Hugo Navarro Silva |
A tramitação de projeto de lei, o “Plano Municipal da
Juventude”, certamente destinado a livrar os nossos jovens de todos os males
presentes e futuros e ainda lhes garantir a salvação da alma, tem provocado
mais ou menos acaloradas e tensas discussões na Câmara, distúrbios causados por
um tal art. 17, que segundo o noticiário trata do LGBT, e, como consequência,
aborda tema que dominou a mídia
durante algum tempo, o casamento gay, mas vem sofrendo natural arrefecimento
como acontece com os assuntos que decaem do interesse ou da curiosidade do
povo.
União entre pessoas é coisa que tem existido em todos os
tempos, com finalidades diversas, a maioria das vezes sob o império da lei,
diante da proclamada liberdade de contratar, que é quase infinita e está
incluída, nos regimes democráticos, no conjunto de direitos humanos ou direitos
individuais do cidadão.
Os desentendimentos da Câmara estão intimamente ligados à
orientação de ordem religiosa. Os protagonistas principais são dois evangélicos,
um acusando o outro de se manifestar favoravelmente ao casamento entre pessoas
do mesmo sexo, que entre protestantes parece ser gravíssimo pecado e desvio
capaz de levar o infrator ao lugar mais desmoralizado dos últimos tempos, que
quase ninguém leva mais a sério, o Inferno, principal comitê do Diabo, que já
foi motivo de terror de muita gente, inclusive de pessoas ajuizadas.
Acreditamos que dar o nome de casamento à união de pessoas
do mesmo sexo não passa de exagero, em que se força demasiadamente a barra em
busca de igualdade, que não pode existir, mas tem encontrado apoio dentro e
fora do país naturalmente da parte de interessados diretamente no problema grimpados
em cargos de relevo em mundo que está virando pelo avesso quase diariamente,
com extrema e tão perigosa velocidade que ás vezes é difícil fazer a ligação entre
o que existe tradicionalmente, e o que se pretende estabelecer no presente como
fato respeitável e coisa séria, mas
corre o risco de descambar para os caminhos do ridículo.
Preferível seria conservar a palavra casamento somente para
a união entre homem e mulher, conforme definição do civilista Sílvio Rodrigues:
“Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união
do homem e da mulher, na conformidade com a lei, a fim de regularem suas
relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”.
Toda a zanga do vereador decorre do fato de colega, também
religioso, ter se pronunciado favoravelmente à união gay, o que no seu entender
é inadmissível e condenável procedimento, naturalmente exigindo que a Câmara oriente suas decisões e debates pelas regras
bíblicas, para salvar a pátria, sem excluir as figuras de Salomão e David, que
o poeta Cristovam Barreto definiu como “dois velhos pecadores”, que “vadios, tiveram mil amores e uma legião
fizeram de meninos”.
O vereador zangado dá
a entender que deseja, para este país, uma teocracia. No decorrer da História
encontramos sempre esforços humanos para aumentar o poder de Deus, às vezes
transformados em puxa-saquismo interesseiro, que a divindade não pediu e de que
não precisa.
Os exemplos de teocracia, atuais e passados, são apavorantes
conforme ainda hoje acontece entre o estado de Israel e os habitantes da Faixa
de Gaza, no Iraque e em outros países da Oriente Médio. Todo mundo sabe que malandros
estão lucrando, como sempre, com os morticínios, mas o motivo que aparece é a crença
religiosa.
Melhor
seria que a Câmara, junto com os problemas locais, prestasse atenção ao que se
passa no país, ameaçado de recessão braba e desemprego iminente e deixasse questões religiosas para as
igrejas.Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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