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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 1 de setembro de 2020

LIVRO CONTA COMO O BRASIL SUPEROU RACISMO PARA VENCER COPA DO MUNDO DE 1958

Evandro J.S. Oliveira

A mais de meio século que tive conhecimento de um caso de racismo no futebol brasileiro. Mas o que me causou espanto, de apesar de achar um tema muito importante, não tinha visto nada sobre o assunto na mídia. Cheguei a duvidar da história, perguntava a personagens importantes do futebol, Aimoré Moreira, este nem deu atenção, Orlando zagueiro da seleção de 58, disse que sabia da conversa, mas não tinha detalhes. Em suma não existia importância, eu estava "viajando" dando importância demasiada, nem quando contava a história a jornalistas, radialistas... desdenhavam do episódio. Só que aí, assistindo uma série sobre o presidente Juscelino Kubchek, vi uma passagem que sita indiretamente o problema do racismo na seleção.

 Seleção de 58 em Araxá Foto:
 Cássio dos Santos Júnior/Arquivo Pessoa
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O santanopolitano Alberto Oliveira Filho e jornalista Helival Rios, me enviaram a foto da equipe de 1958. Respondi aos dois com o resumo dos comentários acima.

Fiz uma postagem no blog Santanópolis, 14.05.2014, contando a estória (dado o mutismo da imprensa): Ver postagem 

Posteriormente, Helival mandou a postagem abaixo, quno  momento em que o esporte mundial criou o maior vetor antissegregacionista, estamos publicando.

"Se o negro tem o espaço e o respeito que tem hoje no futebol brasileiro, foi por causa dessa Copa, da conquista de 1958"


A frase foi dita por Fábio Mendes, jornalista de Jacareí e autor do livro "Campeões da Raça - Os Heróis Negros da Copa de 1958". A obra aborda o tema do racismo no futebol brasileiro, principalmente na década de 50, e relembra como os jogadores negros do elenco campeão de 1958, na Suécia, quase ficaram de fora do time titular devido ao preconceito. A conquista completa 60 anos nesta sexta-feira, 29.

Para se ter uma ideia, atletas que foram fundamentais na conquista como Garrincha e Djalma Santos só se tornaram titulares ao longo do torneio. Uma das exceções foi Didi. Eleito melhor atleta da Copa, ele foi titular desde o início, apesar da cor da pele. Pelé se recuperava de uma lesão e assumiu a titularidade na terceira partida.

Da esquerda para a direita: Djalma Santos, Didi e Pelé,
 fundamentais na conquista do título — Foto: Arquivo / O Globo

 
O livro foi escrito com base em relatos de ex-jogadores, jornalistas e dirigentes que vivenciaram esse preconceito. Entre eles, Pepe, que participou da conquista. Luiz Carlos Barreto, Paulo Planet Buarque e Orlando Duarte fizeram a cobertura do primeiro título mundial.

O racismo no futebol brasileiro na década de 50 foi aflorado, principalmente, após o fatídico Maracanaço, onde o goleiro negro da seleção, Moacir Barbosa, falhou em um dos gols da final contra o Uruguai. Até o título de 58, os jogadores negros eram tachados como psicologicamente inferiores aos brancos.

- O que se acreditava era que os jogadores negros não tinham estruturas emocionais para partidas decisivas. Então, por melhor que eles fossem tecnicamente, taticamente, fisicamente, eles iam tremer e amarelar em algum momento e iam colocar tudo a perder. Foi essa a explicação que se deu para as derrotas do Brasil em 50 e em 54. Todo mundo errou. Cartolas, os técnicos, todos os jogadores em algum ponto falharam, mas a culpa ficou só com os jogadores negros. O que mais me chamou a atenção era de como isso era falado de forma natural até na época - explica o autor.

Fábio conta que uma das principais razões que o motivou a escrever o livro foi o fato de jogadores do nível de Garrincha e Djalma Santos terem amargado a reserva no início do Mundial. 

- Uma das histórias que mais me intrigava e me encantava ao mesmo tempo é a de dois caras como o Pelé e o Garrincha, que eram excepcionais, e mais o Djalma Santos, que era o melhor do mundo da posição na época, terem ficado na reserva mas depois terem dado a volta por cima, superado a reserva e ajudarem o Brasil a ganhar a Copa. Sem eles, o Brasil não ganharia aquela copa de jeito nenhum. Achei que era uma oportunidade de eu escrever a história. Eu mesmo corri atrás e fui fazer - contou. 

Final da copa de 1958 Video de lances do jogo de Suécia X Brasil

Além da Copa de 58, o livro aborda histórias da década de 50 em geral, com relatos detalhados da árdua jornada percorrida pelos atletas negros até o primeiro título mundial, vencendo o preconceito através do talento com a bola no pé.

 

- Eu conto um pouco dos problemas que ocorreram nas copas de 50, 54 e também numa excursão que o Brasil fez em 56 que, de certa forma, deram respaldo pro racismo que ocorreu em 58. Vou contando jogo por jogo, semana por semana, o que acontece, desde a convocação até a final onde o Brasil é finalmente campeão. Conto as dificuldades, o racismo velado que havia na época, até o momento que o Brasil deixa isso de lado e resolve escalar os melhores jogadores e dá show - afirmou.

