Evandro J.S. Oliveira |
Essa diatribe do nosso saudoso colaborador,
decorre da confirmação do grande calculista feirense Alberto Santana, em
referência ao desabamento da bela residência do senhor Pedro Falcão Vieira. É
importante descrever este prédio situada na av. Getúlio Vargas. Casa de andar,
predominando no térreo com amplo estacionamento de veículos e ao fundo toda a
área de serviço, cozinha, copa, dependências de empregados... na parte superior
sobre pilotis, era o ambiente nobre, quartos, sala de estar, living etc. A casa
ruiu inteirinha. Ficando intacta a parte de cima e amassando três veículos
luxuosos na parte térrea. Depois de várias discussões, sobre possíveis erros: de cálculo estrutural, construção, até da ousada arquitetura, finalmente
constatado falta de exame do solo, marca de problemas de construção em nossa
cidade, desde de muito tempo.
Como testemunho e conhecedor das ocorrências dos
contratempos decorrentes da nossa situação geológica atípica, mesmo não sendo
técnico em geologia, nem engenheiro, relato dezenas casos ouvidos e vividos.
Primeiro caso conhecido, me foi relatado pelo finado Prof. Joselito Amorim: “O feirense sempre ambicionou ter água encanada em nossa urbe. Certa vez trouxeram um entendido em água de subsolo. Um dia o conhecedor convidou pessoas da prefeitura, levou à meia-noite na Sales Barbosa, junto ao mercado, convidando aos presentes que colocassem o ouvido no chão e constatassem água correndo abaixo, muitos ouviram”. Foi a primeira vez que se falou que a água corria no subsolo.
O segundo caso também relatado por Amorim, foi em referência à quantidade do líquido: “houve uma notícia que um homem teria caído na fonte (cisterna), do antigo matadouro situado rua Santos Dumont junto praça João Barbosa. Gritaram, não ouviram resposta, então colocaram uma bomba para esgotar a água, mas não baixava o nível. Então o DNER dispôs um equipamento especial e levou vinte e quatro horas e só deu para que vissem não ter nenhum corpo dentro, quando a bomba parava por instante a água subia em quantidade.”
Depois do acidente com a casa de Pedro Falcão,
não tenho conhecimento de outros acontecimentos relacionados, a não ser
pequenos prejuízos como o vidro quebrado da Caixa Econômica sem explicação ou o
granito fissurado no prédio da antiga Casas Pernambucanas, indicando
movimentações no terreno.
Minhas duas experiencias como construtor. O
prédio de apartamentos de 3 pavimentos mais terraço, junto a prefeitura em 1962.
Até então só existiam três construções com peso maior ou equivalente em Feira de
Santana, Euterpe, INSS e o defronte ao Mercado de Artes, antiga Loja Sarkis,
que recentemente teve problemas de fundação. Com exceção, do INSS, que não sei como
foi construído, todas outras foram com “sapatas”.
Quando mais de dez anos depois construí o Hotel
Caroá, já não foi possível usar sapatas, foi necessário usar bate estacas. Deduzimos que naquela época o lençol de água estava subindo, lembrando o dito
de Hugo Silva. Para melhor entender, vamos a história do uso da água na Princesa
do Sertão.
Antigamente, usava-se a água do subsolo em nossa cidade. Dependendo da região era mais ou menos doce. As casas tinham fonte, e compravam água para beber e cozinhar, distribuídas em jegue (foto,1). Até que um pernambucano José Campos comprou um “caminhão pipa” vendendo água da sua chácara, defronte onde era o saudoso “Ponto do Zequinha”. Feira não tinha esgoto, a água servida tinha destino às fossas.
Foto.1 No início a água doce era transportada por jegues e mulas e vendidas de casa em casa como na figura acima. |
Na década de cinquenta foi inaugurada o sistema de água encanada capitada da Lagoa Grande. Posteriormente foi instalada a capitação pelo rio Paraguaçu, daí o entendimento, não tirando a água do subsolo e não esgotando via esgoto, levou a pensar a razão do lençol está subindo.
O Hotel Caroá chegou a escavar três fossas, e em três meses ficavaram inutilizadas por saturação. A primeira solução foi alugar carro pipa para esgotamento da fossa, chegou a ponto de ser necessário a retirada da água servida mensalmente. Então começou a ter algumas ruas com esgoto. A avenida Senhor dos Passos já tinha o sistema de esgotamento, mas a Getúlio Vargas, não. Fizemos, com a autorização da EMBASA, a ligação passando por nosso prédio entroncando na tubulação do esgoto da Senhor dos Passos.
Quando da construção do maior viaduto de nossa cidade, ligando a
BR 116 norte à avenida Contorno, Miraldo Gomes, as fundações deram com um mundo
de água. Foi necessário esgotar direcionando o líquido para a lagoa do “Geladinho”,
criando no local o “Parque Municipal Erivaldo Cerqueira”(foto.2).
Foto.2 Vista aérea do Parque Erivaldo Cerqueira e Lagoa do Geleadinho You Tub |
Trincheira Carlos Alberto Kruschewsky diferente do túnel não tem profundidade. Foto.3 Arquivo jornal Grandebahia |
Por último o problema com o prédio da antiga Loja Sarkis (foto.4), esquina
da praça da Bandeira com rua Sales Barbosa, interditaram o
imóvel e mais outras lojas vizinhas. Depois de vários estudos, decorridos mais
de ano foi autorizado a fazerem algumas intervenções, sem necessidade de derrubar
o prédio.
Foto.4 - Prédio que foi isolado até ser examinado por técnicos e atualmente está sendo reparado e voltara a funcionar |
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