Você sabia que diversas
expressões presentes no cotidiano dos brasileiros são racistas? É comum
escutar, por exemplo, “vou dormir cedo que amanhã é dia de branco” ou “olha que
mulata bonita”. Não se engane! Podem parecer simples “brincadeiras” ou “só
jeito de falar”, mas essas palavras são ofensivas e têm origens na época
colonial, quando os negros foram trazidos da África para serem escravizados no
Brasil, um longo e triste período da nossa história e com consequências até
hoje. Essa linguagem contribui para o processo de desqualificação dos negros,
que representam a maioria da população brasileira, e reforçam no inconsciente
coletivo da sociedade a relação preconceituosa entre negritude e negatividade.
A maior parte dos brasileiros reproduz essas frases sem saber seus reais
significados, contribuindo, mesmo que sem intenção, para a manutenção do
racismo no país. Por isso, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus),
responsável pelas políticas de promoção da igualdade racial e de direitos
humanos no Distrito Federal, elaborou esta cartilha, que tem como objetivo
trazer informações para que os cidadãos possam refletir e riscar de vez o
preconceito do vocabulário. A construção de uma sociedade com igualdade e sem
discriminação pode começar pelo que você fala! Depois que aprender o
preconceito por trás das palavras, alerte e conscientize as pessoas ao seu
redor. Não é fácil mudar a cultura de uma nação onde a linguagem racista está
tão naturalizada, mas com informação, mudanças de comportamentos e união
poderemos enfrentar e acabar com o racismo. Junte-se a nós na luta por um DF
com igualdade de oportunidades e respeito a todos os cidadãos!
Navio negreiro - wikipedia |
A linguagem é um sistema
de signos ou sinais que são utilizados para indicar, por meio da comunicação,
ideias, valores e sentimentos. É possível apontar que a nossa linguagem é
profundamente marcada pela cultura preconceituosa existente na nossa nação,
visto que expressões racistas são constantemente naturalizadas e impregnadas
nas estruturas das relações étnico-raciais. Estas buscam desqualificar e
desaprovar a população negra de tudo que se associa a ela, minimizando a imagem
social dos negros de forma que reproduz e reforça no inconsciente coletivo da
sociedade brasileira a relação preconceituosa entre negritude e negatividade.
Em contrapartida conotações positivas sempre são ligadas aos modelos e
representações de pessoas brancas. Posto isto, torna-se necessário refletir
sobre o preconceito existente por trás das palavras, que se apresentam por meio
da linguagem que vem reafirmando a imagem social dos negros, em grande parte,
em posições sociais subalternas sendo definidas a partir da visão europeia.
A dar com pau - substituir
por Bastante
Expressão originou nos
navios negreiros, quando escravizados negavam-se a comer durante a travessia
até o Brasil, pois preferiam morrer a serem escravizados. Estes eram
alimentados à força, por uma espécie de colher que lhe era colocada na boca e
se jogava a comida.
Feito nas coxas -
substituir
por Mal feito
Antigamente, as telhas das
casas eram moldadas nas coxas dos escravizados e como eles tinham corpos
diferentes, as telhas não ficavam no mesmo formato e, por isso, estariam
malfeitas por ficarem irregulares e mal encaixadas.
Mulata - substituir por Pardo(a)
A palavra se refere à
mula, um animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da
escravização, muitas escravizadas eram abusadas pelos “senhores” e acabavam engravidando.
Os filhos eram chamados de mulatos por serem o resultado do cruzamento de um
homem branco com uma mulher negra. Torna- se ainda mais pejorativa quando se
diz “mulata tipo exportação”.
Criado mudo - substituir por Mesa de cabeceira[1]
Era o escravizado que
ficava em pé, ao lado da cama a noite inteira em silêncio, normalmente
segurando água e objetos para servir os “senhores”.
Samba do crioulo doido – substituir por Confusão
Empregada com tom sátiro
foi título do samba que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba
retratarem fatos do país nos tempos da ditadura. No entanto, a expressão
racista, reafirma um estereótipo negativo aos negros.
Crioulo/Negão - substituir por Preto/Negro[2]
Era a designação do filho
de escravizados, é um termo extremamente pejorativo e discriminador do
indivíduo negro ou afrodescendente.
Meia tigela - substituir por Mal feito, medíocre
A expressão vem da época
da escravidão. Quando os escravos faziam o serviço ao agrado do dono, recebiam
uma tigela cheia de comida e, aqueles que não faziam, recebiam a tigela pela
metade, significando que o trabalho estava mal feito.
Tem caroço nesse angu - substituir por Aí tem coisa!
