Huno Navarro Silva |
Há grave crise nas ruas. E não
é simples, porque não se restringe a um ou outro segmento da sociedade. É
geral, causada pela insatisfação do povo diante de tanta marmelada,
roubalheira, insegurança, descaso com os principais problemas populares e
ganância por mais poder e mais dinheiros. O governo, atônito, distanciado das
massas, não conseguiu antever os acontecimentos que ameaçam transformar o país
em um Egito, pensando, apenas, no poder, tenta jogar areia nos olhos do povo
com plebiscito, invenção de marqueteiros, segundo dizem, para fazer o serviço
que o futebol e a “copa das confederações” não conseguiram: escamotear da
população os graves problemas nacionais, com empulhação gigantesca a custos astronômicos.
A ideia do plebiscito, em que a responsabilidade do desastre
que é o Brasil de hoje é retirada do governo e atirada sobre os ombros do povo
faz lembrar conto de Artur Azevedo, em que pai de família, com ares de sabe
tudo, é perguntado, após o jantar, por filho menor, sobre o que é plebiscito. O
pai tergiversa, tenta sair pela tangente, mas a mulher interfere com veemência.
Como é que ele, pai, se recusa a explicar ao menino o que é plebiscito? O
ambiente azeda até que o inquerido escapa para cômodo em que consulta
dicionário e volta para a sala com ares de triunfo e explica que plebiscito é
“uma lei decretada pelo povo romano, estabelecida em comício.” E conclui
vitorioso: “Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil. É mais
um estrangeirismo!...” Todos ficaram aliviados.
É fato que plebiscito está no art. 14 da Constituição. É
resquício da democracia direta que existiu na antiguidade. No caso presente é
medida perigosa para o povo brasileiro, porque pode ser manipulado pelo Congresso.
Em alguns casos tem servido para legitimar governos espúrios e lhes dar poderes
ditatoriais. Um cheque em branco como já aconteceu, recentemente, em outros
países sul-americanos.
O que a presidente da República mandou para o pouco
confiável Congresso Nacional são questões de ordem política como a sangria do
erário com o financiamento público de campanhas eleitorais, para beneficiar a bancada
governista, que é a maior do Congresso, mas que não elimina o famoso “caixa
dois”, inevitável em qualquer hipótese. O tal plebiscito do governo
necessariamente terá a iniciativa do Congresso, que sobre ele decidirá, podendo
amplia-lo para lhe acrescentar o que bem entender, inclusive a possibilidade de
terceiro ou permanente mandato presidencial.
O governo não deseja perguntar ao povo sobre o que é
necessário para melhorar o transporte coletivo; de que forma oferecer melhores
condições à saúde pública, que anda abandonada, aumentando o obituário às
portas e nos corredores de hospitais obsoletos, onde faltam instrumentos,
medicamentos, médicos e pessoal de apoio e não deseja perguntar como ter
sistema educacional compatível com o progresso e a necessidade de crescimento
do país. Não pergunta, ainda, o que fazer para ajudar as polícias no combate à
criminalidade que anda a provocar, diariamente, tragédias que aterrorizam e
ameaçam todo o povo brasileiro, a ponto de ninguém, neste país, se sentir
seguro e tranquilo; de que forma
combater a corrupção, que anda a corroer o país, nem como salvar a economia nacional
da queda que a amaça.
A inflação voltou a consumir salários. Importamos petróleo,
verdade de que ninguém fala. Estamos à beira do desastre em nossa economia
baseada no consumo interno e sustentamos governo de trinta e nove gordos ministérios.
A maioria das estradas, em estado de abandono, dificultando o transporte, está
quase a inviabilizar a produção agrícola, a única que ainda respira, onerando-a
de despesas insuportáveis.
O povo quer a verdade, respostas, mudanças efetivas. Não vai
aceitar tapeações e engodos.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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