 

A Copa do Mundo de 1958 foi um marco na história do futebol brasileiro. Através da conquista, o prestígio de jogadores negros passou a existir. Para Fábio, é até difícil imaginar em que patamar que o futebol nacional estaria caso a seleção saísse derrotada do Mundial daquele ano.

 

- A conquista da Copa de 58 serviu para derrubar aquela tese de que o jogador negro tremia em jogos decisivos. Afinal, quem segurou a bronca, segurou a bucha, foram eles. Eu acho que se o negro tem espaço e o respeito que tem hoje no futebol brasileiro, foi por causa dessa Copa, da conquista de 58. Não que eles não fossem mais convocados, não fossem chamados, mas, sem esse título, continuaria havendo muitos negros jogando, mas, com certeza, não teria nem um décimo do prestígio e importância que tem hoje - disse.

 Um dos casos relatados na obra, que ajuda a exemplificar o preconceito vivido naquele tempo, fala de uma excursão da delegação brasileira na europa, em Viena. Durante uma visita da equipe nas residências de antigos mestres da música erudita, o massagista da seleção, Mário Américo, reclamou ao médico, Amilcar Giffoni, sobre a presença dos negros naquele ambiente. 

- Não acho isso direito, não. Obrigação uma ova. Isso é uma guerra de nervos. Quando vão no Brasil ninguém vai levá-los pra ver a casa onde morou Perácio, o apartamento onde morou Heleno, o bilhar onde jogava Leônidas da Silva... - disse o massagista na época. 

Apesar do triunfo brasileiro e a grande contribuição à época, o titulo daquele mundial não foi o suficente para acabar com o racismo no esporte mais popular do país. Fábio afirma que o problema é um reflexo da sociedade em que vivemos.  


                           Com Garrincha e Pelé juntos, Seleção nunca foi derrotada

                                    — Foto: Reprodução TV Globo

 


Além da Copa de 58, o livro aborda histórias da década de 50 em geral, com relatos detalhados da árdua jornada percorrida pelos atletas negros até o primeiro título mundial, vencendo o preconceito através do talento com a bola no pé.

 - Eu conto um pouco dos problemas que ocorreram nas copas de 50, 54 e também numa excursão que o Brasil fez em 56 que, de certa forma, deram respaldo pro racismo que ocorreu em 58. Vou contando jogo por jogo, semana por semana, o que acontece, desde a convocação até a final onde o Brasil é finalmente campeão. Conto as dificuldades, o racismo velado que havia na época, até o momento que o Brasil deixa isso de lado e resolve escalar os melhores jogadores e dá show - afirmou.

 A Copa do Mundo de 1958 foi um marco na história do futebol brasileiro. Através da conquista, o prestígio de jogadores negros passou a existir. Para Fábio, é até difícil imaginar em que patamar que o futebol nacional estaria caso a seleção saísse derrotada do Mundial daquele ano.

- A conquista da Copa de 58 serviu para derrubar aquela tese de que o jogador negro tremia em jogos decisivos. Afinal, quem segurou a bronca, segurou a bucha, foram eles. Eu acho que se o negro tem espaço e o respeito que tem hoje no futebol brasileiro, foi por causa dessa Copa, da conquista de 58. Não que eles não fossem mais convocados, não fossem chamados, mas, sem esse título, continuaria havendo muitos negros jogando, mas, com certeza, não teria nem um décimo do prestígio e importância que tem hoje - disse.

Um dos casos relatados na obra, que ajuda a exemplificar o preconceito vivido naquele tempo, fala de uma excursão da delegação brasileira na europa, em Viena. Durante uma visita da equipe nas residências de antigos mestres da música erudita, o massagista da seleção, Mário Américo, reclamou ao médico, Amilcar Giffoni, sobre a presença dos negros naquele ambiente.

- Não acho isso direito, não. Obrigação uma ova. Isso é uma guerra de nervos. Quando vão no Brasil ninguém vai levá-los pra ver a casa onde morou Perácio, o apartamento onde morou Heleno, o bilhar onde jogava Leônidas da Silva... - disse o massagista na época.

 Apesar do triunfo brasileiro e a grande contribuição à época, o titulo daquele mundial não foi o suficente para acabar com o racismo no esporte mais popular do país. Fábio afirma que o problema é um reflexo da sociedade em que vivemos.

- O racismo está longe de acabar no futebol por um motivo muito simples: ele está longe de acabar na sociedade. Uma coisa que a gente precisa aprender é que o esporte não está desassociado da nossa vida cotidiana. Então existe preconceito racial, existe homofobia, preconceito de classe, vários preconceitos em toda a sociedade, e o esporte, de uma forma ou de outra, acaba refletindo nisso. O melhor exemplo foi que recentemente o Edílson, ex-jogador, e que é negro, falou com todas as palavras numa rede de TV, em rede nacional, que goleiro negro falha porque é negro. Não falha porque ele, indivíduo, falhou, mas por causa da condição de cor dele. Então por aí você vê que é um assunto que o impacto foi minimizado, mas ele não foi totalmente excluído - concluiu.


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