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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 15 de setembro de 2020

O RACISMO SUTIL POR TRÁS DAS PALAVRAS

 Introdução

Você sabia que diversas expressões presentes no cotidiano dos brasileiros são racistas? É comum escutar, por exemplo, “vou dormir cedo que amanhã é dia de branco” ou “olha que mulata bonita”. Não se engane! Podem parecer simples “brincadeiras” ou “só jeito de falar”, mas essas palavras são ofensivas e têm origens na época colonial, quando os negros foram trazidos da África para serem escravizados no Brasil, um longo e triste período da nossa história e com consequências até hoje. Essa linguagem contribui para o processo de desqualificação dos negros, que representam a maioria da população brasileira, e reforçam no inconsciente coletivo da sociedade a relação preconceituosa entre negritude e negatividade. A maior parte dos brasileiros reproduz essas frases sem saber seus reais significados, contribuindo, mesmo que sem intenção, para a manutenção do racismo no país. Por isso, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), responsável pelas políticas de promoção da igualdade racial e de direitos humanos no Distrito Federal, elaborou esta cartilha, que tem como objetivo trazer informações para que os cidadãos possam refletir e riscar de vez o preconceito do vocabulário. A construção de uma sociedade com igualdade e sem discriminação pode começar pelo que você fala! Depois que aprender o preconceito por trás das palavras, alerte e conscientize as pessoas ao seu redor. Não é fácil mudar a cultura de uma nação onde a linguagem racista está tão naturalizada, mas com informação, mudanças de comportamentos e união poderemos enfrentar e acabar com o racismo. Junte-se a nós na luta por um DF com igualdade de oportunidades e respeito a todos os cidadãos!

Navio negreiro - wikipedia


A linguagem é um sistema de signos ou sinais que são utilizados para indicar, por meio da comunicação, ideias, valores e sentimentos. É possível apontar que a nossa linguagem é profundamente marcada pela cultura preconceituosa existente na nossa nação, visto que expressões racistas são constantemente naturalizadas e impregnadas nas estruturas das relações étnico-raciais. Estas buscam desqualificar e desaprovar a população negra de tudo que se associa a ela, minimizando a imagem social dos negros de forma que reproduz e reforça no inconsciente coletivo da sociedade brasileira a relação preconceituosa entre negritude e negatividade. Em contrapartida conotações positivas sempre são ligadas aos modelos e representações de pessoas brancas. Posto isto, torna-se necessário refletir sobre o preconceito existente por trás das palavras, que se apresentam por meio da linguagem que vem reafirmando a imagem social dos negros, em grande parte, em posições sociais subalternas sendo definidas a partir da visão europeia.

A dar com pau - substituir por Bastante

Expressão originou nos navios negreiros, quando escravizados negavam-se a comer durante a travessia até o Brasil, pois preferiam morrer a serem escravizados. Estes eram alimentados à força, por uma espécie de colher que lhe era colocada na boca e se jogava a comida.

Feito nas coxas - substituir por Mal feito

Antigamente, as telhas das casas eram moldadas nas coxas dos escravizados e como eles tinham corpos diferentes, as telhas não ficavam no mesmo formato e, por isso, estariam malfeitas por ficarem irregulares e mal encaixadas.

Mulata - substituir por Pardo(a)

A palavra se refere à mula, um animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da escravização, muitas escravizadas eram abusadas pelos “senhores” e acabavam engravidando. Os filhos eram chamados de mulatos por serem o resultado do cruzamento de um homem branco com uma mulher negra. Torna- se ainda mais pejorativa quando se diz “mulata tipo exportação”.

Criado mudo - substituir por Mesa de cabeceira[1] 

Era o escravizado que ficava em pé, ao lado da cama a noite inteira em silêncio, normalmente segurando água e objetos para servir os “senhores”.

Samba do crioulo doido – substituir por Confusão

Empregada com tom sátiro foi título do samba que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba retratarem fatos do país nos tempos da ditadura. No entanto, a expressão racista, reafirma um estereótipo negativo aos negros.

Crioulo/Negão - substituir por Preto/Negro[2]

Era a designação do filho de escravizados, é um termo extremamente pejorativo e discriminador do indivíduo negro ou afrodescendente.

Meia tigela - substituir por Mal feito, medíocre

A expressão vem da época da escravidão. Quando os escravos faziam o serviço ao agrado do dono, recebiam uma tigela cheia de comida e, aqueles que não faziam, recebiam a tigela pela metade, significando que o trabalho estava mal feito.

