“MEMÓRIAS DE ARNOLD
FERREIRA DA SILVA"
Organizado pelos santanopolitanos, Carlos Alberto Almeida Mello e Carlos Alberto Oliveira Brito e editado "Fundação Senhor dos
Passos". Núcleo de Preservação da Memória Feirense - Rollie E Poppino.
Dia de hoje
no tempo:
1903 - Está em exercício das funções de comissário de polícia do termo o alferes do regimento policial José Joaquim da Silveira, qu substituiu, nesse posto, o alferes justino Marques de Freitas.
* Afinal, quem é LÉLIS PIEDADE?
Escolhi Lélis
Piedade para iniciar esta série de curiosas investigações sobres os
"ilustres desconhecidos" que fazem parte diariamente de nossas vidas,
mas que nunca nos damos conta de quem foram ou o que fizeram estes cidadãos.
No caso deste, que
dá nome a uma das principais ruas do bucólico bairro da Ribeira, na Cidade
Baixa (Salvador/BA), já foi complicado pra começar... Pouca coisa encontrei
sobre sua vida, apenas que foi um jornalista, que redigia para o Jornal de
Notícias, de Salvador. No entanto, as minhas pesquisas me direcionaram para uma
importante passagem da vida deste homem, melhor dizendo, de todos nós
brasileiros, a Guerra de Canudos. Mais precisamente do pós-guerra. Acho que
poucas pessoas tem noção do massacre que aconteceu em Canudos, comunidade
independente que vivia sob as ideias utópicas de Antônio Conselheiro. No auge
de sua glória, Canudos chegou a ter 35 mil sertanejos vivendo em seus limites.
E no quarto ataque do governo federal à rebelde vila, a cidade de Conselheiro
foi arrasada, nem idosos e crianças foram poupados. Mas o que já parecia cruel,
ficou ainda pior. Os poucos sobreviventes, especialmente as mulheres, crianças
e adultas, foram literalmente arrastadas e forçadas a trabalhar como empregadas
domésticas e outras, absurdamente estupradas e largadas em zonas de
prostituição. Lembrem-se que eu disse que "meninas" eram essas
vítimas. Um repórter chega ao ponto de narrar para o seu jornal que encontrou
um "jaguncinha com belos cabelos loiros e olhos azuis" e que a
levaria para o Rio, como lembranças de Canudos. E é aí que entra o nosso
personagem, que também levou sua "jaguncinha" para casa.
Sobreviventes de
Canudos
“Pelas crianças,
porém, notadamente por elas, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. E
pesa-nos dize-lo que grande parte dos menores reunidos pela comissão, dentre
eles meninas pobres e mocinhas, se achavam em casa de quitandeiras e
prostitutas. Foi, pois, para lamentar, a distribuição indevida das crianças,
sendo muitas remetidas para vários pontos do Estado e para esta capital, como
uma lembrança viva de Canudos ou como um presente.”
Portanto, a
maioria dos jornalistas da época também eram contra as atividades de
Conselheiro e sua comunidade, pois, erroneamente, acreditavam que estes
defendiam a volta da monarquia. As notícias eram deturpadas de tal maneira, que
criaram a imagem de que os pobres e famintos sertanejos eram "inimigos da
pátria". Porém Lélis Piedade, através de suas reportagens,
denuncia os desmandos do exército, dos coronéis e até de médicos, que se
recusavam a atender as mulheres advindas de Canudos. Assim foi criado o Comitê
Patriótico da Bahia, afim de prestar assistência beneficente as estas pobres
criaturas. O Comitê era dirigido por nosso personagem. Ele conseguiu, assinando
vários salvo-condutos, salvar muitas dessas sofridas almas. Não sei,
entretanto, se o mesmo ofereceu o tal documento para a "jaguncinha"
que tirou à força da mãe, com o intuito de "protegê-la", para não
cair na prostituição, segundo ele e outros colegas de profissão. Segue trecho
do relatório do Comitê:
Armando Algum Sendo assim, eu
poderia me estender com inúmeras histórias deste povo guerreiro, que lutou até
o fim, sem nunca se entregar, com muita honra e coragem. Nem a ausência de
Antônio Conselheiro, que morrera dias antes de doença, arrefeceu o brio destes
bravos homens, que apenas queriam uma condição mais digna para viver. Nada mais
que isso, prova disso é que os cadáveres dos soldados e militares, mumificados
pela seca, permaneceram intactos, e ficando em seus bolsos, seus valores em
dinheiro. A cidade hoje se encontra submersa por uma represa. Mas a realidade
pouco mudou. A nova Canudos, município com 15 mil habitantes, é uma das cidades
mais pobres da Bahia, segundo trabalho de levantamento da UNEB. Rui Barbosa
escreveu sobre o genocídio, em texto pouco conhecido. Segue trecho:
“Pelas crianças,
porém, notadamente por elas, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. E
pesa-nos dize-lo que grande parte dos menores reunidos pela comissão, dentre
eles meninas pobres e mocinhas, se achavam em casa de quitandeiras e
prostitutas. Foi, pois, para lamentar, a distribuição indevida das crianças,
sendo muitas remetidas para vários pontos do Estado e para esta capital, como
uma lembrança viva de Canudos ou como um presente.”
"Felizes os
nossos companheiros, que morreram arrostando os leões; nós acabamos às garras
das hienas".
http://armandoalguma.blogspot.com/2013/05/afinal-quem-e-lelis-piedade.html
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