Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

quarta-feira, 31 de julho de 2013

O FILME DE CUICA



O “Blog Demais” está anunciando, para agosto, a exibição, em Salvador, de filme/documentário sobre a vida e a obra de Cuíca de Santo Amaro. Posteriormente será levado a outras cidades bahianas. O filme é baseado em relatos de pessoas que conheceram o poeta, nos seus livrinhos de poesia  e  outras fontes.
Consta que José Gomes, mais conhecido como “Cuíca de Santo Amaro”, não era santamarense, como o apelido poderia sugerir, mas nascido em Salvador em 1907. Faleceu em 1964.
Houve época em que “Cuíca” desfrutava de enorme popularidade na capital do Estado não só pelos seus livretos, mas pelas apresentações em portas de loja, na Baixa dos Sapateiros, onde aparecia geralmente de enorme cartola, fraque preto de lamê e óculos escuros, com megafone a fazer propaganda de mercadorias, recitar versos e contar piadas. Mereceu, de Jorge Amado, a denominação de “trovador baiano” e a honra de figurar nos romances “Os Pastores da Noite” e “Quincas Berro d’Água”.
Morou durante muito tempo no bairro de Baixa de Quintas e constantemente visitava cidades do Recôncavo, principalmente Santo Amaro, o que talvez lhe tenha dado origem ao apelido a que ele próprio teria acrescentado “o tal”.
Figura conhecida e temida, nem alto nem baixo, Cuíca tinha a cor peculiar de alguns nascidos no Recôncavo:  não era preto, muito menos branco ou mulato. Fazia versos, que mandava imprimir em velha tipografia do Pelourinho, que tinha coleção de tipos meio amassados, em livretos de capa que exibia xilogravuras primitivas, provavelmente executadas a canivete em madeira de cajá. De tais produções encarregava-se da propaganda nas ruas de Salvador.
Constantemente aparecia na estação da estrada de ferro da Calçada, antes da saída do Automotriz de Feira de Santana e do Recôncavo, onde fazia o sucesso de sempre. Certo dia ali surgiu a mostrar folheto cujo  título passou a apregoar aos brados, como sempre: “A Mulher que virou sariguê em São Gonçalo dos Campos dos Campos e mordeu as canelas do Padre Bráulio.”
O Padre Bráulio, vigário desta Freguesia, teve que ser transferido para São Gonçalo por intrigas de beatas que se sentiram preteridas por outras certamente mais novas e atraentes.
Assim era Cuíca. Não havia escândalo, segredo de alcova, boato, maledicência que não lhe estimulasse o estro para novos versos, muitos dos quais jamais apareceram de público. Dizem que a troco de ouro dos interessados. Era época em que ainda florescia, mesmo a custo de surras  desancadoras e outros graves incidentes,  certo tipo de jornalismo, felizmente desaparecido, baseado em extorsão, que deve ter servido de modelo ao vate popular. Havia até uma revista envolvida e periódicos outros como o “Marche-Marche” de Cachoeira e a “Fôia dos Rocêros”, de Salvador, que em tom de brincadeira  ou de crítica participavam de tipo de jornalismo que sobreviveu até os anos 80, movido  até por gente de aspecto de alguma respeitabilidade. Essa gente, com a redemocratização, passou a ver políticos como possíveis vítimas. Um dos diretores da revista tentou agir nesta cidade. Foi ignorado. A “Fôia” teve vasta circulação em Feira com lista dos que nomeava de membros do “Clube do Beija Flor”, que não teve ressonância  porque  criou confusão. Em imóvel quase pegado à Praça da Bandeira havia  frequentado bar denominado de “Beija Flor”, de Anísio “Rato Branco”.
Poucas vezes “Cuíca” se aventurou  nesta cidade. Na última apareceu  ameaçando publicar folheto contra a  administração de prefeito que lutava para salvar a Prefeitura do total descrédito em que se encontrava.  Temendo surra, fugiu.
 Que venha o filme. Conta parte da  história da Bahia.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Filme do Santanopolis dos anos 60