Tem caroço nesse angu - substituir por Aí tem coisa!

A expressão possui origem em um truque realizado pelos escravizados para melhor se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de fubá, o que acontecia com frequência, a escravizada que lhes servia por vezes conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu.

Bucho Cheio ou Encher o bucho - substituir por Bem alimentado, satisfeito

Durante o período da escravização, nas minas de ouro, os escravizados apenas se alimentavam quando conseguiam preencher com ouro um buraco na parede conhecido como “bucho”.

Lavei a égua - substituir por Querer se aproveitar/

se dar bem

Possui origem na exploração do ouro, quando os escravizados tentavam esconder algumas pepitas debaixo da crina do animal, ou esfregavam ouro em pó em sua pele, uma tentativa de poder comprar a sua liberdade. No entanto, era pedido para que se lavassem o animal, com o objetivo de recuperar o ouro escondido.

Negra(o) de traços finos/ beleza exótica/negra(o) bonita (o) – substituir por Bonita

A mesma lógica do clareamento, tratando o que está fora da estética eurocêntrica como incomum, ou a beleza mais próxima a essa estética como bonita.

 Cabelo ruim/ duro/pixaim/ cabelo de palha de aço - substituir por Cabelo afro, crespo, cacheado

Pixaim: Diz-se de ou cabelo muito crespo; pixa. O uso dessa palavra é pejorativo e ofensivo. (Fonte: Dicionário Michaelis)

Nhaca – substituir por Sujeira, forte odor

Desde o português do Brasil colônia vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro, forte odor, no entanto Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.

Doméstica - substituir por Trabalhadora/ Funcionária/

secretária do lar

 O termo possui origem nas mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domados.

Disputar a nêga – substituir por Desempatar

Possui sua origem não só na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escravizada negra.

Não sou tuas negas - substituir por Me respeite!

Faz referência as escravizadas que eram propriedade dos “senhores” e por isso lhes era permitido fazer qualquer coisa a elas.

 Amanhã é dia de branco - substituir por Segunda feira/dia de trabalho 

Expressão originada na ideia que não era considerado trabalho o desenvolvimento das atividades por escravizados, e que apenas pessoas brancas trabalhavam duro.

Preto de alma branca - substituir por Boa pessoa  

Tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência a dignidade dela como algo pertencente apenas as pessoas brancas.

Denegrir – substituir por Difamar

Possui raiz no significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.

A coisa tá preta - substituir por Situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa

Expressão racista que reflete a associação entre “preto” e aspectos negativos.

Serviço de preto - substituir por Tarefa malfeita/ realizada

de forma

Faz referência racista ao trabalho realizado pela população negra.

Mercado Negro - substituir por Mercado clandestino/lista proibida/ humor ácido/ rebeldia

Utilização da palavra “negra” como algo pejorativo, prejudicial, ilegal.

Nega Maluca - substituir por Bolo de chocolate

Nega-maluca é um bolo muito popular em Portugal e no Brasil. É feito com chocolate, farinha de trigo, açúcar e ovos. Normalmente, leva uma cobertura feita com chocolate e leite condensado, o brigadeiro.

Cor de Pele - substituir por Rosa Claro/Beje

Termo associado a cor de lápis ou giz de cera mais rosado, ou em tom de bege. Esse termo é errado pois evidencia a referência eurocêntrica de cor da pele associado a uma pessoa branca.

Inveja branca - substituir por Inveja é inveja, troque

por um elogio

Ideia do branco como algo positivo, associando o preto a comportamentos negativos.

Cor do pecado - Não utilizar

Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra hipersexualizada, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. Além disso, a Igreja Católica justificava a escravização por ser um castigo divino, pois considerava que ser negro era pecado.

Macumbeiro/Galinha de macumba/ Chuta que é macumba - Não utilizar

Expressão que discrimina as(os) praticantes de religiões de matriz africana.

Macumba

Macumbeiro: Macumbeiro é a pessoa que toca um instrumento musical chamado macumba (foto acima), portanto, a macumba (instrumento musical) existe para executar música. Termo usado incorretamente para fazer referência à pessoa que pratica atos religiosos espíritas. (Fonte: Dicionário Informal)

Origina: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios




[1] “Pequeno móvel que se coloca junto à cabeceira da cama; mesa de cabeceira.” (Fonte: Dicionário Michaelis).

[2] Crioulo: “Diz-se de ou negro nascido no Brasil.” (Fonte: Dicionário Michaelis).




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