Hugo Navarro da Silva |
O Panamá, pequeno país da América Central, quase
insignificante, já teve mais fama e notoriedade do que escritor comunista principalmente
se recém falecido.
Colônia espanhola, o Panamá proclamou independência dois
anos depois do Brasil, mas teve que fazer parte da Colômbia, pressionado por Simon
Bolivar. Alguns anos depois tentou, novamente, a independência, que
reconquistou durante pouco mais de um ano, voltando a ingressar na soberania
colombiana na condição de departamento, quando grandes Iinteresses econômicos
levaram empresários norte americanos a construir, no istmo, famosa ferrovia
ligando a Colômbia à Califórnia, garantindo livre trânsito às mercadorias e
cidadãos da república do norte. Na época o olho do mundo cresceu sobre o
Panamá. O comércio entre ocidente e oriente era dificultado e onerado por longas
viagens marítimas, cheias de tribulações,
ampliando custos e perigos na passagem
do tormentoso Cabo Horn ou na travessia do Estreito de Magalhães. Foi quando
surgiu a ideia de construir passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico, no
Panamá. Encurtaria as viagens que passariam a ser feitas com economia de tempo em
mares mais tranquilos e seguros.
A França tomou a frente da empreitada. Era a maior potência
do universo. Famosa na literatura e nas artes, tinha exército julgado
invencível, o maior do mundo, sustentado por gigantesca indústria e generais cheios
de pose. Sua fama caiu e se desfez, no inicio dos anos quarenta, quando a
Alemanha, em menos de quinze dias, a transformou em país satélite do nazismo e
Hitler dançou algo como o lepo-lepo à sombra da Torre Eiffel. A desmoralização
foi total e definitiva.
No século XIX havia na
França um sujeito impressionante, formidável, Ferdinand de Lesseps. Diplomata,
arquiteto, carregado de medalhas e honrarias, assumiu a direção de gigantesca
empresa criada para realizar a ligação entre o Atlântico e o Pacífico, da qual
vendeu milhares de ações. Experiência tinha, porque liderou a abertura do Canal
de Suez, unindo o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, antigo sonho de Napoleão.
Promoveu congresso internacional, em Paris, para traçar planos destinados ao empreendimento
e discutir a rota do novo canal, sucesso que elevou o Panamá às culminâncias
dos noticiários internacionais. Havia muito dinheiro no empreendimento e
perspectivas de lucros fabulosos. Os trabalhos, levados à força de picaretas,
depois de oito anos de esforços e gastos quilométricos, não andavam. Resultaram
em estrondosa quebra. Lesseps e um filho, Charles, acusados de gestão ruinosa,
foram condenados às penas de multa e cadeia. O pai livrou-se da prisão. O filho
passou um ano atrás das grades. Para a companhia francesa havia, atrapalhando
os trabalhos, o Monte Culebra, a diferença de nível entre os dois oceanos e a
febre amarela, que matou milhares de trabalhadores. Os norte americanos intervieram na construção do Canal em 1904, depois que o Panamá desligou-se,
definitivamente, da Colômbia. Desmontaram o Culebra, que transformaram em lago,
o Gatúm, usaram escavadeiras mecânicas, instalaram ferrovias para o transporte
de equipamento e pessoal, realizando a retirada do material escavado, encheram
a zona de trabalho de inseticida, os alojamentos de telas protetoras e criaram
sistema de eclusas para compensar o desnível entre os dois oceanos. Inauguraram, em 1914, o Canal do Panamá, que
se mostrou de fundamental importância para o comércio mundial e na guerra
contra os japoneses.
Panamá assumiu, durante muito tempo, o sentido de
roubalheira e desordem. Será que a história se repete e teremos, em breve, na
linguagem do povo, o substantivo petrobrás como sinônimo de ladroagem, fraude e
baderna?
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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