A expressão possui origem em um truque realizado pelos escravizados para melhor se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de fubá, o que acontecia com frequência, a escravizada que lhes servia por vezes conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu.
Bucho Cheio ou Encher o bucho - substituir por Bem alimentado, satisfeito
Durante o período da
escravização, nas minas de ouro, os escravizados apenas se alimentavam quando
conseguiam preencher com ouro um buraco na parede conhecido como “bucho”.
Lavei a égua - substituir por Querer se aproveitar/
se dar bem
Possui origem na
exploração do ouro, quando os escravizados tentavam esconder algumas pepitas
debaixo da crina do animal, ou esfregavam ouro em pó em sua pele, uma tentativa
de poder comprar a sua liberdade. No entanto, era pedido para que se lavassem o
animal, com o objetivo de recuperar o ouro escondido.
Negra(o) de traços finos/ beleza exótica/negra(o) bonita (o) – substituir por Bonita
A mesma lógica do
clareamento, tratando o que está fora da estética eurocêntrica como incomum, ou
a beleza mais próxima a essa estética como bonita.
Cabelo ruim/ duro/pixaim/ cabelo de palha de aço - substituir por Cabelo afro, crespo, cacheado
Pixaim: Diz-se de ou
cabelo muito crespo; pixa. O uso dessa palavra é pejorativo e ofensivo. (Fonte:
Dicionário Michaelis)
Nhaca – substituir por Sujeira, forte odor
Desde o português do
Brasil colônia vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro, forte odor, no
entanto Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os
povos Nhacas, um povo Ban.
Doméstica - substituir por Trabalhadora/ Funcionária/
secretária do lar
O termo possui origem nas
mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram
consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por
isso precisavam ser domados.
Disputar a nêga – substituir por Desempatar
Possui sua origem não só
na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando os “senhores”
jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escravizada negra.
Não sou tuas negas - substituir por Me respeite!
Faz referência as
escravizadas que eram propriedade dos “senhores” e por isso lhes era permitido
fazer qualquer coisa a elas.
Amanhã é dia de branco - substituir por Segunda feira/dia de trabalho
Expressão originada na
ideia que não era considerado trabalho o desenvolvimento das atividades por
escravizados, e que apenas pessoas brancas trabalhavam duro.
Preto de alma branca - substituir por Boa pessoa
Tentativa de elogiar uma
pessoa preta fazendo referência a dignidade dela como algo pertencente apenas
as pessoas brancas.
Denegrir – substituir por Difamar
Possui raiz no
significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma
reputação antes “limpa”.
A coisa tá preta - substituir por Situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa
Expressão racista que reflete
a associação entre “preto” e aspectos negativos.
Serviço de preto - substituir por Tarefa malfeita/ realizada
de forma
Faz referência racista ao
trabalho realizado pela população negra.
Mercado Negro - substituir por Mercado clandestino/lista proibida/ humor ácido/ rebeldia
Utilização da palavra
“negra” como algo pejorativo, prejudicial, ilegal.
Nega Maluca - substituir por Bolo de chocolate
Nega-maluca é um bolo
muito popular em Portugal e no Brasil. É feito com chocolate, farinha de trigo,
açúcar e ovos. Normalmente, leva uma cobertura feita com chocolate e leite
condensado, o brigadeiro.
Cor de Pele - substituir por Rosa Claro/Beje
Termo associado a cor de
lápis ou giz de cera mais rosado, ou em tom de bege. Esse termo é errado pois
evidencia a referência eurocêntrica de cor da pele associado a uma pessoa
branca.
Inveja branca - substituir por Inveja é inveja, troque
por um elogio
Ideia do branco como algo
positivo, associando o preto a comportamentos negativos.
Cor do pecado - Não utilizar
Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra hipersexualizada, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. Além disso, a Igreja Católica justificava a escravização por ser um castigo divino, pois considerava que ser negro era pecado.
Macumbeiro/Galinha de
macumba/ Chuta
Expressão que discrimina
as(os) praticantes de religiões de matriz africana.
Macumba |
Macumbeiro: Macumbeiro é a pessoa que toca um instrumento musical chamado macumba (foto acima), portanto, a macumba (instrumento musical) existe para executar música. Termo usado incorretamente para fazer referência à pessoa que pratica atos religiosos espíritas. (Fonte: Dicionário Informal)
Origina: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
[1] “Pequeno
móvel que se coloca junto à cabeceira da cama; mesa de cabeceira.” (Fonte:
Dicionário Michaelis).
[2] Crioulo:
“Diz-se de ou negro nascido no Brasil.” (Fonte: Dicionário Michaelis).
Nenhum comentário:
Postar um comentário