que afirma José Maria de Souza Dantas no livro “O Canto e
a Canção: MPB”, interessante analise da figura do malandro, descrito no samba
“Lenço no Pescoço” de Wilson Batista, e que dominou a música popular do
antigo Distrito Federal, a cidade do Rio
de Janeiro: “Meu chapéu de lado/Tamanco arrastando/Lenço no pescoço/ Navalha no
bolso/Eu passo gingando/Provoco e desafio/Eu tenho orgulho/ De ser tão vadio.”
A influência do malandro na produção musical começou a diminuir no governo
getulista, que passou a patrocinar composições de exaltação do trabalho como “O
Bonde São Januário” que levava mais um operário “sou eu que vou trabalhar”
porque “a boemia não dá camisa e ninguém”.
Um das primeiras músicas de combate político surgiu contra o
candidato à presidência, Artur Bernardes, que tinha dois apelidos: o de Rolinha
e o de Seu Mé: “Lá no Palácio das Águias, olé/Não hás de por o pé”. O Palácio
das Águias era o do Catete, então morada presidencial. A música, motivo de
passeata, com a queima de fogos e banda de música, nesta cidade, falava, ainda,
de bom vatapá bastante apimentado, certamente referencia a J.J. Seabra,
bahiano, que estava da chapa contrária à de Bernardes, a de Nilo Peçanha, como
candidato a vice-presidente.
Pena que a música, o jingle estejam quase desaparecidos das
rinhas políticas. Ministro da Republica que
nesta cidade esteve recentemente prometendo duplicar todas as nossas estradas bem
que poderia merecer um samba dos mentirosos.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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