Hugo Navarro Silva |
A notícia não mereceu muita divulgação. Apenas pálida menção
em noticiário esportivo, não chegando a figurar nas colunas dedicadas à
criminalidade. Ladrões arrombaram porta do centro de treinamento do “Fluminense
de Feira”, causaram destruição e surrupiaram o que puderam levar. No noticiário
falou-se mais do incerto futuro do clube feirense do que do fato criminoso, que
a ninguém causou espanto ou surpresa, tal o elevado número de crimes contra o
patrimônio de que o nosso povo é vítima, cotidianamente, sem esperança de que
alguma medida possa remediar situação que se vai tornando irremediável.
O “Fluminense de Feira” viveu dias de glórias que o levaram
às culminâncias do futebol do Estado. Ganhou fama nacional e torcida numerosa,
apaixonada, que ainda hoje sobrevive sofrendo humilhações e desenganos.
O clube nasceu modestamente, no tempo do amadorismo, da
fusão com outro pequeno, o “Palestra”,
pelo trabalho de alguns, mas, principalmente dos esforços de dois
amantes do futebol, os irmãos Wilson e
Newton da Costa Falcão. Wilson era centroavante e Newton atuava como goleiro. O
“Fluminense” cresceu e tomou corpo. Absorveu
o que a “Associação Desportiva Bahia” tinha de melhor, em matéria de
jogadores, como “Ioiô Goleiro” e criou, nesta cidade, intensa rivalidade que
durou alguns anos, dividindo não apenas pessoas, mas ruas e bairros inteiros. O
Nagé, por exemplo, era “Bahia”, mas o Sobradinho torcia pelo “Fluminense”.
Quando se restaurou a vida
político-partidária no país, em 1946, até bares serviam para manifestações de
preferências. No botequim do Sargento Regis, no ABC, reuniam-se partidários do
“Bahia” e do PSD e no boteco de Aniceto, no centro, quem era “Fluminense” e
votava na UDN. A luta despertou
inclinações poéticas e improvisos musicais. Figura conhecida, Zé-Lima, torcedor apaixonado, grande seresteiro,
contador de “Marinho, Santos & Cia.”, nas arquibancadas já do estádio
municipal, que ainda não tinha a “ferradura” fechada, o que aconteceria anos
depois, criou música que o povo
rapidamente aprendeu e saiu do estádio cantando. Na subida do Nagé a massa,
entusiasmada, entoava, movida a muito álcool: “Quem é o campeão feirenço, é o
Fruminenço. Quem é o campeão feirenço, é o Fruminenço, o Fruminenço, o
Fruminenço!”
Ainda no amadorismo o “Fluminense” cresceu. Importou
jogadores. Equipou-se. Ao chegar ao profissionalismo e conquistar lugar de
destaque no futebol nacional angariou incrível popularidade e deu demonstrações
de força. Duas vezes campeão baiano e várias vezes vice-campeão, em dias de
entusiasmos e alucinados desembolsos.
Houve época em que o “Fluminense” mantinha três sedes. Uma
no centro (escritório), o casarão que pertenceu a Heráclito Dias de Carvalho,
na Rua Mons. Tertuliano, e concentração na rua Juvêncio Erudilho. O dinheiro
corria solto. Era comum, na sede da Mons. Tertuliano, à noite, onde instalou ruidoso, perigoso e concorrido
bingo, recurso de que o Clube se valeu para tentar sobreviver, encontrar diretores
sentados diante de monte de promissórias em branco, às segundas-feiras, uns
emitindo e outros avalizando.
O bingo não poderia sobreviver. Era ilegal e passou a ser
grave problema de segurança pública
diante dos distúrbios que provocou.
Como último recurso elegeu-se um oficial do Exército para
tentar contornar os problemas do Clube. Em vão. Os aproveitadores continuaram a
agir na impunidade e as despesas maiores do que a receita.
O “Fluminense” cresceu em caldo de imoderada abastança. Roeu
fortunas e deu prejuízos, alguns injustamente. Para quem desejar recuperá-lo,
entretanto, as portas estão abertas. É
só afastar a política, os aproveitadores, e levar montes de dinheiro para jogar
fora.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Nota: estava viajando, sem acesso a internet, consequentemente não postei a coluna de Hugo na data certa, 12/07/2013
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