Mudanças
sempre marcaram a vida humana sobre a Terra. Tudo está sujeito a mudanças: roupa,
atitudes, alimentação, morada, hábitos e vícios, juízo, ao contrário do que
disse o Pe. Antônio Vieira para quem somente o juízo de Deus podia mudar. Quando
a humanidade abandonou a vida nômade e passou a se fixar na terra, com o
cultivo do solo, geralmente perto de fontes de água, a mudança do local de
morada restringiu-se, encolheu, mostrando que a conveniência, marcada pela
necessidade, dita os caminhos do mundo.
A
formação de aldeias, vilas e cidades, nos primeiros tempos prenderam de tal
forma o homem à sua morada que a Língua Portuguesa, nas suas origens, tinha a
palavra mutança, depois transformada em mudança, apenas como termo aplicado à
arte da música. Somente raros mercantes
e pedreiros (os construtores de grandes igrejas) viajavam. Os precários, raros
e onerosos meios de transporte dificultavam as viagens, a não ser, raramente,
nas incursões em defesa da fé.
O
comércio foi o grande motivador da interação entre as povoações, que hoje não
encontra limites depois que os meios de transporte receberam a ajuda de
máquinas que popularizaram as viagens, tornando-as mais seguras, rápidas e
baratas.
Certamente, entretanto, serão poucos, na
história da mobilidade humana, os casos de mudança de comunidades inteiras de
um local para outro, com armas e bagagens, mas aconteceu em Feira de Santana.
Florescente
aqui era a Freguesia de São José das Itapororocas, criada em 1657 e confirmada em
1696. Na sua Igreja, havia muitas alfaias, prataria, segundo Eurico Alves,
“obras de valor”, que desapareceram. A Igreja Matriz de Feira de Santana,
oriunda da capelinha da fazenda de Domingos Barbosa de Araújo, cresceu aos
poucos no decorrer do tempo. Suas torres datam de 1915, na época do Mons.
Tertuliano Carneiro. Fato é que povo e comércio de São José migraram para Feira
de Santana quase integralmente no século XIX.
Sobre
as alfaias e bens da antiga Matriz de São José, há um fato interessante. O cronista
social M. Portugal, que andou a produzir prodígios superando o do Frei Gaucher,
do conto de Alphonse Daudet, que escandalizou o convento ao beber licor que
fabricava e cantar: “Em Paris há um Padre Branco/ que faz dançar as
freirinhas,” fez dançar “freirinhas” e “freironas”, com os seus famosos
desfiles para escolha da “mais
elegante”, que realizava no “Feira Tênis Clube”, ajudando a derrubar antigas
fortalezas discriminatórias. Metido a
devoto de São José (o santo mais calado da Bíblia), M. Portugal arvorou-se a curador
da Igreja, que andava meio abandonada, e andou a espalhar que encontrou,
debaixo do altar-mor, num buraco ou esconderijo secreto, rica coleção de
alfaias, cujo destino é desconhecido e ninguém procurou saber, mesmo porque o
cronista ás vezes era dado a exageros.
Fato
é que São José das Itapororocas, que hoje tem o nome de Maria Quitéria, a certa
altura dos acontecimentos trasladou seu comércio e seu povo, na quase
totalidade, para Feira de Santana. “Toda a vida da povoação de São José passa
para as ruas recém-nascidas, desde que a Freguesia passa a ter por sede a
Capela de Sant’Ana, segundo se lê do Livro de Tombo da Paróquia” segundo Eurico
Alves.
Que teria levado o povo de São José à mudança, que transformou,
radicalmente, a vida em duas povoações? Só há uma resposta razoável. Em Feira
de Santana havia água de muitas fontes, aguadas e tanques, frutos de famoso
lençol freático abalado apenas nas épocas de secas prolongadas.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário