Carlos P. Novaes |
Apurar o valor de π (Pi) , a constante que expressa a razão entre a circunferência e o diâmetro de um círculo, é algo que supercomputadores fazem sempre, alcançando o já conhecido 3,14, mas seguido de infinitas casas decimais. Carl-Johan Haster, astrofísico teórico do Massachussets Institute of Techonology (MIT) chegou a um número ligeiramente diferente: 3,115.
Essa imprecisão não é nada, dada a
real intenção do pesquisador: testar a Teoria Geral da Relatividade de
Einstein, que liga a gravidade à dinâmica do espaço e do tempo. O resultado de
seu trabalho foi publicado no repositório de artigos científicos ar.Xiv.org.
Ondas gravitacionais são aquelas
geradas no espaço-tempo quando objetos maciços, como buracos negros ou estrelas
massivas, são formados.
Variável, não constante
Ao estudá-las, Haster (que colabora
no Observatório de Ondas Gravitacionais com Interferômetro a Laser – LIGO,
acrônimo em inglês), notou que Pi aparecia nos termos de uma equação que
descreve sua propagação.
Apesar de Pi ser uma constante, o
astrofísico usou o número como uma variável (de maneira similar às equações em
que precisamos achar o valor de x ou de y) e tentou determinar seu valor a
partir das observações das ondas gravitacionais. Haster usou os dados de 22
ondas gravitacionais observadas pelo LIGO e mostrou que Pi tem um valor
provável de 3,115.
“A teoria de Einstein ainda não
parece precisar de ajustes. Para mim, o estudo produziu um teste válido e
bastante forte da relatividade geral", diz Haster.
A equação de Haster usou Pi como uma
variável e não, como uma constante.Fonte: Carl-Johan Haster/Divulgação
Entender por que o valor de Pi
aparece em equações para deduzir o caminho de ondas gravitacionais é um pouco
mais complicado, principalmente porque as ondas interagem entre si. Colega de
Haster e a física teórica da Universidade Johns Hopkins, Emanuele Berti
explica:
“Ao jogar uma pedra em um lago, ela
vai provocar ondulações na água. Ao atirar outra, a superfície do lago não
estará mais lisa, já que as ondas provocadas pela primeira pedra ainda estarão
se propagando e interferindo nas novas ondulações. As ondas gravitacionais
funcionam da mesma maneira: quando elas viajam, passam pela curvatura do
espaço-tempo gerada pelas ondas gravitacionais produzidas no passado."
Estrelas de nêutrons serão as próximas
Não é a primeira vez que Pi e o
trabalho de Einstein estão entre os estudos feitos por pesquisadores do LIGO.
Em 2016, uma pesquisa testou a relatividade geral usando Pi em outra abordagem.
E, como antes, a questão levantada é a mesma: a incerteza relativa dos valores
encontrados (no caso de Haster, variando entre 3,027 a 3,163).
Para refinar esse resultado e chegar
ao valor matemático aceito, será preciso observar objetos mais leves. Estrelas
de nêutrons devem ser as escolhidas, já que as ondas gravitacionais que emanam
delas chegam a durar 300 vezes mais do que as geradas por buracos negros
maciços.
Pi no espaço desde o início
Para alguns matemáticos, aumentar a
sequência conhecida é um passatempo mas, para a astrofísica, Pi é mais do que
diversão. Segundo a Nasa, a
sequência é usada, entre outras coisas, para:
- 1.
determinar o tamanho do paraquedas das sondas enviadas ao solo de Marte;
- 2.
fazer a sonda Cassini conseguir melhores ângulos de Saturno e de sua lua
Titã;
- 3.
mapear planetas conhecidos e inexplorados;
- 4.
descobrir mundos potencialmente habitáveis orbitando estrelas conhecidas;
- 5.
colocar naves espaciais em órbita;
- 6
rastrear os movimentos dos asteroides;
- 7.
elaborar as equações matemáticas necessárias para dirigir sondas,
veículos e telescópios espaciais, bem como se comunicar com eles;
- 8.
calcular a largura do feixe do laser que atingirá gelo
alienígena a ser analisado;
- 9.
estudar crateras;
- 10. revelar do que são feitos os asteroides.
Original: Pi elevado ao espaço confirma Einstein
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